A Revelação Templária – 8B – Este é um lugar terrível (Terribilis est locus iste) – Templários, os Guardiões Secretos da Verdadeira Identidade de Cristo
Mas, se o sacerdote não encontrou pergaminhos, talvez encontrasse algum tipo de tesouro – como muitas pessoas firmemente acreditam. Encontrou, certamente, um pequeno esconderijo de moedas e jóias antigas, na igreja, mas, como toda a área é rica em achados arqueológicos, tal descoberta dificilmente teria despertado o interesse que rodeou a história de Saunière. Muitas pessoas acreditam que ele descobriu uma verdadeira caverna de Saladino, com um suntuoso tesouro, que nem ele nem os seus simpáticos amigos conseguiram esbanjar, e que parte dele ainda ali se encontra, à espera de ser descoberto por algum investigador com iniciativa.
Edição e imagens: Thoth3126@gmail.com
Capítulo 08 B – ESTE É UM LUGAR TERRÍVEL – Livro “The Templar Revelation – Secret Guardians of the True Identity of Christ”, de Lynn Picknett e Clive Prince.
CAPÍTULO VIII – B – “ESTE É UM LUGAR TERRÍVEL” (Terribilis est locus iste)
Foi sugerido que o complicado simbolismo da igreja, juntamente com as várias mensagens codificadas, como a das «Maçãs Azuis», se destinavam a dar pistas ao investigador com iniciativa quanto ao lugar onde se encontrava o resto do tesouro.
Embora esta noção possa ser romântica, ela é absurda. Em primeiro lugar, este cenário não consegue explicar os seus recorrentes problemas de liquidez; em segundo lugar, ele elaborava os chamados mapas de tesouro – o simbolismo da igreja -, o que não era uma atitude muito inteligente, se ele tencionava reservar a riqueza para si. Por último, se a igreja é, essencialmente, um enorme mapa do tesouro, então o simbolismo usado é extremamente bizarro e esotérico.
Se ele queria reservar o dinheiro para si, dificilmente teria desenhado um mapa (embora fosse arcano) do tesouro, para consumo público, e se ele queria que apenas certas pessoas o encontrassem, então por que não as informou? E o fato de ter encontrado o tesouro dificilmente explicaria a razão por que as pessoas ricas e influentes o desejavam visitar na sua remota paróquia, na encosta da colina.
Segundo tudo indica, parece que Saunière estava sendo pago por alguém, por alguma coisa – algum serviço que implicava a sua estada em Rennes-le-Château, onde ele insistia em viver, mesmo depois de receber ordens para se afastar. As suas atividades revelam que ele procurava, definitivamente, alguma coisa: as suas escavações noturnas no cemitério, os demorados passeios pelas imediações e mesmo as viagens mais demoradas a lugares mais afastados, que duravam vários dias seguidos.
Mas era tão importante que o julgassem ainda em Rennes-le-Château que, durante as suas ausências, Marie Dénarnaud enviava regularmente cartas já preparadas em resposta à correspondência recebida, insinuando que ele estava apenas demasiado ocupado, naquele momento, para responder pessoalmente. (Após a sua morte, foram encontradas algumas destas respostas em série entre os seus papéis pessoais.)
Um novo aditamento à história de Saunière surgiu em 1995, quando o esoterista André Douzet apresentou uma maquete, ou modelo em estuque, representando uma paisagem em relevo, que Saunière supostamente lhe encomendara pouco tempo antes da sua morte. O modelo apresenta colinas e vales, atravessados pelo que parecem ser estradas ou rios. Há um único edifício quadrado na encosta de uma colina. Aparentemente, ela representa a área em redor de Jerusalém, porque são indicados lugares bíblicos, como o jardim de Getsemani e o Gólgota. Contudo, a paisagem da maquete não corresponde, de modo algum, à de Jerusalém: talvez represente, de fato, a área que circunda Rennes-le-Château. Teria Saunière planejado transformar a sua terra natal na Nova Jerusalém?
É possível passar uma vida inteira a estudar as possibilidades do mistério de Rennes-le-Château: na verdade, talvez seja essa a sua função – ser uma famosa pista falsa. Porque, apesar da sua indubitável importância, ela desvia a atenção das implicações de outras pistas, igualmente sugestivas, da área circundante.
Outros sacerdotes das paróquias vizinhas estavam implicados no caso, incluindo o superior de Saunière, Félix-Arsène Billard, bispo de Carcassonne. Alegadamente, ele enviou Saunière a Paris e fingiu ignorar o seu comportamento excêntrico e escandaloso. (Foi depois da morte de Billard, em 1902, e da nomeação do seu sucessor, que foi instaurado um processo contra Saunière.) E o próprio Billard estava envolvido em algumas transações financeiras duvidosas.
O mais famoso deste grupo de sacerdotes que rodeavam Saunière é o abade Henri Boudet (1837-1915), que era pároco de Rennes-le-Château desde 1872. Um homem sensato, erudito e reservado – temperamentalmente, o verdadeiro oposto de Saunière -, também ele se entregava a estranhas atividades. Em 1886, publicou um livro bizarro, Le vraie langue celtique et le cromleck de Rennes-les-Bains (A Verdadeira Língua Celta e o Cromlech de Rennes-les-Bains), que sempre deixou os investigadores perplexos.
Aparentemente, o livro trata dois temas: uma perversa teoria de que muitas línguas antigas – céltico, hebraico, etc. – derivam do anglo-saxônico, incluindo exemplos absurdos de topônimos das imediações de Rennes-les-Bains que, segundo ele, provinham de radicais ingleses; e uma descrição de vários monumentos megalíticos da área. Boudet era um respeitado historiador e antiquário local, e as teorias que ele propunha eram tão inverossímeis que muitas pessoas concluíram que elas deviam esconder uma mensagem mais profunda e secreta – uma contrapartida literária da decoração da igreja de Saunière.
Segundo algumas sugestões, as duas completavam-se e, quando reunidas, codificavam as instruções para encontrar o «tesouro». Se é assim, ninguém chegou a uma decifração satisfatória e o livro de Boudet é tão intrigante agora como quando foi publicado. Mas as suas outras atividades também decorrem paralelas às de Saunière, porque se sabe que ele alterou inscrições das sepulturas do cemitério da sua paróquia e mudou a posição dos marcos limítrofes da área.
Algumas pessoas consideram Boudet como o mestre que inspirou a construção dos edifícios de Saunière, e têm surgido sugestões, como a de Pierre Plantard de Saint-Clair – até agora não provada -, de que Boudet era o «pagador» de Saunière. Mas Boudet é também significativo para outro protagonista importante deste complexo mistério: o próprio Pierre Plantard de Saint-Clair escreveu o prefácio de uma edição fac-similada (1978) de Le vraie langue celtique et le cromleck de Rennes-les-Bains e possui terras próximas de Rennes-les-Bains. Também se pode ver, no cemitério da velha igreja de Boudet, uma placa indicadora do talhão que Plantard de Saint-Clair reservou para si.
O outro clérigo contemporâneo de Saunière era o abade Antoine Gélis, que era pároco da aldeia de Constassa, situada defronte de Rennes-le-Château, na outra margem do rio Sals. A 1o de Novembro de 1897, o velho Gélis (então com 70 anos) foi encontrado selvaticamente assassinado, tendo morrido devido a repetidas e graves pancadas na cabeça, aparentemente desferidas por um assaltante que ele deixara entrar no presbitério e com o qual estava a conversar. Gélis era amigo de Saunière – este regista um encontro com ele e com várias pessoas, no seu diário de 29 de Setembro de 1891, apenas oito dias depois do registo relativo à «descoberta de um túmulo».
No período que antecedeu o seu assassinato, Gélis, aparentemente, vivia com medo, mantendo a porta fechada à chave e recebendo apenas a sobrinha, que lhe trazia as refeições. Recentemente, recebera uma grande soma de dinheiro – $ 14.000 francos -, que ninguém soube explicar. Escondera-o em sua casa e na igreja e encontraram-se papéis pessoais que revelaram os esconderijos. Virtualmente, no entanto, todo o dinheiro se encontrava ali depois do seu assassinato. O criminoso – que nunca foi descoberto – deixara ficar quase $ 800 francos, que se encontravam em casa. Mais estranho ainda, ele amortalhou ritualmente o corpo, cruzando-lhe os braços sobre o peito e deixando um pedaço de papel em que estavam escritas as palavras: «Viva Angelina.» Nunca se descobriu o motivo para este crime.
Há dois elementos particularmente estranhos entrelaçados no assassinato de Gélis. A sua pedra tumular, no cemitério de Constassa, fora colocada – a única de todas as sepulturas – de modo a ficar voltada para Rennes-le-Château, que é claramente visível na encosta da colina fronteira. E, embora este brutal assassinato de um idoso e frágil sacerdote chocasse a população local, a diocese parecia querer que o assunto fosse esquecido tão depressa quanto possível. Quando Gérard de Sède tentou investigá-lo, no princípio dos anos 60, não encontrou nenhum registo do crime nos arquivos diocesanos de Carcassonne. Apenas em 1975, dois advogados reconstituíram a história a partir dos registos da Polícia e do Tribunal locais.
Foi mesmo sugerido que Saunière era responsável pela morte de Gélis, mas isso é mera especulação. Parece, no entanto, que se passava alguma coisa sinistra na região que envolvia os sacerdotes locais e que ultrapassava os limites de Rennes-le-Château.
Sem dúvida que a aldeia de Rennes-le-Château é importante por si mesma, mas talvez lhe tenha sido atribuída demasiada importância porque toda a região circundante está também impregnada de mistério. A maioria dos investigadores reconhecem o fato de existirem outros lugares igualmente fascinantes e estranhos nas imediações, mas têm tendência a considerá-los como um pano de fundo para a história de Saunière. Mas, se ele fez uma descoberta, há muitos lugares onde a podia ter feito. Além das suas várias e prolongadas ausências da aldeia, por vezes durante dias ou mesmo semanas, ele também era conhecido por dar longos passeios pelas redondezas. (E as suas entusiásticas excursões de caça e pesca também podiam encobrir outras atividades.)
Os Dossiers secrets informam apenas que Saunière estivera trabalhando para o Priorado de Sião, mas há alguma prova da influência deste na área circundante? Vimos que Pierre Plantard de Saint-Clair possui terras nas proximidades de Rennes-le-Château e que comprou ali um talhão do cemitério, mas as aparentes preocupações da organização refletem-se, de fato, na área? Dada a extraordinária cultura cruzada de sociedades secretas do Languedoc, seria extraordinário que não se refletissem.
De fato, um estudo da área próxima de Rennes-le-Château fornece indicações não só quanto ao Priorado mas também sobre uma tradição secreta, mais vasta – aquela que suspeitávamos que podia existir. Iríamos verificar que o que se podia chamar a Grande Heresia européia – a extrema veneração, mesmo o culto disfarçado de Maria Madalena e de João Batista – está aqui bem representado.
Há uma notável proliferação de igrejas dedicadas a João Batista nesta região. Muitas vezes, encontram-se em grupos – por exemplo, há três igrejas de «Jogo» na pequena área de Belvèdere-du-Razès. (Curiosamente, uma grande parte desta área denomina-se La Magdalene.)
Também é interessante que a atual igreja de «Madalena» de Rennes-le-Château fosse, outrora, apenas a capela do castelo, enquanto outra igreja embelezava a aldeia – e que era dedicada a João Batista. Esta foi destruída no século XIV, quando Rennes-le-Château foi tomada pelas tropas de um nobre espanhol, sendo demolida pedra por pedra, na convicção de que algum tesouro estivesse escondido no seu interior.
Um volte-face inexplicável ocorreu na vizinha Arques, quando a primitiva igreja de S. João Batista foi novamente dedicada a Santa Ana; fato particularmente estranho, porque ela ainda conserva uma relíquia de Batista.
Arques e Couiza – onde existe outra igreja de «João» – foram propriedade da família de Joyeuse até 1646, quando Heuriette-Catherine de Joyeuse vendeu todas as suas terras do Languedoc à monarquia francesa. Curiosamente, ela era viúva de Charles, duque de Guise, cujo preceptor fora Robert Fludd – que fora mandado vir da Inglaterra especialmente para desempenhar esse cargo.
Outrora, em Couiza, ou em Arques, existira uma Madona Negra, conhecida por Notre- Dame de la Paix, que fora levada para Paris, em 1576, pela família de Joyeuse, onde ainda se encontra, na igreja das Irmãs do Sagrado Coração. Estranhamente, Saunière correspondia-se com a superiora desta ordem, para a qual ele era alguém verdadeiramente especial. Numa carta que a irmã Augustine-Marie, secretária da ordem, lhe enviou, datada de 5 de Fevereiro de 1903, ela pede-lhe para celebrar missas, especificamente em honra da sua Madona Negra, oferece-se para lhe vender uma estátua do Pequeno Jesus de Praga (que ainda se encontra na Vila Betânia) – e, um tanto misteriosamente, agradece-lhe «a devoção que consagra ao nosso bom rei».
Pode ser uma referência a algum pretendente ao trono francês ou a Jesus Cristo, embora, como veremos, existisse outro «rei» que era venerado por grupos heterodoxos. Contudo, há a sugestão de um significado diferente, talvez codificado, nas palavras da irmã Augustine-Marie, e a curiosa insinuação de que havia alguma coisa especial na paróquia (e nos paroquianos) de Rennes-le-Château.
A família de Joyeuse também mandou edificar a igreja de João Batista de Arques, que foi construída a partir das ruínas do antigo castelo que fora destruído pelos soldados de Simon de Monfort. De fato, a atual torre do sino e a parede principal faziam parte da igreja que foi outrora dedicada a João Batista mas que é agora dedicada a Santa Ana – embora nem o próprio presidente do município de Arques nos soubesse explicar a razão que motivara a alteração.
O seu antecessor, nos anos 30 e 40, foi Déodat Roché, um grande estudioso da história esotérica da área, que foi o inspirador de uma das mais sérias tentativas de restaurar uma igreja cátara naquela área. Um dos tios de Roché era o médico pessoal de Saunière, e outro era o seu notário.
A meio caminho entre Rennes-le-Château e Limoux, encontra-se a cidade que é a estância termal de Alet-les-Bains. Antiga sede do bispado local (antes de ser transferida para Carcassonne), Alet era, na Idade Média, um famoso centro alquímico. A família de Nostradamus era oriunda desta cidade, e é possível que o famoso visionário tivesse lá vivido durante algum tempo. A cidade tem conexões com a Ordem dos Cavaleiros Templários que remontam aos primeiros anos dos Templários – vários decretos importantes que lhes concediam terras foram assinados em Alet, em anos posteriores a 1.130 – e ainda se vêem símbolos templários gravados nas madeiras de algumas das pitorescas casas medievais; na realidade, o brasão da cidade ostenta uma cruz templária.
A importante igreja de Santo André tem uma curiosa ligação com a Ordem dos Cavaleiros Templários. O escritor e investigador Franck Marie demonstrou que o seu desenho (assim como o da Capela Rosslyn) é baseado na geometria da cruz templária, a mesma do Templo de Jerusalém construído por Salomão – contudo, a igreja foi edificada no final do século XIV, depois da extinção da Ordem dos Cavaleiros Templários. O edifício também é notável pelas janelas que ostentam o símbolo da estrela de seis pontas, a Estrela de David. Além das óbvias associações judaicas (que são, no mínimo, extremamente invulgares numa igreja medieval), o símbolo também tem conotações mágicas tradicionais – simbolizando a união dos princípios divinos masculino e feminino.
A rua principal de Alet-les-Bains é a Avenida Nicolas Pavillon, o nome do seu mais famoso bispo (cuja incumbência se manteve desde 1637 até 1677). Pavillon foi uma figura importante, que esteve envolvida em acontecimentos relacionados com o Priorado de Sião. Pavillon, juntamente com dois outros clérigos, o famoso S. Vicente de Paulo e Jean- Jacques Olier (que edificou St. Sulpice) foram as forças que inspiraram a Companhia do Santo-Sacramento, também conhecida entre os seus membros por «a cabala do Devoto».
Considerada uma organização caritativa, é agora reconhecida pelos historiadores como tendo sido uma sociedade secreta político-religiosa que manipulou proeminentes chefes políticos da época e que tinha mesmo influência sobre o monarca francês. A companhia escondeu tão bem os seus verdadeiros interesses que os historiadores ainda não estão de acordo quanto à sua verdadeira natureza – por vezes, parecem ser essencialmente católicos, mas, noutros casos, completamente heréticos. Tem sido afirmado que ela era, de fato, uma fachada para o Priorado de Sião. Como vimos, a sua sede era no Seminário de St. Sulpice, em Paris.
Um destes conspiradores, o misterioso S. Vicente de Paulo (c. 1580-1660) – que afirmava, bizarramente, ter estudado alquimia -, é venerado noutro lugar, que é considerado um dos mais enigmáticos do Languedoc. É a basílica de Notre-Dame de Marceilles, situado ao norte de Limoux, muito próximo da cidade. Uma estátua de S. Vicente ergue-se no seu recinto, para assinalar o fato de ser ele o fundador da Ordem dos Padres Lazaristas, que, desde 1876, têm sido responsáveis pela basílica. (Curiosamente, o padre lazarista de Notre-Dame de Marceilles destacava-se entre os convidados de Saunière para as cerimônias de inauguração de várias partes do seu domaine.)
Este lugar tem muitas ligações intrigantes com as «heresias» que estamos a investigar. Para começar, apesar da diferença de grafia, esta «Marceilles» (cuja origem é desconhecida) evoca Madalena através da ligação com «Marseilles». A basílica foi edificada no local de um antigo santuário pagão, centrado numa fonte, famosa pelas suas propriedades terapêuticas, especialmente para os olhos. O nome da basílica tem origem numa Madona Negra do século XI, que ainda está exposta no interior da igreja e que esta associada a muitos milagres. Talvez, com aquele antecedente, não seja surpresa descobrir que aquele lugar pertencera aos Cavaleiros Templários. Durante séculos, foi um centro de peregrinação de devotos em busca de cura.
Ao longo dos anos, por qualquer razão, sempre existiram lutas entre várias organizações religiosas pelo controle do lugar. Pertenceu, originariamente, à vizinha abadia beneditina de St. Hilaire, a qual, durante a Cruzada dos Albigenses (Cátaros), provocou comentários hostis devido à sua política de neutralidade face aos cátaros. (Toda a população de Limoux foi excomungada, na mesma ocasião, por lhes dar proteção.) No século XIII, a luta travou-se entre o arcebispo de Narbonne, a Ordem Beneditina e os Dominicanos. Mais tarde, o rei teve de intervir numa disputa pela posse do lugar entre o arcebispo, o senhor de Limoux e Guillaume de Voisins, senhor de Rennes-le-Château.
A 14 de Março de 1.344 (o centésimo aniversário da misteriosa cerimônia cátara na fortaleza de Montségur, na última noite, antes de eles se entregarem às chamas), o papa Clemente VI entregou a igreja ao colégio de Narbonne, em Paris, em cuja posse se manteve até meados do século XVII, quando passou para o controle do bispo de Alet-les-Bains. (Curiosamente, a principal fonte de receita do colégio de Narbonne provinha da igreja de Maria Madalena de Azille, no Aude.) Durante a Revolução, a igreja e as terras foram vendidas, mas a Madona Negra foi escondida por membros dum priorado da Ordem dos Penitentes Azuis, um curioso grupo que tem ligações com os maçônicos do Rito Escocês Retificado e com a família Chefdebien – que, como veremos, são protagonistas importantes deste drama. Em 1795, a Igreja foi reintegrada como lugar de culto.
Outra disputa surgiu, no entanto, durante a época de Saunière e envolveu o seu superior, Monsenhor Billard, bispo de Carcassonne. O lugar pertencia, então, a vários proprietários, mas, através de uma série de argutas – e nem sempre éticas – jogadas, o bispo usou os serviços de um banqueiro, como estando «interessado na compra», para adquirir todas as ações. Estranhamente, a venda teve lugar a 17 de Janeiro de 1893 (embora Bilard tivesse conseguido apoderar-se da Madona Negra, que estivera guardada em Limoux, durante um curto espaço de tempo). Em menos de quatro meses, o novo proprietário vendera a terra ao bispado e Bilard detinha o desejado controle total sobre o local.
Em 1912, o papa Pio X decretou que a igreja fosse elevada à categoria de basílica, uma honra rara e completamente inexplicável para um lugar relativamente modesto. A categoria de basílica, geralmente, é apenas atribuída a igrejas de significado especial – como é o caso da Igreja de St. Maximin, na Provença, que contém as (alegadas) relíquias de Maria Madalena.
A área circundante de Notre-Dame de Marceilles é também notável por ter sido, até muito recentemente, um lugar de particular interesse para os ciganos, que costumavam ter um acampamento no terreno entre a igreja e o rio Aude, que corre a alguns metros para ocidente.
A basílica Notre-Dame de Marceilles é especialmente mencionada no enigmático livro do abade Boudes Le vraie Langue Celtique et le Cromleck de Rennes-les-Bains, e foi essa referência que trouxe o falecido investigador belga Jos Bertaulet a este lugar. Ele fez uma interessante descoberta: nas antigas terras da igreja, agora em mãos privadas, nas margens do rio Aude, existe uma cripta subterrânea. Esta cripta é formada por duas grandes câmaras que datam do fim do período romano ou do princípio do período do reino visigótico (século III-IV).
A cripta com cerca de seis metros de altura, a primeira destas câmaras tem uma abertura de ventilação no teto abobadado, mas a única entrada é um túnel estreito, com a altura de um metro, aparentemente construído depois e que estava oculto numa pequena casa, agora em ruínas (que parece ter sido construída expressamente para esse fim). Desconhece-se a função da cripta. Tem-se especulado que ela servia de câmara funerária – apesar de estar agora vazia – ou de lugar de iniciação para alguma escola de mistério.
Qualquer que fosse a sua função, há algumas provas de que ela foi utilizada até à primeira parte do século XX, embora a sua existência fosse tão secreta que – como iríamos descobrir em circunstâncias traumáticas – nem os sacerdotes da basílica conheciam a sua existência. Talvez fosse desta curiosa câmara subterrânea que Billard estava tão interessado em se apoderar.
Durante uma viagem de investigação a França, no Verão de 1995, Clive Prince visitou a área acompanhado por seu irmão Keith. Tínhamos sido informados sobre a cripta, incluindo as instruções para a encontrar – o que se mostrou precioso, porque a entrada estava coberta por um enorme matagal de ervas daninhas -, pelo investigador belga Filipe Coppens. Jos Bertaulet tinha tapado, parcialmente, a abertura do teto com placas de pedra para evitar acidentes. Havia, iríamos descobrir por experiência própria, uma queda abrupta de seis metros de altura.
Keith, tendo entrado na primeira câmara, descendo por uma corda (quaisquer escadas de madeira que outrora houvesse tinham apodrecido há muito tempo), tropeçou nos pedaços de pedras que cobriam o chão e caiu pesadamente. Caiu no escuro, entre os detritos acumulados pelo tempo; a princípio, pareceu que tinha quebrado uma perna, depois descobriu-se que tinha torcido apenas um ligamento: não podia levantar-se e muito menos trepar pela corda e sair da cripta.
Clive não teve outra opção senão chamar os serviços de emergência para socorre-los (que chegaram em tão grande número, que parecia que o acidente de Keith era a coisa mais excitante que acontecia em Limoux desde há muito tempo). Depois de quatro horas, uma equipe de socorro içou-o para fora do subterrâneo, finalmente, através da abertura do teto e transportou-o para o hospital de Carcassonne. (Este episódio revelou uma coisa: quando Clive foi pedir auxílio à basílica, os funcionários que lá se encontravam desconheciam a existência da cripta.)
Infelizmente, devido a este incidente, foi impossível continuar a investigação das câmaras subterrâneas. Talvez uma consequência mais grave fosse a ameaça das autoridades de mandar fechar as câmaras, para evitar futuros acidentes. Foi um alívio descobrir que isso, de fato, não acontecera, embora as entradas tivessem sido fechadas, quando lá voltamos com Charles Bywaters, na Primavera de 1996. Nesta ocasião, embora não fizéssemos nenhuma tentativa para explorar as câmaras principais, investigamos o túnel que lhes dava acesso – e fizemos uma descoberta muito importante.
O túnel parecia partir de uma parede vazia, mas, seguindo uma sugestão de Filip Coppens, examinamos a parede e verificamos que, outrora, ela fora uma porta. Fora deliberadamente selada – aparentemente, há relativamente pouco tempo – e as barras de ferro, que estão inseridas na pedra, podem ter servido de puxadores da porta. A julgar pela manifesta ignorância das autoridades locais quanto à existência da cripta, não podiam ter sido elas a mandar selar esta porta. Então, quem mandou – e, em todo o caso, porquê mandar fechar, deste modo, apenas uma das câmaras?
Pelo estado das barras de ferro, calculamos que a entrada da porta fora tapada aproximadamente há cem anos, quando Billard detinha o controle único da propriedade. Escondeu ele alguma coisa atrás daquela porta fechada com tijolos? Talvez escondesse, mas os seus atos revelavam um desespero virtual em se apoderar daquele determinado lugar, o que sugere que ele não andava a esconder, mas a procurar alguma coisa. E, fosse o que fosse que ele procurasse, ainda devia haver, no mínimo, algumas pistas quanto à sua natureza naquele lugar úmido e secreto, porque ele se esforçou para o selar.
Pouco tempo antes de morrer, vítima de cancer, em 1995, José Bertaulet afirmou ter descodificado a estranha obra de Boudet Le vraie langue celtique et le cromleck de Rennes- les-Bains e concluiu que ela referia que um relicário, contendo a cabeça de um «rei sagrado», estava escondido naquela cripta subterrânea. E acrescentou que Boudes associara esta câmara às lendas do Santo Graal. Como vimos, o tema dos reis sagrados decapitados atravessa estas histórias (e Saunière recebera agradecimentos pela devoção que consagrara ao «nosso bom rei», enviados pelas Irmãs do Sagrado Coração de Paris). E, curiosamente, Notre-Dame de Marceilles foi, outrora, propriedade dos Cavaleiros Templários.
Futuras investigações dependem da passagem pela porta selada, e parece improvável – no momento em que escrevemos – que a autorização para essa passagem seja concedida. Mas muitos temas que são centrais para esta investigação parecem reunir-se neste lugar: veneração ao feminino divino, Madonas Negras, os Cavaleiros Templários, Madalena e as lendas do Graal. E a história de uma cabeça decepada numa área tão repleta de igrejas, que lhe são dedicadas, seguramente evoca a figura de João Batista. É evidente que a região, em geral, e o lugar de Notre-Dame de Marceilles, em particular, ainda guarda um segredo profundo.
É difícil compreender a maneira como Saunière se integra neste quadro, mas também parece que ele tinha de fazer parte dele. É muito provável que ele encontrasse alguma coisa de grande importância, mas é impossível saber, com alguma certeza, o que foi encontrado. Contudo, a nossa investigação conseguiu várias pistas significativas a partir do gênero de pessoas com quem convivia e dos contatos que deliberadamente estabelecia.
De fato, as provas que laboriosamente reconstituímos, relativas às verdadeiras filiações de Saunière, mudam radical e definitivamente a clássica imagem do modesto sacerdote rural que se depara com um tesouro. Qualquer coisa em que estivesse, de fato, envolvido, a sua importância ultrapassa muito os limites da curiosa aldeia de Rennes-le-Château.
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