A “BOMBA” DE METANO NA SIBÉRIA PROVA QUE SOMOS MEROS E EVENTUAIS COMPONENTES CÊNICOS NOS CICLOS CLIMÁTICOS DA TERRA
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
O fim do mundo se evidencia no “Fim do Mundo”
Na região congelada da Sibéria, em uma área conhecida como Yamal – que se traduz como “The End of the Land” (fim do mundo), foram descobertas crateras misteriosas, que revelam estarmos em meio a um processo de alterações profundas em nosso planeta. Ou seja, podemos estar próximos de um evento de extinção em massa.
Trabalhadores da indústria do petróleo russo descobriram no último inverno de 2013/2014, uma caverna ampla com 80 metros de diâmetro e muito profunda. Fotografado em voos de inspeção, o buraco só pôde ser acessado por terra no mês de julho último, após o degelo (já considerado fora dos padrões), na região inóspita da Sibéria.
A característica da cratera, com paredes muito lisas, bem como o deslocamento do solo para fora dela, formando uma elevação, revelavam que havia ocorrido um “destampe”, algo como uma uma rolha sendo expulsa de uma garrafa de champagne.
O Jornal Siberian Times, que acompanhou a expedição de cientistas, relatou que a expedição encontrou mais duas outras enormes aberturas no chão, similares à primeira, próximas.
Os pesquisadores russos voltaram de sua investigação sobre a primeira descoberta e, colhidas amostras de água e solo, constataram que as aberturas se deram por conta da liberação explosiva, em enorme quantidade, de gás metano.
O “Sopro do Dragão” e a extinção no período Triássico
Observando o relatório russo, o glaciologista norte-americano, Dr. Jason Box, no mês de agosto, apontou para a sinistra hipótese do chamado “sopro do dragão”. Em seu blog o cientista afirmou: “A hipótese de sopro de dragão está me fazendo perder o sono”.
O “Sopro do Dragão”, segundo a revista “Science”, faz referência à causa de extinção em massa ocorrida há 200 milhões de anos, cuja principal hipótese foi o lançamento na atmosfera de pelo menos 12 mil gigatoneladas de metano, provenientes do leito oceânico.
A catástrofe que se abateu sobre a Terra, no final do período Triássico, muitas vezes é atribuída à atividade vulcânica intensa, que teria exterminado a metade da vida marinha e terrestre.
O evento deveu-se a atividade solar (ventos solares intensos) ou à queda e um meteoro de grandes proporções. Ambos os fenômenos liberaram atividade vulcânica intensa.
Mas o pesquisador Micha Ruhl, da Universidade de Copenhagen (Dinamarca) e principal autor do estudo, demonstrou que a referida atividade vulcânica ocorreu por mais de 600 mil anos, no final do Triássico, enquanto a extinção durou um período mais curto, entre 10 mil a 20 mil anos.
Ruhl e colegas estudaram isótopos de carbono de sedimentos do período e descobriram que a extinção em massa coincidiu com a grande liberação de metano para a atmosfera, e, claro, os vulcões tiveram participação nesse processo, pois a liberação deveu-se ao efeito estufa provocado pela alteração na temperatura do planeta. “Houve liberação de CO2 de erupções vulcânicas, fato que provocou o aumento da temperatura do globo e também dos oceanos”, revela o cientista. “O metano é estável apenas sob certas temperaturas. Se ocorrer um aquecimento, ele é liberado.”
O estudo de Ruhl é de extrema importância, pois é considerado um prenúncio dos efeitos da mudança climática tal como hoje tratada na Terra. Ele fundamenta a premissa adotada pela ONU, que o aumento do dióxido de carbono na atmosfera proveniente do uso de combustíveis fósseis pode aquecer o planeta o bastante para liberar metano do leito dos oceanos e provocar eventos climáticos extremos.
“O metano é um gás de efeito estufa bem mais forte do que o CO2, por isso há a possibilidade dessa liberação resultar em um aumento grande da temperatura e mudança climática”, diz Ruhl.
A bomba-relógio está ligada
Recentes relatórios do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas da ONU e do Conselho Ártico, sobre os efeitos do aquecimento global no extremo norte do planeta, mostram um panorama desolador: inundações globais, extinção dos ursos polares e outros mamíferos marinhos e o colapso de áreas de pesca.
A aparente arrogância dos cientistas climáticos, no entanto, os fez ignorar as evidências da bomba-relógio de metano, que já explode aos poucos nas tundras da sibéria.
Há enormes quantidades de gases de efeito estufa geradas pela natureza, aprisionados sob a forma de misturas geladas de gases hidratados nos pântanos frios do norte e no fundo dos mares. Essas misturas, chamadas de “clathrates” em inglês, contêm MILHARES DE VEZES a quantidade total de metano hoje liberada na atmosfera terrestre.
Como se sabe, o metano é um gás mais de vinte vezes superior ao gás carbônico (CO2 ou dióxido de carbono) em termos de contribuição ao chamado efeito estufa.
Um aumento de alguns poucos graus na atmosfera, hoje, pode fazer com que esses gases se tornem voláteis e sejam liberados para a atmosfera, causando novo aumento na temperatura do planeta. Esse fenômeno reduz o permafrost – camada de gelo que contém o metano no fundo do oceano ártico, que por sua vez desestabilizará a superfície marítima, expondo-a à dissipação e movimento, estimulando a liberação da enorme reserva de metano ali depositada. O mar ártico, em especial na região siberiana, é muito raso, não atingindo uma centena de metros, o que facilita a volatilização do gás com a desestabilização.
Há, por outro lado, 400 bilhões de toneladas de metano aprisionadas nas tundras congeladas das regiões árticas – o suficiente para desencadear uma reação em cadeia. O aquecimento previsto pelo Conselho Ártico é suficiente para derreter as “clathrates” e liberar esses gases de efeito estufa na atmosfera.
Uma vez iniciada a reação, o ciclo resultaria em aquecimento totalmente descontrolado do globo, em magnitudes bíblicas. A previsão está respaldada nas fortes evidências geológicas ,que sugerem que algo similar já aconteceu por duas vezes, antes, em nosso planeta, sugerindo um ciclo planetário combinado com ciclos cósmicos, muito além do alcance da conduta humana.
O Alerta científico Russo
A professora Natalia Shakhova, pesquisadora da Universidade do Alasca em Fairbanks e membro da Academia Russa de Ciências, na Conferência da União Européia de Geofísica, realizada em abril de 2014, revelou de forma assustadora o enorme risco mundial representado pela desestabilização do permafrost ártico e a liberação em quantidades bíblicas de metano na atmosfera.
Fazendo referência à expedição de pesquisadores na Sibéria, a cientista russa revela a mudança na paisagem siberiana, que dificultou inclusive o acesso da missão aos locais assinalados, e a expansão do fenômeno de liberação de metano na atmosfera, com o aparecimento de crateras e buracos em terra e abaixo da superfície de lagos congelados e no mar.
Vários desses fenômenos já podem ser constatados em vídeos postados por curiosos na internet.
O fato é que todo o processo evidencia uma tragédia de grandes proporções, que visivelmente preocupou a cientista em seu pronunciamento, que pode ser visto no vídeo que posto logo abaixo:
(se você não estiver visualizando o vídeo, clique aqui - http://youtu.be/tHrADVhtO2Q?list=PL44352DE03C73A0F9 )
A vida na terra muda por catástrofes geológicas cíclicas
A mais recente dessas catástrofes aconteceu por volta de 55 milhões de anos atrás, no que os geólogos chamam de Evento Máximo Termal do Paleoceno-Eoceno (PETM, em inglês), quando a liberação intensiva de metano causou um rápido aquecimento e extinções em massa, trazendo caos ao clima por mais de 100 mil anos.
Antes do Paleoceno, a catástrofe anterior aconteu 251 milhões de anos atrás, no fim do período Permiano, quando uma série de liberações de metano quase acabou com todas as formas de vida na Terra.
Mais de 94 por cento das espécies marinhas presentes nos registros fósseis daquele período, desapareceram repentinamente. A evidência aponta para a ocorrência, naquela ocasião, de um decréscimo abrupto dos níves de oxigênio, fazendo a vida na Terra ficar à beira da extinção.
Nos 500 mil anos seguintes, algumas poucas espécies lutaram para colocar seus pés no ambiente hostil. Levou-se 20 a 30 milhões de anos para que os então rudimentares recifes de coral se recuperassem e as florestas voltassem a crescer. Em algumas áreas, passaram-se mais de 100 milhões de anos, até que ecossistemas locais recuperassem a biodiversidade.
O geólogo Michael J. Benton apresenta as evidências científicas para essa tragédia sem precedentes, em seu recente livro “When Life Nearly Died: The Greatest Mass Extinction of All Time”.
No livro, o geólogo afirma que, como no PETM, os gases de efeito estufa, constituídos em grande parte pelo dióxido de carbono oriundo do aumento da atividade vulcânica, aqueceram a terra e os mares em níveis suficientes para liberar quantidades gigantescas de metano dos “clathrates”, disparando um efeito estufa incontrolável.
A catástrofe ignorada pelos climáticos (preocupados com “sua” catástrofe)
Segundo a ONU e seu painel de cientístas, um aumento na temperatura entre 2 a 6 graus Celsius (10,8 graus Fahrenheit) pode ser esperado para 2100, graças à queima de combustíveis fósseis. Nesse caso, a atividade humana, embora não seja DECISIVA para alterar o rumo desse ciclo geológico, se presta como ACELERADOR das fases.
Esse modelo, no entanto, pode estar totalmente incorreto. Nenhum dos estudos do painel intergovernamental leva em consideração o efeito das liberações de metano por conta do aquecimento global. Para piorar, o Conselho Ártico descobriu que os maiores aumentos na temperatura provocados pela liberação de gases de efeito estufa gerados pela atividade humana serão detectados nas regiões árticas – uma área rica em “clathrates” instáveis, prontos a liberarem metano à atmosfera.
Ou seja, os cientistas climáticos, vislumbram o fenômeno, mas não fecham o quebra-cabeças, deixando essa importante peça de fora do quadro montado.
O fato é que, disparada a liberação incontrolável de metano, não haverá mais caminho de volta. Não haverá mais como desfazer nem deter essa liberação. Uma vez iniciado, é muito provável que o fenômeno irá acontecer em sua plenitude até o fim – seja isso o que for.
A trágica contribuição humana
Os humanos estão se mostrando capazes de emitir dióxido de carbono (gás carbônico) em quantidades equivalentes às atividades vulcânicas que desencadearam essa reação em cadeia. Computadas as emissões históricas no período industrial.
De acordo com com a Pesquisa Geológica dos EUA (US Geological Survey, em inglês), a queima de combustíveis fósseis libera mais de 150 vezes a quantidade de dióxido de carbono liberada pelos vulcanos – uma quantidade equivalente a quase 17 mil vulcões do tamanho do vulcão Kilauea, do Havaí.
O problema é que outras grandes explosões vulcânicas, vistas isoladamente, ocorridas desde 1991, já demonstraram ser capazes de dobrar ou triplicar as emissões, reduzir a insolação e mesmo reduizr a temperatura do planeta, por conta da redução da incidência dos raios solares. Ou seja, a catástrofe do aquecimento pode liberar a camada de gelo que estabiliza algumas regiões, como a Islândia ou o Chile, e com isso permitir erupções vulcânicas catastróficas que, a médio prazo, contribuirão para reduzir de novo a temperatura.
A ação humana funcionaria como um aquecedor permanente, acelerando esses ciclos a ponto de realmente desestabilizar todo o sistema.
E essa é a bomba-relógio ignorada pelo Conselho Ártico.
Qual é a probabilidade da humanidade disparar essa liberação catastrófica de metano através da queima de combustíveis fósseis? Ninguém sabe. Mas é algo que atualmente está entre o possível e o provável, e que se torna cada vez mais provável a cada ano em que deixamos de agir.
O que fazer
A elevação dos níveis do oceano, calotas polares derretendo, furacões mais intensos, inundações mais freqüentes, destruição de ecossistemas e extinção dos ursos polares não podem ser evitadas com normas legais e medidas de gestão visando a redução ou compensação de emissões humanas, como querem os climáticos da ONU.
Vários são os artigos que subscrevi, alertando para esse equívoco.
É importante, sem dúvida, o alerta para aqueles fenômenos, assim como os alertas que o aquecimento global pode transformar em deserto áreas cultivadas do mundo ou aumentar a intensidade e o alcance das doenças tropicais.
No entanto, se há algo a ser mobilizado, intensamente, nos próximos meses e anos, é a adoção de políticas administrativas, de caráter preventivo, estrutural, visando a DEFESA CIVIL.
É urgente o esforço dos governos nacionais para promoverem uma extensa reestruturação econômica, visando enfrentar os efeitos muito severos das alterações em nossa atmosfera.
É preciso planejar e implementar uma política energética global mais adequada às intempéries em curso, para muito além das medidas paliativas propostas pelo painel intergovernamental de mudanças climáticas – IPCC, o qual, mais interessado em focar o ser humano como protagonista das alterações do clima, ignorou solenemente as evidências que nos tornam meros coadjuvantes, componentes cênicos eventuais, dos gigantescos ciclos climáticos do planeta Terra, par e passo com os fenômenos solares até aqui analisados.
Não há, portanto, tempo a perder.
Temos de agir já!!
Leia ainda:
http://www.ambientelegal.com.br/mudancas-climaticas-de-biquini/
http://afppview.blogspot.com.br/2013/11/e-preciso-mudar-o-clima-da-politica-de.html
http://www.ambientelegal.com.br/periodo-antropoceno-seriam-os-humanos-deuses-ou-dinossauros/
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro da Comissão de Direito Ambiental do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Jornalista, é Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal, Editor da Revista Eletrônica DAZIBAO e editor do Blog The Eagle View.
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