Livro Os Reinos Perdidos, capítulo VII – O DIA EM QUE O SOL PAROU
A avidez dos espanhóis pelo ouro e outros tesouros encobriu seu espanto ao encontrar no Peru, numa terra desconhecida no fim do mundo, uma civilização avançada, com cidades e estradas, palácios e templos, pirâmides, reis e sacerdotes… e religiões. A primeira leva de padres católicos que veio com os conquistadores procurou destruir tudo o que se relacionasse à “idolatria” dos índios.
Porém, os sacerdotes espanhóis que vieram depois — na época os (únicos) estudiosos do país — mostraram-se abertos às explicações dos ritos e crenças locais dadas pelos nobres nativos, que haviam se convertido ao catolicismo de Roma …
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Livro, OS REINOS PERDIDOS (The Lost Realms), da série de livros Crônicas da Terra, capítulo VI, “O DIA EM QUE O SOL PAROU”, de Zecharia Sitchin
Capítulo 7 - O DIA EM QUE O SOL PAROU
… Sua curiosidade aumentou quando compreenderam que os nativos dos Andes acreditavam num Criador Supremo e que suas lendas registravam um Dilúvio. Como muitos detalhes dessas lendas eram estranhamente parecidos com as narrativas bíblicas do Gênesis, foi inevitável, entre as primeiras teorias sobre a origem dos “índios” e suas crenças, uma associação com as terras e os povos da Bíblia. Depois de considerar vários povos antigos, a conclusão mais plausível para os primitivos teóricos, como ocorrera no México, era de que os nativos descendiam das Dez Tribos Perdidas de Israel, não só pela semelhança das lendas nativas com as histórias bíblicas, como também por alguns rituais.
Os nativos peruanos tinham costumes como o oferecimento dos primeiros frutos — uma Festa da Expiação, que correspondia à natureza e à época do dia judeu da Expiação — o rito da circuncisão, a retirada do sangue do animal que serviria de alimento, a proibição de comer peixes sem escamas, muito parecidos com os costumes dos hebreus. Na Festa das Primeiras Frutas, os nativos cantavam as palavras místicas Yo Meshica, He Meshica, VaMeshica. Para alguns dos teóricos espanhóis a palavraMeshica significava o mesmo que o termo hebreu “Mashi’ach” — o Messias.
(Estudiosos modernos agora acreditam que o componente Ira nos nomes divinos andinos, é comparável ao nome mesopotâmico Ira/Illa, do qual deriva a raiz bíblica El;que o nome Malquis com o qual os incas veneravam seu ídolo é equivalente ao da divindade cananita, Molekh (Senhor); e que é provável que o título inca Manco deriva da mesma raiz semítica, significando “rei”.)
Foi em vista dessas teorias sobre as origens bíblicas dos hebreus que os padres católicos do Peru, depois da onda inicial de obliteração/começaram a registrar e preservar a herança nativa. Os mestiços, tais como o padre Blas Valera (filho de um espanhol e uma mulher indígena), foram encorajados a anotar o que ouviam dos nativos e o que estes faziam. Antes que terminasse o século XVI, um esforço concentrado, patrocinado pelo bispo de Quito (Equador), foi feito no sentido de compilar as histórias locais, avaliar os locais antigos e montar uma biblioteca com todos os manuscritos relevantes. Muito do que foi aprendido sobre os tempos antigos da América do Sul desde então veio dessa fonte.
Intrigado com as teorias e avaliando ele mesmo os manuscritos da coleção, um espanhol chamado Fernando Montesinos chegou ao Peru em 1628 e devotou o resto de sua vida à compilação de fatos compreensíveis, em ordem cronológica, da história e pré-história dos peruanos. Cerca de vinte anos mais tarde ele completou um tratado,Memórias Historiales Antiguas del Peru (“Memórias Históricas Antigas do Peru”), e o depositou na biblioteca do convento de San José de Sevilha. Lá permaneceu esquecido por dois séculos, sem ter sido publicado, quando alguns trechos foram incluídos numa história francesa das Américas. O texto completo em espanhol veio à luz apenas em 1882 (uma tradução de P. A. Means para o inglês foi publicada pela Hakluyt Society em Londres, Inglaterra, em 1920).
Partindo de um ponto comum entre as narrativas da Bíblia e as andinas, como o episódio do Dilúvio, Montesinos considerou este o seu ponto de partida. Seguindo o registro bíblico, ele seguiu o repovoamento da Terra depois do Dilúvio, a partir do monte Ararat, na Armênia, até uma tabela de nações no capítulo 10 do livro do Gênesis. Viu no nome Peru, (ou Piru/Pirua na língua dos nativos) uma interpretação fonética do nome bíblico Ophir, o neto de Eber (o portador dos hebreus), ele próprio filho de Shem. Ophir também era o nome da famosa Terra do Ouro, de onde os fenícios trouxeram ouro para o templo de Jerusalém, que o rei Salomão estava construindo. O nome de Ophir na tabela da Bíblia está escrito ao lado de seu irmão Havilah — um nome pelo qual foi chamada a famosa Terra do Ouro na história bíblica dos quatro rios do Paraíso:
“E o nome de um era Pishon; É o rio que acompanha toda a terra de Havilah, onde o ouro está ” …
Para Montesinos, as pessoas das terras da Bíblia teriam vindo para os Andes muito antes da época do reinado de Judá e Israel, muito antes das Dez Tribos serem exiladas pelos assírios. Portanto, concluiu Montesinos, fora o próprio Ophir quem liderara os primeiros colonos ao Peru, quando o homem começou a espalhar-se pela Terra depois do Dilúvio.
As histórias incas que este padre reuniu atestam que muito antes da última dinastia inca já existira um império antigo. Depois de um período de crescimento e prosperidade, a terra enchera-se de desastres: cometas apareceram nos céus, o solo estremeceu com os terremotos e irromperam guerras. O rei que governava na época saíra de Cuzco, levando seus súditos para um refúgio seguro nas montanhas, chamado Tampu-Tocco. Apenas alguns sacerdotes permaneceram em Cuzco, para cuidar do santuário. Foi durante essa época calamitosa que se perdeu a arte da escrita.
Os séculos passaram. Os reis iam periodicamente de Tampo-Tocco até Cuzco consultar o oráculo divino. Um dia, uma mulher da classe nobre anunciou que seu filho Rocca fora carregado pelo Deus Sol. Dias mais tarde o jovem reapareceu, trajando roupas douradas. Ele disse que a época do perdão chegara, mas o povo precisava obedecer certos mandamentos: a sucessão real iria para o filho do rei nascido de uma meio-irmã, mesmo que não fosse o primogênito, e escrever não seria mais permitido (Ah !! os “deuses“…). As pessoas concordaram e voltaram a Cuzco com Rocca como novo rei. Ele recebeu o título inca — de soberano.
Concedendo ao primeiro inca o nome Manco Capac, os historiadores igualaram-no ao legendário fundador de Cuzco, Manco Capac dos quatro irmãos Ayar. Montesinos corretamente separou e distanciou as dinastias incas, contemporâneas dos espanhóis (cujo reinado começara apenas no século XI d.C.), de seus antecessores. Sua conclusão, de que a dinastia inca consistira de 14 reis, incluindo Huayna Capac, que morreu quando os espanhóis chegaram, e seus dois filhos rivais, foi confirmada por todos os estudiosos.
Ele concluiu que, de fato, Cuzco fora abandonada em período anterior ao do retorno da dinastia inca à cidade. Segundo seus estudos, antes do retorno a Cuzco, o império inca tivera 28 reis, cujo governo fora exercido na montanha chamada Tampu-Tocco. E antes disso um antigo império governara em Cuzco, considerada a capital. Lá, 62 reis sentaram-se no trono; destes, 46 eram reis-sacerdotes e 16 eram governantes semidivinos, filhos do Deus Sol. Antes disso, os próprios deuses reinavam sobre a Terra.
Acredita-se que Montesinos encontrou uma cópia do manuscrito de Blas Valera em La Paz e os jesuítas permitiram que o copiasse. Ele também se apoiou nos escritos do padre Miguel Cabello de Balboa, cuja versão diz que o primeiro soberano, Manco Capac, viera a Cuzco não diretamente do lago Titicaca, mas de um lugar oculto, chamado “Tampo-Tocco” (“Refúgio das Três Janelas”). Foi lá que Manco Capac “abusou de sua irmã Mama Ocllo” e teve um filho com ela.
Montesinos, após confirmar tudo isso em outras fontes disponíveis, aceitou essa informação como verdadeira. Ele iniciou, portanto, suas crônicas sobre os reinados no Peru com o domínio dos quatro irmãos Ayar e suas quatro irmãs, enviados para encontrar Cuzco com o auxílio de um objeto de ouro. Porém, ele registrou a versão pela qual o primeiro a ser escolhido como líder foi um irmão, cujo nome era o mesmo do antepassado que trouxera o povo para os Andes, Pirua Manco (originando o nome de Peru).
Foi ele quem, tendo chegado ao local, anunciou sua decisão de construir ali uma cidade. Veio acompanhado por esposas e irmãs (ou esposas-irmãs); uma delas deu à luz um filho, que foi chamado Manco Capac. Foi esse filho quem construiu em Cuzco o Templo ao Grande Deus, Viracocha. Sendo assim, é dessa época o início da contagem das dinastias. Manco Capac foi aclamado como filho do Sol e foi o primeiro de 16 soberanos. Nessa época eram veneradas outras divindades: uma delas era a Mãe Terra; a outra uma divindade cujo nome significava Fogo, representada por uma pedra que fazia profecias.
A ciência mais importante da época, escreveu Montesinos, era a astrologia (o estudo dos astros, a nossa atual astronomia). A arte de escrever em folhas preparadas de bananeira (como na Índia), ou em pedras, era conhecida. O quinto Capac “renovou o cálculo do tempo” e começou a marcar a passagem do tempo dos reinos de seus ancestrais. Foi ele quem introduziu a contagem de mil anos como um Grande Período, e os séculos e meios séculos, equivalentes ao jubileu bíblico. O Capac que introduziu esse calendário e a cronologia, foi o Inti Capac Yupanqui, que completou o templo e introduziu a veneração ao grande deus Illa Tict Viracocha, cujo nome significa “Iniciador Iluminado, Criador das Águas“.
No reino do décimo-segundo Capac, chegaram a Cuzco as notícias do desembarque na costa de “alguns homens de grande estatura… gigantes que estavam colonizando a costa” e que, possuindo ferramentas de metal, estavam despojando a terra. Depois de algum tempo eles começaram a subir as montanhas; felizmente, provocaram a ira do Grande Deus que os destruiu com o fogo do céu. Livre dos perigos, o povo esqueceu os mandamentos e os ritos da adoração. “As leis e costumes bons” foram abandonados, o que não passou desapercebido pelo Criador. Como castigo, ele escondeu o sol da terra: “não houve aurora (dia) por vinte horas“. Um grande clamor elevou-se do povo, que se apressou em oferecer preces e sacrifícios nos templos, até (depois de vinte horas) o sol reaparecer. Logo a seguir, o rei reintroduziu os ritos de veneração e as leis de conduta.
O décimo-quarto Capac no trono de Cuzco fundou uma escola para o estudo da astronomia e astrologia, objetivando a determinação dos equinócios e solstícios. Montesinos calculou que o quinto ano de seu reinado foi o 25º século depois do marco zero, ou o início, considerado como o Dilúvio. Era também o segundo milênio desde que a dinastia se iniciara em Cuzco; em celebração, o rei ganhou um novo título, Pachacuti(“Reformador”). Seus sucessores também promoveram o estudo da astronomia; um deles apresentou um ano contendo um dia extra a cada quatro anos e um ano extra a cada quatrocentos.
No reinado do 58º. monarca, “quando o Quarto Sol se completou,” a contagem era 2.900 anos depois do Dilúvio. Montesinos calculou ser o ano em que nasceu Jesus Cristo.
Aquele primeiro império de Cuzco, iniciado pelos Filhos do Sol e continuado por reis-sacerdotes, chegou a um final amargo no reinado do 62º rei. Na sua época, ocorreram “prodígios e mau agouro”. A Terra estremeceu com terremotos intermináveis, os céus se encheram de cometas e escutaram-se profecias do final dos tempos. As tribos e as pessoas começaram a vagar sem destino, guerreando com seus vizinhos. Os invasores vieram da costa, atravessando os Andes. Grandes batalhas ocorreram; numa delas o rei foi atravessado por uma flecha e seu exército fugiu em pânico; apenas quinhentos guerreiros sobreviveram às batalhas. “Assim o reinado da monarquia peruana foi perdido e destruído”, escreveu Montesinos, “e o conhecimento das letras foi perdido”.
Os poucos remanescentes abandonaram Cuzco, deixando apenas um punhado de fiéis sacerdotes para tomar conta do templo. Levaram com eles o filho do rei morto, um menino ainda, e refugiaram-se num local seguro e elevado nas montanhas chamado Tampu-Tocco. Foi o lugar onde, de uma caverna, o primeiro casal semidivino saiu para fundar os reinos andinos. Quando o menino cresceu, foi proclamado o primeiro monarca da dinastia de Tampu-Tocco, que durou quase mil anos, desde o início do século 2 até o século 11 d.C.
Durante tantos séculos de exílio, a sabedoria se esvaiu e a escrita foi esquecida. No reinado do 78º. monarca, com a marca de 3.500 anos desde o Início, uma certa pessoa começou a reviver a arte da escrita. Foi nessa época que o rei recebeu um aviso dos sacerdotes em relação à invenção das letras. Era a sabedoria da escrita, explicava a mensagem, a causa das pestilências e maldições que haviam terminado a dinastia de Cuzco. O desejo do deus era que “ninguém usasse as letras, nem ressuscitasse seu uso, pois de seu emprego muitos males viriam (outra vez)”. Portanto, o rei ordenou “por lei, sob pena de morte, que ninguém deveria andar com quilcas, pergaminhos de folha de bananeira, onde costumavam escrever, nem deveria usar as letras”. Ao invés disso ele iniciou o uso de quipos, as fitas de cordas coloridas, que serviam para propósitos cronológicos.
No reinado do 90º. monarca, o quarto milênio desde o Ponto Zero completou-se. A essa altura a monarquia em Tampu-Tocco era fraca e ineficaz. As tribos ainda leais estavam sujeitas às invasões dos vizinhos. Os chefes tribais deixavam de pagar tributos à autoridade central. Os costumes foram sendo corrompidos e as abominações proliferaram. Em tais circunstâncias, uma princesa descendente direta dos Filhos do Sol, uma certa Mama Ci-boca, anunciou que seu filho menor, tão belo que seus admiradores o chamavam de inca, estava destinado a reinstalar o reinado na antiga capital, Cuzco. De uma forma milagrosa ele desapareceu e retornou em trajes dourados, afirmando que o Grande Sol o havia levado para ensinar sua sabedoria secreta e lhe dissera para liderar o povo de volta a Cuzco. Seu nome era Rocca. Ele foi o primeiro da dinastia inca, que teve um final inglório pelas armas dos espanhóis.
Tentando ordenar esses eventos, Montesinos afirma, de tempos em tempos, que um período chamado “Sol” passara, ou iniciara-se. Conquanto não fique claro qual o período de tempo considerado (em anos), ele parecia ter em mente as lendas andinas de vários “Sóis” no passado.
Embora os estudiosos sustentem — hoje em dia cada vez menos — que não existiu nenhum contato entre as civilizações centro-americanas e as sul-americanas, as últimas apresentam as mesmas noções dos astecas e maias sobre os cinco Sóis. Na verdade, todas as civilizações do Velho Mundo possuem lembranças de eras passadas, de eras quando os deuses reinavam sozinhos, seguidos pelos semideuses e heróis, depois pelo reino dos mortais. Um texto sumério chamado Listas do Rei assinala uma linhagem de senhores divinos, seguidos por semideuses, que reinaram durante um total de 432.000 anos, antes do Dilúvio, e também fala de reis que governaram depois, através de tempos agora considerados históricos, cujos dados foram verificados e considerados precisos.
A lista de reis egípcios, assim como foi composta pelo pré-historiador Manetho, apresentava uma dinastia de doze deuses, que começou cerca de 10.000 anos antes do Dilúvio. Foi seguida de deuses e semideuses até cerca de 3.100 a.C., quando os faraós ascenderam ao trono do Egito. Também esses dados, até onde puderam ser verificados, mostraram-se corretos. Montesinos encontrou essas ideias nas histórias peruanas, confirmando os relatos de outros cronistas, de que os incas acreditavam estar vivendo a Quinta Era, ou Quinto Sol. A Primeira Era foi a de Viracocha, dos deuses brancos e barbados. A Segunda Era foi a dos gigantes; alguns deles não eram amigáveis e houve conflitos entre deuses e gigantes. A terceira foi a Era do Homem Primitivo, de seres humanos sem cultura. A Quarta Era foi a dos heróis, homens que eram semideuses. Só, então, começou a Quinta Era, a dos reis humanos, de quem os incas eram os últimos da linhagem.
Montesinos também comparou a cronologia andina com a européia, relacionando os fatos a um determinado Ponto Zero (ele escolheu o Dilúvio) e — mais claramente — ao nascimento de Cristo. As duas sequências cronológicas, escreveu ele, coincidiram no reinado do 58º. soberano: o 29º. século desde o Ponto Zero foi o “primeiro ano de Jesus Cristo”. As monarquias peruanas começaram 500 anos depois do “Ponto Zero”, por exemplo, em 2.400 a.C.
O problema dos especialistas com a história e a cronologia propostas por Montesinos não é falta de clareza, mas sua conclusão de que a civilização e as dinastias em Cuzco começaram quase 3.500 anos antes dos incas. Tal civilização, de acordo com a informação recolhida por Montesinos, e aquelas nas quais ele trabalhou, dominava a escrita, tinha conhecimentos de astronomia, entre outras ciências, e utilizava um calendário longo o suficiente para promover sua reforma periódica. Tudo isso (e muito mais) era conhecido da civilização suméria, que floresceu por volta de 3.800 a.C, e pela egípcia, que se seguiu, aproximadamente a 3.100 a.C. Outro ramo da civilização suméria, a do vale do rio Indus, viveu por volta de 2.900 a.C.
Por que não seria possível que esse triplo desenvolvimento ocorresse uma quarta vez, nos Andes? Impossível seria se não houvesse contato entre o Velho e o Novo Mundo. Possível, se os depositários da sabedoria, os deuses, fossem os mesmos, presentes em toda a Terra. Nossa conclusão pode parecer absurda à primeira vista, porém felizmente pode ser comprovada. O primeiro teste sobre a veracidade dos eventos e cronologias compilados por Montesinos já aconteceu.
Um elemento-chave na narrativa de Montesinos é a existência de um império antigo, de uma linhagem de reis em Cuzco que foram forçados a abandonar sua capital e procurar refúgio num local chamado Tampu-Tocco. O intervalo demorou uns mil anos; finalmente, um jovem nobre foi escolhido para levar o povo de volta para Cuzco e estabelecer lá uma dinastia inca. Existiria um local chamado Tampu-Tocco, identificável através da descrição dos acidentes, feita por Montesinos? A pergunta intrigou a muitos. Em 1911, procurando cidades incas perdidas, Hiram Bingham, da Universidade de Yale, encontrou este local: Machu Pichu.
Bingham não estava procurando pela localização de Tampu-Tocco quando partiu em sua primeira expedição. Porém, depois de voltar outras vezes e realizar escavações por mais de duas décadas concluiu que Machu Pichu foi a capital interior do Velho Império. Suas descrições do local, encontram-se nos livros Machu Picchu, a Citadel of the incas (“Machu-Pichu, a Cidadela dos incas) e The Lost City of the Incas (“A Cidade Perdida dos Incas”)
O principal motivo para se acreditar que Machu Pichu seja a lendária Tampu-Tocco é a pista das três janelas. Montesinos escreveu que “no local de seu nascimento, o inca Rocca ordenou que fossem executados trabalhos, consistindo de uma parede de alvenaria com três janelas, que são o emblema da casa de seus pais, de quem ele descende”. O nome do lugar para o qual a casa real se mudara, ao sair de Cuzco, significa “Refúgio das Três Janelas”.
Nada tem de surpreendente o lugar ficar conhecido por suas janelas, uma vez que nenhuma casa em Cuzco, desde a mais humilde até a mais luxuosa, apresentava janelas. Mas sim o fato de o local ficar conhecido por um número específico de janelas — três — que só poderia ser resultado de sua singularidade, antiguidade, ou santidade. O que parece verdadeiro com relação a Tampu-Tocco, de acordo com a lenda, é a estrutura com três janelas ter desempenhado um papel importante no surgimento das tribos e no início do antigo império do Peru. Essa estrutura específica se transformara no “emblema da casa de seus pais, de quem ele [Inca Rocca] descendia”.
A lenda dos irmãos Ayar descrevia o local e falava de seu papel na história. Como afirmou Pedro Sarmiento de Gamboa (Historia General Llamada Yndica), também mencionado por outros cronistas anteriores, os quatro irmãos Ayar e suas quatro irmãs, tendo sido criados pelo deus Viracocha, no lago Titicaca, chegaram, ou foram colocados pelo deus, em Tampu-Tocco, onde “apareceram à janela por ordem de Tici-Viracocha, declarando que Viracocha os criara para serem chefes”.
O mais velho dos irmãos, Manco Capac, carregava com ele um emblema sagrado ostentando a imagem do falcão, e também trazia o cetro de ouro que o deus lhe entregara para localizar o local correto para a futura capital, Cuzco. A vida dos quatro casais começou pacificamente. Contudo, logo sobrevieram crises de ciúmes. Sob o pretexto de que certos tesouros haviam sido deixados para trás, numa caverna emTampu-Tocco, o segundo irmão, Ayar Cachi, foi enviado de volta para apanhá-los. Isso era apenas um pretexto dos outros irmãos para aprisioná-lo na caverna, onde ele foi transformado em pedra.
Segundo essas histórias, Tampu-Tocco existira em tempos muito antigos. “O mito dos Ayar”, escreveu H. B. Alexander em Latin American Mythology (“Mitologia Latino-Americana”) “remonta à Idade Megalítica e às cosmogonias associadas ao Titicaca”. Quando os exilados deixaram Cuzco, foram para um lugar que já existia, um lugar onde uma estrutura com três janelas desempenhara seu papel em acontecimentos anteriores. É com essa compreensão que agora podemos visitar Machu Pichu, pois uma construção com uma parede com três janelas de fato foi encontrada lá e em nenhum outro lugar do Peru.
“Machu Pichu, ou Grande Pichu, é o nome quechua de um pico que se eleva a mais de 3.000 metros sobre o nível do mar e a 1.200 metros sobre as corredeiras do rio Urubamba, perto da ponte de San Miguel, a dois dias de viagem de Cuzco”, escreveu Bingham. “A noroeste de Machu Pichu eleva-se outro belo pico cercado por magníficos precipícios, chamado Huayna Pichu, ou Pichu Menor. Sobre o estreito espaço entre os dois picos encontram-se as ruínas de uma cidade inca, cujo nome perdeu-se nas sombras do passado. E possível que representem duas cidades antigas, Tampu-Tocco, o local de nascimento do primeiro inca, e Vilcabamba Viejo.”
Hoje em dia a viagem de Cuzco a Machu Pichu, uma distância de 120 quilômetros em linha reta, não leva os dois dias descritos por Bingham. Um trem subindo as montanhas, passando por túneis e pontes, e acompanhando o trajeto do rio Urubamba, leva apenas quatro horas até chegar ao destino. Mais meia hora de ônibus, a partir da estação de trem, e chega-se à cidade. A vista estonteante é exatamente como Bingham descreveu. No espaço em forma de sela entre os dois picos, casas, palácios e templos se erguem — todos sem telhados atualmente — cercados de terraços que acompanham a encosta da montanha, prontos para cultivo. O pico de Huayna Pichu eleva-se a noroeste como uma sentinela (fig. 72). Além, e ao redor, enxergam-se picos a perder de vista. Para baixo, o rio Urubamba forma um desfiladeiro em forma de ferradura ao redor da base do pico. Suas águas revoltas cortam caminho através do verde-esmeralda da selva.
Como convém a uma cidade que, acreditamos, serviu no início de modelo para Cuzco e depois imitou-a, Machu Pichu também se compunha de doze terraços, ou grupos de estruturas. O grupo para uso real e religioso encontrava-se no oeste; os grupos para uso residencial e de atividades (ocupado na maior parte pelas Virgens e pela hierarquia dos clãs) localizava-se a leste, separado por uma série de terraços largos. O povo que cultivava os terraços elevados vivia fora da cidade e nos campos adjacentes (muitos vilarejos foram encontrados desde a descoberta inicial, por Bingham).
Alguns estilos de construção, como em Cuzco e outros sítios arqueológicos, sugerem fases diferentes de ocupação. As casas para habitação são construídas em sua maioria de pedras naturais, unidas com argamassa. As residências reais são construídas de cantarias em camadas, tão bem trabalhadas quanto as de Cuzco. Ali existem estruturas onde o trabalho de artesanato é tão perfeito que não possui rival. Existem ainda os blocos poligonais megalíticos. Em muitos casos, os restos do Antigo Império e da Era Megalítica permaneceram como eram; em outros, a construção sobre eles é óbvia.
Enquanto os terraços mais a leste ocupavam cada centímetro quadrado da montanha, e se estendiam desde a parede da cidade, ao sul e ao norte tanto quanto o terreno permitia, e para o leste nos terraços de agricultura e funerários, o grupo oeste de terraços, que também se iniciava nas muralhas, estendia-se para o norte apenas até a borda da Praça Sagrada — como se uma linha invisível marcasse o solo sagrado e não pudesse ser transpassada.
Além dessa demarcação não vista, e em frente à grande praça do terraço para o leste, ficam os restos do que Bingham identificou como sendo a Praça Sagrada, principalmente, “porque nos dois lados ficam os maiores templos”, um dos quais com as famosas três janelas. Ali, na construção que Bingham denominou de Templo das Três Janelas, na Praça Sagrada, e no Templo Principal, os ciclópicos blocos poligonais começaram a ser usados. A forma como foram cortados, trabalhados e encaixados sem argamassa os coloca no mesmo tipo de construção que os blocos e estruturas megalíticas de Sacsayhuaman; ultrapassando a poligonalidade de qualquer outro encontrado em Cuzco, um dos blocos possui 32 ângulos.
O Templo das Três Janelas localiza-se na parte oriental da Praça Sagrada; os grandes blocos da parede leste erguem-se bem acima do nível do terraço a oeste, permitindo uma vista para o nascente através das três janelas. Trapezóides na forma, os peitoris foram cortados de pedras enormes, que formam a própria parede. Como em Sacsayhuaman e Cuzco, esse corte, o formato e o ângulo dos grandes blocos de granito dão a impressão de terem sido trabalhados como argila macia e moldável. Também aqui, os blocos de granito branco foram transportados de grandes distâncias, através de terreno irregular, rios profundos, desfiladeiros e montanhas.
O Templo das Três Janelas só possui três paredes, sendo o lado oeste completamente aberto. Lá, ele fica em frente a um pilar de pedra, com cerca de dois metros de altura. Para Birgham, ele deveria sustentar um teto, o qual (ele admite) teria sido “um dispositivo não encontrado em nenhuma outra construção”. Acreditamos que o pilar, em conjunto com as três janelas, servia para a observação dos astros.
Em frente à Praça Sagrada ao norte, encontra-se a estrutura que Bingham chamou de Templo Principal. Esse conjunto também apresenta apenas três paredes, com quase quatro metros de altura. Elas se apoiam, ou são construídas, em blocos enormes. A parede oeste, por exemplo, é construída de apenas dois blocos gigantes de pedra, mantidos juntos por uma pedra em forma de T. Um grande monólito, medindo 3 x 1,5 x 1 metro está apoiado na parede norte central, na qual sete nichos acima imitam (mas não são) janelas trapezóides.
Degraus conduzem da extremidade norte da Praça Sagrada até uma colina, cujo topo foi achatado para servir como plataforma para a Intihuatana, uma pedra cortada com toda a precisão, destinada à observação do Sol e acompanhamento de seus movimentos. Seu nome significava “A Que Prende o Sol”. Presume-se que era utilizada para determinar os solstícios, quando o Sol se afasta mais para o norte e para o sul, e sinalizar a época dos ritos para “aprisionar o Sol”. A intenção era fazer com que ele voltasse sempre, em vez de ir embora e desaparecer, deixando a Terra imersa numa escuridão como já ocorrera antes, segundo as tradições.
Localizado no lado oposto da parte ocidental, real e sagrada de Machu Pichu, ao sul da Clausura Real, eleva-se outro magnífico (e incomum) edifício da cidade. Chamado deTorreón por sua forma semicircular, sua construção em cantarias — cortadas, trabalhadas e polidas — é de uma perfeição inigualada, só rivalizada pelas cantarias da parede que envolve o Santo dos Santos em Cuzco.
A essa parede semicircular, onde se chega por meio de sete degraus, cria seu próprio recinto sagrado, ao centro do qual existe uma rocha cortada, trabalhada e esculpida em linhas de baixo relevo. Bingham encontrou evidências de que a pedra e as paredes foram submetidas a incêndios periódicos e concluiu que o recinto seria usado para sacrifícios e outros rituais ligados à veneração da pedra. Lembra a rocha sagrada que forma o interior do Templo do Monte, em Jerusalém, e também a Qua’abah, a pedra negra escondida no interior da Mesquita Sagrada, em Meca.
A veneração à rocha de Machu Pichu não está ligada ao seu topo protuberante, mas ao que se encontra na sua parte inferior. Trata-se de um enorme rochedo, no interior do qual há uma caverna, alargada e esculpida artificialmente em formas geométricas, que lembram (mas não são) escadas, assentos, bancos e postes. Além disso, o interior foi decorado com cantarias de granito branco, da mais pura cor e granulação.
Nichos e saliências de pedra aumentam a complexidade interior. Bingham presumiu que a caverna original fora alargada e preparada para receber múmias, trazidas ali porque o local era sagrado. Mas, para começar, por que era sagrado e suficientemente importante para receber os reis mortos? A pergunta nos leva de volta à lenda dos irmãos Ayar, um dos quais fora aprisionado numa caverna no Refúgio das Três Janelas. Se o Templo das Três Janelas fosse o mesmo da lenda, e a caverna também, então elas confirmariam que Machu Picchu era a legendária Tampu-Tocco.
Sarmiento, um conquistador espanhol que era também cronista, refere-se em sua História dos incas a uma narrativa local sobre o 9º. inca (por volta de 1340 d.C.): “sendo curioso sobre as coisas da Antiguidade e querendo perpetuar seu nome, foi pessoalmente à montanha de Topu-Tocco … e lá entrou na caverna que se tem por certo ser o local onde Manco Capac e seus irmãos chegaram quando viajaram para Cuzco pela primeira vez [...] depois de fazer uma inspeção completa, ele venerou o local com ritos e sacrifícios e colocou portas de ouro na janela de Capac Tocco, ordenando que dali em diante a localidade fosse venerada por todos, tornando-se um local de oração para a realização de sacrifícios e profecias. Tendo feito isto, retornou a Cuzco.”
O personagem desse relato, o 9º. inca, foi chamado de Titu Manco Capac. Ele recebeu o título adicional de Pachacutec (“Reformador”) porque, depois do seu retorno de Tampu-Tocco, reformou o calendário. Assim, como a existência em Machu Picchu do Templo das Três Janelas, o Intihuatana, a Pedra Sagrada, o Torreão e sua caverna confirmam a existência de Tampu-Tocco, a história dos irmãos Ayar, os reis pré-incaicos durante o Antigo Império, o conhecimento de astronomia e do calendário que são elementos-chave na história e cronologia compiladas por Montesinos.
A veracidade dos dados de Montesinos poderia ter sido realçada se ele tivesse razão com relação à existência da escrita nos tempos do antigo império. Descobrimos que Cieza de León tinha o mesmo ponto de vista, afirmando que “na época que precedeu os imperadores incas existiu a escrita no Peru [...] em folhas, peles, tecidos e nas pedras”. Muitos estudiosos sul-americanos agora se juntam aos cronistas antigos, acreditando que os nativos daquelas terras tinham uma ou mais formas de escrita na Antiguidade.
Numerosos estudos registram petróglifos (“escritos em pedra”) encontrados nessas terras, que mostram, em vários graus, uma escrita pictográfica ou glífica. Rafael Larco Hoyle, por exemplo (La Escritura Peruana Pre-Incana – “A Escrita Peruana Pré-Incaica”), baseado em dramatizações, sugere que os habitantes do litoral, até Paracas, possuíam escrita glífica semelhante à dos maias. Arthur Posnansky, o principal explorador de Tiahuanaco, produziu volumosos estudos, demonstrando que os sinais esculpidos nos monumentos formavam uma escrita pictográfica-ideográfica — etapa anterior à escrita fonética. E a descoberta da Pedra de Calango, agora em exposição no Museu de Lima, sugere uma combinação de escrita pictográfica com fonética, talvez até alfabética.
Um dos primeiros grandes exploradores da América do Sul, Alexander von Humboldt, abordou o assunto em sua obra principal “Vues dês Cordilléres et Monumens dês Peuples Indigenes de l’Amerique” (“Vista das Cordilheiras e Monumentos das Populações Indígenas da América”), publicada em 1824. “Recentemente tem se levantado dúvidas sobre se os peruanos, além de quippus, teriam tido conhecimento de uma escrita de sinais. Uma passagem em La Origin de los índios dei Nuevo Mundo ["AOrigem dos índios do Novo Mundo", Valência, 1610], página 91, não deixa dúvidas a esse respeito.”
Outro cronista, Padre Garcia, depois de falar dos hieróglifos mexicanos, afirma: “no início da Conquista, os índios do Peru confessavam-se, pintando caracteres que listavam os dez mandamentos e as transgressões cometidas contra eles”. E possível concluir, portanto, que os peruanos possuíam o uso de uma escrita pictórica, mas seus símbolos eram menos refinados do que os hieróglifos mexicanos, pois, geralmente, o povo fazia uso do quippus.
Escrevendo em 1855, Ribero e von Tschudi relatam outras descobertas e concluem que, de fato, existia outro método de escrita no Peru, além dos quipos. Falando de suas várias viagens, von Tschudi em Reisen durch Südamerika descreve sua excitação ao observar a fotografia de um pergaminho com sinais hieroglíficos. Ele encontrou o pergaminho original no museu de La Paz, na Bolívia, e fez uma cópia dos sinais pintados sobre ele. “Esses símbolos tiveram sobre mim um efeito surpreendente. Eu fiquei em frente a esse pergaminho por horas, tentando decifrar ‘o labirinto’ dessa escrita”. Ele presumiu que a escrita começava pela esquerda, continuava na linha seguinte pela direita, para voltar, na terceira linha, pela esquerda outra vez, e assim por diante, como uma cobra coleando. Concluiu, também, que foi escrito na época em que o Sol era adorado. Mas não foi muito além disso.
Traçou a origem da inscrição até as margens do lago Titicaca. O padre da Igreja Missionária da localidade de Copacabana, às margens do lago, confirmou que tais escritos eram conhecidos na área, mas atribuídos a um período posterior à Conquista. A explicação não parecia satisfatória, pois os nativos não possuíam escrita própria, adotando o latim dos espanhóis para se expressar. Mesmo que essa escrita hieroglífica tivesse sido usada depois da Conquista, segundo Jorge Cornejo Bouroncle (La Idolatria en el Antiguo Peru – “A Idolatria no Peru Antigo”), “sua origem deve ter sido muito mais remota”.
Arthur Posnansky (Guia General Illustrada de Tiahuanacu – “Guia Geral Ilustrado de Tiahuanaco”) encontrou inscrições adicionais nas ilhas sagradas do lago Titicaca. Na sua opinião, a escrita lembra algumas inscrições enigmáticas encontradas na ilha de Páscoa — uma conclusão com a qual outros estudiosos concordam — parecidas, por sua vez, com à escrita dos hititas. Um aspecto comum a todas elas (incluindo as inscrições no lago Titicaca) é seu sistema tipo “boi arando”: a escrita na primeira linha começa à esquerda e termina no lado direito; na segunda linha lê-se da direita para a esquerda, e assim por diante.
Sem entrar no mérito sobre como aquela escrita parecida com a dos hititas chegou ao lago Titicaca, a existência de uma ou mais formas de escrita no Peru antigo foi confirmada. Por esse lado, também, as informações de Montesinos estavam certas. A despeito de tudo isso, se o leitor ainda acha difícil aceitar a conclusão inevitável de que realmente existiu uma civilização semelhante a do Velho Mundo nos Andes, por volta de 2400 a.C, existem outras provas.
Uma pista válida, e completamente ignorada pelos estudiosos, é a repetição em muitas histórias de que ocorreu nos Andes uma escuridão assustadora em tempos remotos. Ninguém se perguntou se era a mesma escuridão — o não nascer do sol em sua hora costumeira do dia — mencionada nas lendas mexicanas sobre a história de Teotihuacan e suas pirâmides. Se realmente ocorreu tal fenómeno — o sol não apareceu e a noite foi interminável — ele teria sido observado pelas Américas.
As lembranças mexicanas e as andinas parecem corroborar umas com as outras nesse ponto, assim confirmando as próprias versões, como duas testemunhas distintas do mesmo evento. Porém, se isso ainda não é suficientemente convincente, podemos juntar as provas da Bíblia, tendo como testemunha o próprio Josué.
Segundo Montesinos e outros cronistas, um acontecimento insólito ocorreu durante o reinado de Titu Yupanqui Pachacuti II, o 15º. monarca do Antigo Império. Foi no terceiro ano de seu reinado, quando “os bons costumes foram esquecidos e as pessoas se entregaram a todos os tipos de vícios”, houve um dia em que “não houve aurora por vinte horas”. Em outras palavras, a noite não terminou no horário de sempre e o nascer-do-sol foi adiado durante vinte horas. Depois de grande comoção, confissões de pecados, sacrifícios e orações, o sol finalmente apareceu.
Esse fenômeno não pode ter sido um eclipse, porque nenhum eclipse dura tanto tempo. Além disso, os peruanos tinham conhecimento de tais eventos periódicos. A história não diz que o sol desapareceu. Apenas afirma que “não houve aurora” por vinte horas. Foi como se o sol, onde quer que tenha se escondido, tivesse parado.
Se a lembrança andina for verdadeira, então, em algum outro lugar — do lado oposto do mundo, onde deveria ser noite — o DIA teria durado duas vezes mais,ou seja, teria se estendido por vinte horas a mais.
Incrivelmente, um acontecimento desse tipo está registrado. E não há lugar melhor do que a própria Bíblia para falar dele. Foram os hebreus, sob a liderança de Josué, quando finalmente atravessaram o rio Jordão para a sua Terra Prometida e tomaram com êxito as cidades de Jericó e Ai, as testemunhas do fenômeno. Foi então que os reis amoritas formaram uma aliança para opor forças combinadas aos hebreus. Uma grande batalha foi travada no vale de Ajalon, próximo à cidade de Gibeon. Começou com um ataque noturno israelita, que provocou a fuga dos cananitas. Ao alvorecer, quando as forças cananitas se reagruparam, perto de Beth-Horon, o Bom Senhor “atirou grandes pedras do céu contra eles [...] e eles morreram; havia mais mortos pela chuva de pedras do que aqueles abatidos por espadas israelitas.” E então Josué falou com Yaweh,
“No primeiro dia em que Yaweh entregou os amoritas aos Filhos de Israel, dizendo: Ao aparecerem os israelitas, que o Sol se detenha em Gibeon E a Lua no vale de Ajalon. E o Sol se deteve, e a Lua parou, até que as pessoas se tivessem vingado dos inimigos”.
Na verdade, está tudo escrito também no Livro de Jasher:
“O Sol parou no meio dos céus e não se apressou a descer durante um dia inteiro”.
Os “peritos e eruditos” lutaram por muitas gerações com essa história do capítulo 10 do Livro de Josué. Alguns descartam a passagem, considerando-a como ficção; outros vêem ali o reflexo de um mito; outros, ainda, tentam explicar o fato narrado como um prolongado eclipse do sol. Mas não existem tais eclipses desconhecidos. E a história não fala do desaparecimento do sol. Pelo contrário, relata um evento durante o qual o sol continuou a ser visto, pendurado nos céus por “cerca de um dia inteiro” — vamos dizer, cerca de vinte horas?
O incidente, cuja singularidade é reconhecida na Bíblia (“Não existiu nenhum dia como esse, antes ou depois.”), ocorreu do outro lado da Terra, em relação aos Andes situado na América do Sul, descrevendo um fenômeno oposto mas complementar astronomicamente ao que ocorrera no Peru (América do Sul). Em Canaã (oriente Médio) o sol não se pôs por cerca de vinte horas; nos Andes o sol não se levantou pelo mesmo período de tempo.
“O fato de as duas histórias descreverem o mesmo acontecimento (astronômico), e se originarem em lugares diferentes (e posições geográficas contrárias) da Terra, não constituiria uma prova de sua veracidade”?
Que acontecimento foi esse, ainda permanece um mistério. A única pista bíblica foi a menção às pedras caindo dos céus. Sabemos que as histórias não descrevem uma parada do sol (e da lua), e sim uma perturbação da rotação terrestre em seu eixo.Uma causa possível seria a passagem de um cometa (ou outro corpo celeste) muito próximo à Terra, desintegrando-se no processo. Desde que a órbita de alguns cometas ocorra no sentido horário em relação ao sol, fica em sentido oposto ao da Terra e dos demais planetas. Tal força cinética poderia ter agido por algum tempo na rotação terrestre, diminuindo-a ou até mesmo parando-a.
Qualquer que tenha sido a causa de tal fenômeno, o que nos interessa aqui é o tempo em que ele aconteceu. A data geralmente aceita para o Êxodo foi o século XIII a.C. (cerca de 1230 a.C). Os estudiosos que tentaram recuá-la em cerca de dois séculos são minoria. Ainda assim, concluímos em outros livros de nossa autoria (veja As Guerras entre Deuses e Homens) que uma data de 1.433 a.C. se encaixaria no acontecimento, como as narrativas dos patriarcas bíblicos, bem conhecidas, e nas cronologias da Mesopotâmia e do Egito.
Após a publicação de nossas conclusões (em 1985), dois eminentes pesquisadores e arqueólogos bíblicos, John J. Bimson e David Livingston, chegaram à conclusão depois de um estudo exaustivo (Biblical Archaeology Review, setembro/outubro de 1987), que o Êxodo aconteceu ao redor de 1460 a.C. Além dos próprios achados arqueológicos, uma análise de períodos da Idade do Bronze no longínquo Oriente Médio, dados bíblicos e processos de cálculo empregados foram os mesmos utilizados dois anos antes. (Também explicamos naquela oportunidade porque escolhêramos reconciliar duas linhas de dados bíblicos ao datar o Êxodo em 1433 em vez de 1460 a.C.).
Desde que os hebreus começaram a vagar nos desertos da Península do Sinai por quarenta anos, a entrada em Canaã ocorreu em 1393 a.C.; portanto, o fenômeno observado por Josué aconteceu depois disso.
Infelizmente, o estado em que os registros de Montesinos chegaram aos estudiosos modernos deixa muitas falhas concernentes a longos períodos de cada monarca. A resposta tem de ser buscada por outro caminho. O evento, alerta Montesinos, ocorreu no terceiro ano do reinado de Titu Yupanqui Pachacuti II. Para localizar com precisão essa data, teremos de calcular partindo dos dois lados. Sabemos que os primeiros 1.000 anos desde o Ponto Zero foram completados durante o reinado do quarto monarca, em 1.900 a.C.; que o 32º. monarca reinou passados 2.070 anos desde o Ponto Zero, em 830 a.C.
Quando reinou o 15º. monarca? Os dados disponíveis sugerem que os nove reis que separam os reinados mencionados, duraram cerca de 500 anos, colocando Titu Yupanqui Pachacuti II em cerca de 1.400 a.C. Calculando para trás e partindo do 32º. rei inca (830 a.C.), chegamos a 564 como o número de anos dos nove soberanos, o que coloca o reinado de Titu Yapanqui Pachacuti II em 1394 a.C.
De qualquer forma, chegamos a uma data para o fenômeno solar nos Andes que coincide com os dados bíblicos e a datação dos acontecimentos em Teotihuacan.
A conclusão chocante é clara:
O DIA EM QUE O SOL PAROU EM CANAÃ, NO ORIENTE MÉDIO FOI A NOITE SEM AURORA NAS AMÉRICAS.
A ocorrência, assim verificada, fornece uma prova irrefutável da veracidade das lembranças andinas sobre um Antigo Império, que se iniciou quando os “deuses”entregaram ao homem o cetro de ouro, em Copacabana, às margens do lago Titicaca.
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