Ovácuo é, em teoria, a ausência total de matéria em uma certa região. Pena que, na prática, é impossível tirartoda a matéria de qualquer lugar — o espaço que há entre os planetas, estrelas e satélites, claro, é vazio o bastante para os padrões humanos.
Já faz algum tempo, porém, que a física pensa nas propriedades do vazio. Na década de 1930, dois célebres físicos fizeram previsões teóricas sobre um fenômeno chamado birrefringência do vácuo. Um deles, velho conhecido dos fãs de Breaking Bad, é Werner Heisenberg, pai da mecânica quântica. O outro é Hans Heinrich Euler, orientando de doutorado de Heisenberg que você não deve confundir com o Euler da matemática. Agora, mais de 80 anos depois, um grupo de cientistas liderado pelo italiano Roberto Mignani, do Istituto di Astrofisica Spaziale e Fisica Cosmica Milano, conseguiu observar o fenômeno na prática pela primeira vez. Festa no céu da física, alguém? O artigo está disponível no arXiv.org.
A observação veio "por tabela" quando o grupo de astrônomos, que também tem membros da Polônia e da Inglaterra, estudava a estrela de nêutrons RX J1856.5-3754, a 400 anos-luz da Terra, usando o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile.
Uma estrela de nêutrons — também conhecida como "pulsar" — é o que resta do núcleo de uma estrela muito, muito com grande (com massa mais de oito vezes maior que a do Sol) depois que ela ejeta boa parte de sua matéria no espaço em uma explosão espetacular chamada "supernova".
Além de extremamente densa, ela também tem um campo magnético fortíssimo. Explicada da maneira mais simples possível: a birrefringência do vácuo ocorre justamente quando uma área do vácuo faz com que a luz se polarize, sob influência de um campo magnético tão forte quanto o de um pulsar, este efeito age como um prisma sobre a luz.
"Esse efeito só poderia ser detectado na presença um campo magnético muito forte, como o de uma estrela de nêutrons. Isso prova, mais uma vez, que estrelas de nêutrons são laboratórios valiosos para estudar as leis fundamentais da natureza", explicou Roberto Turolla, da Universidade de Pádua, na Itália, à assessoria do ESO.
*Com supervisão de Nathan Fernandes e consultoria de Gustavo Lanfranchi, do mestrado em Astrofísica e Física Computacional da Universidade Cruzeiro do Sul.
Revista Galileu
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