Atlântida, a rainha das ondas dos oceanos.
“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor idéias teóricas. Se levares alguns pontos pequenos deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali neles meditares , verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. . . “Este é o espírito com que o autor (Philos, o Tibetano) propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão.
——————————————————————-
“O medo é a emoção predominante das massas que ainda estão presas no turbilhão da negatividade da estrutura de crença da (in)consciência de massa. Medodo futuro, medo da escassez, do governo, das empresas, de outras crenças religiosas, das raças e culturas diferentes, e até mesmo medo da ira divina. Há aversão e medo daqueles que olham, pensam e agem de modo diferente (os que OUVEM e SEGUEM a sua voz interior), e acima de tudo, existe MEDO de MUDAR e da própria MUDANÇA.” Arcanjo Miguel
—————————————————————————-
Edição e imagens: Thoth3126@gmail.com
Livro: “Um Habitante de Dois Planetas”, de Philos, o Tibetano, Livro Primeiro, Capítulo XXII – TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO, Parte A
Fonte: http://www.sacred-texts.com
CAPITULO XXIII – TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO, Parte A
Estados mentais de sentimento, emoção e intuição são as únicas coisas reais que existem. Jesus, embora Filho de Deus, e João e Paulo, foram Filhos da Solitude; Hegel, Berkeley, Sterling, Evans; todos os verdadeiros teosofistas e cristãos estão se tornando Filhos da Solitude (Mestres de si mesmos, da Arte do autodomínio), e entram em harmonia com aqueles inimitáveis estudantes da natureza (do feminino Sagrado) quando afirmam:
“Só o Espírito é real; o resto é ilusão”.
Se um homem se pensa doente, torna-se doente; se, por outro lado, mantém-se alegre nas mais adversas circunstâncias, não acha que o mundo está quase todo tomado pelas sombras – e isso sempre foi e é verdade. Tudo está em seu interior, pois o homem pode transformar o mundo num lugar de grande amargura para si mesmo, o mesmo mundo que é uma alegre canção para outros.
Por várias e dolorosas semanas vaguei sem rumo, com o peso da dor vergando minha alma; com uma sensação de entorpecido desespero que teria enlouquecido um temperamento menos equilibrado. Teria Lolix se sentido assim, ainda que por pouco tempo? Eu sentia que ela tinha se sentido pior, se é que tal coisa era possível e, nesse caso, que Deus tivesse piedade da bela e doce jovem que tanto sofrera por minha causa! Pensei em suicídio, fui tentado a fugir pela porta dos fundos da vida; em muitas ocasiões acariciei o fio da faca que o superintendente de minas me havia dado em Incalia – quanto tempo atrás? Quatro anos. Quatro anos?
Quatro séculos, diziam meus sentimentos e emoções. Eu ficava a tarde inteira parado ao lado do Maxin quando me via sozinho no templo. Ou eu só sonhava que o fazia? Sim, era um sonho que me vinha durante o sono torturado, pois ninguém podia entrar no Incalithlon (exceto o Incaliz) a não ser nos dias de culto ou quando haviam cerimônias especiais, ocasiões em que o templo ficava superlotado. Anzimee penetrava no meu deserto, às vezes, mas suas palavras, carícias e tentativas de me fazer sair da letargia eram inúteis. Todos os seus esforços eram como raios de luz incidindo nas águas escuras e sem lustro de certas poças às vezes encontradas na floresta.
Deixado a sós com meu remorso, pois as tentativas inúteis de meus amigos pareciam produzir mais mal do que bem e por isso eles tinham desistido, tomei meu vailx particular e, para cortar qualquer comunicação com o mundo, tirei o naim que nele havia. Sem avisar a pessoa alguma sobre minhas intenções, levantei voo durante a noite. Andei a esmo pelos domínios do ar, subindo tão alto em certas ocasiões que me parecia estar em quase total escuridão, lá de onde podia ver o Anel Neftiano e onde nem mesmo os geradores de ar e os aparelhos de aquecimento conseguiam manter o ar suficientemente denso e quente para tornar suportável minha miserável vida.
Ou então, sempre sozinho e igualmente buscando o escuro, fazia meu vailx mergulhar nas profundezas do mar onde peixes fosforescentes teriam confundido minha nave com um irmão maior, se eu tivesse me dado ao trabalho de acender as luzes. Mas minha alma estava em trevas, e de que valia iluminar o vailx se tendo olhos para ver eu não vira?
Tão aguda e amarga era a horrível angústia de minha alma que finalmente o barro de meu corpo perdeu seu poder sobre mim e eu me elevei acima do tempo e da terra, permanecendo naquele estado por um período aparentemente interminável. Nenhuma luz parecia existir na terrível escuridão, nem qualquer calor; só as trevas da morte, o frio da tumba.
Ninguém cruzando o meu caminho, nenhum som além de gemidos abafados e sem sentido. Mas afinal línguas de fogo passaram diante de meus olhos e depois se foram, deixando as trevas mais espessas do que antes. Silvos horríveis, como de serpentes gigantescas, assaltaram meus ouvidos e uma dor cruciante pareceu dissolver minha própria alma. Finalmente meus nervos não conseguiram mais reagir àquela torturanteagonia e perdi toda sensação. A paralisia tomou conta de mim e exclamei: “É isto a morte?” Mas só o eco me respondeu. Os silvos tinham cessado e tudo estava silencioso.
Finalmente fui tomado de um profundo medo daquela solidão, escura e fria, mas na qual, em algum lugar, eu podia distinguir uma pequenina luz, que parecia tornar a intensa escuridão ainda mais sufocante. Gritei alto, mas só ecos responderam. Gritei e gritei, tomado do mais intenso terror. Não ouvi o menor som de resposta naquele vasto negrume, a não ser o de minha própria voz, refletida. A descoberta de que minha prisão era limitada surgiu depois que percebi que se passava um longo tempo entre meu grito e o seu retorno. Com isso senti que podia ir embora; levantei-me e saí daquele lugar como se tivesse asas, e voei mais rápido que o pensamento.
Encontrei altas escarpas nas trevas e de vez em quando vislumbrava um pico à luz mortiça de uma cratera em chamas, mas não encontrei criatura alguma. Eu estava num universo de solitude. Sozinho, ah, tão sozinho! O horrendo desespero que então me engolfou me fez gritar de dor, uma dor mais que mortal. Meus olhos estavam secos e a alma esmagada. O desespero foi tão insuportável que desejei muito perecer. Vão desejo! Foi então que lembrei que possuía um corpo terreno e que encontrá-lo, apenas vê-lo, seria um alívio. Voei como um raio até ele, para encontrá-lo frio e sem vida, a não ser por um pequenino ponto de luz magnética no plexo do coração e outro na medula oblongata.
Mas ao seu lado, ó Incal! Encontrei Lolix chorando, rogando ao nosso Deus que. . . me revivesse. Ela parecia não notar minha presença, buscava-me naquele frio corpo de barro. Eu soube então que havia sido lembrado de meu Eu (o corpo) físico por causa das súplicas da alma daquela mulher. Aquela súplica, aquela angústia, não pude mais suportar. Fui para o lado dela, toquei-a e ela me viu. Olhou longamente para mim, depois para o meu corpo. “Zailm, és tu? Meu amor, meu amor! Oh, abraça-me antes que eu caia!” Ela se jogou contra meu peito e naquele instante meu corpo desapareceu junto com todas as outras coisas, menos o arenoso deserto onde tínhamos nos encontrado. . .
Em seguida, diante de nosso olhar cheio de temeroso espanto surgiu um bebê, tão pequeno que parecia ter acabado de nascer. Contudo foi capaz de chegar até nós e podia chorar, e seu choro feriu nossos ouvidos como gritos de mortal agonia! Estava pingando sangue e seus olhos eram os de uma criança morta. Com um grito de angústia Lolix falou:
“Ó Incal, meu Deus, meu Deus! Já não sofri que chegue, para que meu bebê morto, assassinado, venha destruir minha alma! Zailm! Zailm! E nossa filhinha, a criança que matei antes de nascer, por tua causa!”
Meu coração pareceu parar e fiquei imobilizado, olhando para a criança que estendia as mãos cobertas com o sangue de seu nascimento frustrado e levantou os olhos vítreos para mim! Abaixei-me e tomei-a nos braços, abraçando-a, tentando aquecer seu pobre e gelado corpinho; e chorei, sim, finalmente derramei grandes lágrimas verdadeiras, porque eram derramadas por outrem. Com a voz embargada pela angústia eu disse:
“Lolix, teu pecado recai em minha cabeça, porque pecaste por minha causa. Que Incal tenha misericórdia de mim!”
Naquele instante uma gloriosa radiância iluminou a cena e o futuro Portador da Cruz surgiu ao nosso lado, vendo-nos abraçados, eu, Lolix e nossa criança. Aquele que eu tinha visto perto da fonte enluarada, anos antes, ali estava. Em Seu peito brilhava uma Cruz de Fogo, um fogo que ondulava com viva Luz. Ele falou:
“Vejo que clamaste pelo Mais Elevado, pedindo misericórdia. Porque mostraste piedade pela criança, também a receberás. Viestes a Mim e Eu te darei. . . descanso. Contudo, esse repouso que te dou não estará contigo até o dia em que a Grande Paz penetre em teu coração. Portanto, num dia distante, farás a triste colheita da desgraça e pagarás todo o teu débito. Quando novamente tu voltares, e ela contigo, e de novo estiverdes prontos para partir para o Navazzimin, então vós estareis para sempre livres da terra. Tendo recebido, portanto dareis. Aquele que leva outro a pecar, fez com que os passos desse outro e os seus próprios se desviem de Meu caminho. É necessário que o pecador me entregue seu coração e volte ao campo da dor, não num corpo de carne mas de espírito. Deverá encontrar suas vítimas e trabalhar com elas para que voltem do ponto em que as tenha colocado. Dessa forma, ele volta a colocar nas próprias costas o ferdo que as fez colocar ali. Então carregará o ferdo para elas até que, seguindo seus conselhos, suas almas tenham voltado para Mim. E eu tomarei esse seu fardo, essa sombra, e ela cessará, pois Eu Sou o Sol da Verdade. Pode a sombra existir à luz do Sol? Pode a sombra pousar sobre o Sol? Da mesma forma não há como pousar pecados sobre Mim nem me fezer carregar seu peso. A pequena alma levarei Comigo; tu a ofendeste e ela será uma pedra pendurada em teu pescoço, lançando-te no mar da dor terrena; entretanto escaparás, pois teu nome ainda está no Livro da Vida. Descansa agora! E tu, Minha filha, descanse também!”
Vi-me de volta ao meu corpo, incapaz de recordar o que se passara, mas muito fatigado. Adormeci. A natureza veio socorrer minha alma cansada e por vários dias tive febre que depois passou para o coma, do qual finalmente saí, fraco mas curado, embora continuasse a sonhar acordado. Sonhei que estava no Incalithlon de Caiphul. “Oh, a agonia! Oh, o terrível preço do pecado!” Mas finalmente voltei a Caiphul depois das muitas semanas em que estive perdido para meu parvo; três meses, na verdade. Voltei para o meu lar. Quando cheguei ao palácio encontrei funcionários, senhoras e atendentes da corte, de quem tinha sido amigo e como tal fora por eles tratado.
Mas agora todos me olhavam com o rosto sem expressão e não mecumprimentavam. Seria minha vida conhecida por todos? Não. Não era esse o motivo da indiferença das pessoas. Eu não estava sendo esperado, tinham me considerado morto. Durante os cem dias de minha ausência, Menax e Anzimee tinham concluído que eu morrera, que talvez tivesse me suicidado. Seria melhor para mim se essa conclusão fosse a verdadeira em sua primeira parte. Mas eu estava de volta, resolvido a ser franco e aberto em meu relacionamento com as pessoas que mais amava na terra. Eu confessaria minhas faltas e imploraria seu perdão. Mais uma vez era muito tarde!
Menax, há muito sofrendo de um mal do coração, julgando-me morto por não ter voltado para Anzimee, não tinha suportado o choque que essa crença lhe causara. Disseram-me que tinha ido para o Navazzimin (morrido) fazia poucas semanas. Temi perguntar por Anzimee e ouvir alguma terrível notícia. Em minha desgraça, vaguei pela cidade e logo me encontrei diante do grande templo. Uma pequena porta estava aberta e como não vi ninguém por ali, entrei, sem me importar com o fato de que só os Incali tinham permissão para entrar. Esperava encontrar um pouco de alívio no sagrado local.
Parecia não haver ninguém lá dentro e continuei andando até chegar ao Ponto “Vital. Ali, esquecido de mim mesmo, olhei com reverência para a Luz Perene. Depois passei para o outro lado do cubo de quartzo e ali estava Lolix, parada e fria! Meu cérebro se agitou. Fui até ela e a encontrei tal como estava quando olhara pela última vez para seu querido corpo – era de pedra, só pedra! Quantos anos tinham se passado? Uma vida inteira cabe num dia, séculos se passam em poucas semanas. Lolix, Lolix, minhaacusadora!
Coloquei a mão em sua gélida forma e estremeci com o frio; curvei-me, olhei para os olhos que não podiam me ver e beijei os frios lábios que não podiam me retribuir. “Contudo ela não falou, embora ele beijasse o silencioso rosto no costumeiro lugar”. Em sua mão estava um rolo de pergaminho vermelho! Tentei removê-lo e ler o que continha, se é que ali havia alguma coisa escrita. Havia, sim, e dizia o seguinte: “Sendo esta estátua o registro de um desprezível crime, eu, Gwauxln, Rai de Poseid, proíbo sua remoção até segunda ordem. Que ela aqui permaneça, como silenciosa testemunha, diante do criminoso.”
Com um estremecimento, recoloquei o pergaminho na pétrea mão e quase desmaiei ao ouvir o ruído seco que ele fez ao raspar na pedra. Seria eu o criminoso? Não, não aquele, mas senti como se o fosse. Decidi voltar ao palácio Agacoe e pedir permissão ao Rai para retirar a estátua daquela que ele sabia que eu amara, mas não tivera a coragem de confessá-lo ao mundo. Sim, as circunstâncias a tinham tornado mais preciosa para Zailm do que a própria Anzimee.
Quando me virei para sair dali e dirigir-me a Agacoe, espantei-me ao me ver diante do Rai Gwauxln, a me olhar pesarosamente. Espantei-me apenas, pois nada mais poderia aterrorizar-me. Antes que eu falasse, ele disse: “Sim, tens meu consentimento para removê-la”. Não me surpreendeu que ele lesse meu pensamento, embora me desse conta do fato. O que senti foi uma grande gratidão. Eu era forte e imediatamente me dispus a executar meu intento. Olhei longamente uma última vez para os olhos azuis, para o rosto dela, que quase pareceu sorrir quando dei um beijo soluçante em seus lábios.
Então levantei-a do chão de granito. O pé que aparecia sob a barra de sua saia de pedra quebrou-se no tornozelo, logo acima das tiras da elegante sandália, quando ergui o corpo esguio que tinha se tornado tão pesado. Ergui-a mais e mais alto, até o topo do cubo do Maxin, e deixei que caísse na direção da Luz Perene. “Beija-a e deixa-a; teu amor é barro.” Ao tocar a Luz-Maxin ela desapareceu instantaneamente, sem perturbar a luz mais do que a fuga das trevas quando o Sol da manhã ilumina os vales. Calma se manteve a Luz Perene, imutável como sempre. Ao virar as costas, vi o pequeno pé quebrado, onde brilhavam as safiras e diamantes que enfeitavam a sandália – um presente meu!
Consegui pegar aquele resto dela sem quebrá-lo ainda mais e, em vez de também entregá-lo ao Maxin, enrolei-o em meu manto, grato por ter aquela lembrança. Não consegui reunir coragem suficiente para perguntar por Anzimee. Temia seu possível e merecido desdém. Eu a procuraria, descobriria se ela ainda estava viva ou se morrera como Menax. Se fosse este o caso, eu usaria a primeira oportunidade- o dia seguinte me favoreceria porque seria o início de um Incalon ou dia de culto geral – e voltaria ao templo onde banharia meu ser físico na imutável chama da Luz Perene.
Anzimee não morrera, nem fora informada de minha volta. Eu a encontrei e vi a sombra da dor em seus belos olhos cinzentos que se arregalaram de espanto ao me verem. Então, com um grande soluço, ela caiu nos meus braços, perdendo a consciência. Pobre menina! Continuei abraçando-a, mantendo-a apertada contra meu coração e, enquanto beijava seus pálidos lábios, seus olhos enegrecidos por olheiras, suas faces abatidas, minhas lágrimas caíram em seu rosto como chuva, as primeiras lágrimas que meus olhos febris derramavam por força da grande agonia de minha alma.
Finalmente ela voltou a si, mas só para cair doente, e sua enfermidade durou tão longo tempo que seu espírito puro quase abandonou a casca terrena. Só depois de várias semanas ela começou a melhorar. Quando já estava melhor, tendo voltado a agir com sua habitual discrição, mas já capaz de suportar o meu relato apesar de fraca, sentei-me no Xanatithlon, no mesmo lugar onde Menax e eu tínhamos sentado havia tanto tempo. Puxei a esguia forma de Anzimee para o meu colo e, com meu braço à sua volta, contei-lhe a triste história de Lolix e da minha miserável fuga para escapar às tristes lembranças – inutilmente! Ninguém pode fugir de si mesmo. Fiz uma completa confissão e pedi o seu perdão.
Por algum tempo ela nada disse, mas seu braço rodeou meu pescoço e ficamos estreitamente abraçados. Finalmente ela falou: “Zailm, eu te perdôo, do fundo do coração! És apenas um mortal. Pecaste; não peques mais. Não me surpreende que tenhas amado aquela querida criatura.” Diante dessas palavras, peguei a lembrança de Lolix, que eu trouxera comigo apesar do peso, e entreguei-a a Anzimee sem nada dizer. “Este é o pezinho dela? Ó Lolix! Eu também te amava! Zailm, quero guardar isto em memória de minha amiga.” Respondi: “Anzimee, minha esposa, pois serás minha mulher, tu me perdoaste, como teu tio, nosso Rai, me perdoou.
Mas faltam alguns meses para que eu possa te desposar para sempre. Irei para Umaur (América do Sul), para uma parte desabitada, pois em Aixa com certeza há minerais e nos seus arenosos ermos encontrarei ouro. Não que eu precise de ouro, pois tenho milhões, tenho três milhões de teki e muitas outras riquezas; mas tudo que a terra ofereça será bom que Poseid tenha. Vou porque temo ficar em Caiphul e não conseguir sair do teu lado. Em Umaur poderei te ver, te ouvir, te amar, pois desta vez não removerei o naim, de modo que será como se eu estivesse aqui. Portanto beija-me, querida, pois após nossa carinhosa despedida partirei. Que Incal esteja contigo e Sua Paz te infunda!”
De Caiphul até a região da costa de Umaur mais próxima do local onde eu pretendia ir, eram duas mil milhas (3.618 quilômetros). A distância passou despercebida porque meus pensamentos estiveram com Anzimee até que chegássemos na parte onde os mapas de hoje colocam o grande deserto nitroso do Atacama (norte do Chile). Era um deserto já naquele tempo.
Examinando o subsolo próximo à base dos Andes, vimos que era suficientemente rico em ouro para justificar a instalação do gerador elétrico a água, o que eu e meus homens fizemos. O gerador era um instrumento contendo várias centenas de jardas quadradas de superfície metálica em placas, arranjadas em camadas dispostas como as guelras dos peixes, sendo o conjunto protegido por uma caixa de metal bem vedada.
Uma corrente de ar entrava por um lado da caixa e tinha de atravessar cada polegada de ambos os lados das placas antes de tocar o outro lado. Como cada placa era mantida muito fria pelas forças de Navaz, o resultado era a rápida deposição de umidade da atmosfera. No caso o gerador era do tipo portátil e o fluxo de água condensada era de aproximadamente um litro por minuto, o bastante para permitir uma boa atividade de mineração, considerando-se a maneira econômica com que nossas máquinas usavam água.
Eu tinha trazido um cavalo de Poseid e, depois que as atividades de mineração foram organizadas e os homens começaram a trabalhar, mandei selar o animal e levando comigo uma maleta com localizadores de minerais – instrumentos leves operados por algo parecido com uma bateria (e portanto não pela energia do Lado-Noite) para determinar a localização de depósitos de minérios pelo princípio do eletrômetro – saí para fazer a prospecção de minerais valiosos.
Levei comigo um pequeno naim para manter a comunicação com o resto do mundo. Logo deixei o aparelho numa saliência protegida, com a intenção de pegá-lo de volta quando retornasse, pois não tinha ainda percorrido cinco milhas quando descobri que o instrumento estava inutilizado devido à perda de seu vibrador.
Não sei onde poderia ter perdido essa peça essencial mas resolvi não voltar para procurá-la. Essa perda, embora me aborrecesse, representou um alívio para minha montaria, reduzindo o peso em várias libras, o que não era pouca coisa, considerando que eu estava levando também um rifle - diferente em princípio de qualquer arma moderna atual, pois sua energia propulsiva era a eletricidade e não a pólvora – meus instrumentos de mineração, pacotes de nozes e tâmaras, uma bússola polar, o aparelho fotográfico de bolso e um pequeno gerador, além dos apetrechos de dormir e o peso de meu próprio corpo.
Percorri uma boa distância até a noite e ao entardecer do dia seguinte me encontrava a mais de cem milhas do acampamento. Quando o Sol começou a se pôr, eu estava cavalgando pelo leito de uma profunda ravina. A pouca distância dali vi o que me pareceu ser a entrada de uma pequena caverna que me serviria muito bem para passar a noite abrigado. Meu cavalo era bem treinado e ficaria por perto do lugar onde eu o deixasse, pronto para obedecer meu assobio quando eu o chamasse.
Desmontei e entrei na caverna. Parecia um longo túnel; sem inspecioná-lo, voltei até minha montaria e retirei a sela e a comida. O cavalo se alimentaria com oabundante capim que por ali crescia. Também coloquei meus instrumentos embaixo da sela e, pegando meu rifle elétrico, estava a ponto de voltar à caverna para investigá-la quando meu cavalo reclamou por água.
Como a ravina era um riacho seco, providenciei água para ele e para mim. A ravina era formada por um leito de rocha lisa como cimento, com numerosas depressões do tamanho de baldes. Ao lado de uma delas coloquei o gerador e logo a cavidade estava cheia de água fria e refrescante. deixei o sedento animal beber, e eu mesmo matei a sede tomando o precioso líquido diretamente da saída do gerador. Como mepareceu gostoso! Deixei o gerador com a água ainda correndo ao lado da depressão, sem imaginar o quanto precisaria dele muito breve, sem poder usá-lo.
Verifiquei que o piso da caverna era da mesma pedra da ravina. Eu sabia que não era do tipo de rocha que contém minérios, mas fiquei curioso e resolvi ir até o fim do túnel. Trazia no bolso uma pequena lanterna que acendi para iluminar o caminho, que foi ficando escuro com a distância. Andei cerca de meia milha pelo túnel que ia se alargando e então parei, tomado de surpresa. Em toda aquela região não tinha visto um só sinal de presença humana, recente ou antiga, até aquele momento. Diante de mim, apenas parcialmente visível, estava uma casa de que eu via parte de duas paredes de basalto. Com a surpresa deixei a lanterna cair; esta se quebrou e a luz se extinguiu, mas não estava totalmente escuro, pois um pouco da luz do dia se filtrava de algum lugar.
Fiquei por um bom tempo naquela obscura caverna, contemplando a casa arruinada. De onde tinham vindo seus construtores e em qual era já esquecida? Para onde tinham ido? Seria aquela uma construção solitária, ou haveria outras escondidas pelas areias da planície próxima? Minhas conjeturas foram variadas e curiosas, pois nos anais de Poseid, que cobriam dezenas de séculos com registros muito concisos, não havia qualquer menção a povos civilizados ou selvagens que tivessem habitado aquela “Terra de Ninguém”.
Continua na parte B…
Nenhum comentário:
Postar um comentário