Serie De Ficção Cientifica Brasileira: A nossa vida é repleta de magia quando entendemos, e unimos a nossa sincronicidade com o todo. “A Harpa Sagrada” inicia-se numa serie de revelações onde o homem tem sua essência cravada no sagrado, e o olhar no cosmos aspirando sua perfeição.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Os Reinos Perdidos: Os Caminhos do Céu (8)



Livro Os Reinos Perdidos, capítulo VIII – Os caminhos do Céu
A Bíblia descreve as maravilhas dos céus e o milagre da sucessão dos dias e noites, se seguindo um ao outro, enquanto a Terra gira em seu eixo (a “linha”, no salmo bíblico, que atravessa a Terra) e orbita em torno do Sol, que fica no centro de tudo (como um potentado em sua tenda).
O dia é Vosso e a noite também; Vós criastes a Luz e o Sol… Verão e inverno por Vós foram criados
Durante milênios, desde que o homem formou civilizações, muitos sacerdotes-astrônomos observaram o céu procurando guiá-lo na Terra — desde os zigurates da Suméria e da Babilônia, aos tem­plos do Egito, ao círculo de pedras em Stonehenge, ou ao Ca­racol, em Chichén Itzá. 
Edição e imagens:  Thoth3126@gmail.com
Livro, OS REINOS PERDIDOS (The Lost Realms), da série de livros Crônicas da Terra, capítulo VIII, “Os caminhos do Céu”, de Zecharia Sitchin

Capítulo 8 – OS CAMINHOS DO CÉU 
“Os céus testemunham a glória do Senhor
E a abóbada dos céus revela sua arte.
Um dia segue-se a outro,
Noite após noite transmite sabedoria —
Sem palavras, sem falar,
Sem que sua voz seja ouvida.
Através da Terra sua linha passa,
Para os confins do mundo vai sua mensagem;
Nela Ele fez o Sol montar sua tenda”. 
Movimentos complexos dos corpos ce­lestes, de estrelas e planetas, foram observados, calculados, re­gistrados. Para tornar isso possível, os zigurates, templos e ob­servatórios foram alinhados com precisas orientações astronômicas celestes, e providos de aberturas e outros recursos arquitetônicos que per­mitiam a entrada da luz solar, ou a de uma determinada estrela no momento dos solstícios e equinócios. 
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O Ca­racol, em Chichén Itzá.
Por que o homem chegou a tamanhos extremos? Para ver o quê… determinar o quê?
É costume entre os especialistas atribuir ao homem antigo estudos de astronomia adequados às necessidades de sociedades agrícolas para saber quando semear e quando colher. Essa jus­tificativa foi aceita sem críticas durante muito tempo. No entanto, um fazendeiro trabalhando a terra ano após ano tem melhores condições de julgar as estações mais apropriadas para o cultivo e a época das chuvas do que um astrônomo, e ainda conta com o auxílio da marmota nessa tarefa! O fato é que os bolsões de sociedades primitivas, subsistindo com a agricultura, encontra­dos em partes remotas do planeta, sobreviveram por muitas ge­rações sem astrônomos e sem um calendário preciso. É também aceito o fato de que o calendário foi criado por uma sociedade urbana, e não agrícola.
Ora, um simples relógio solar pode fornecer informações diárias e sobre as estações, se não for possível sobreviver sem elas. Ainda assim, os povos antigos estudaram os céus e alinharam seus templos com o movimento dos planetas e das estrelas, e ligaram seus calendários e festivais não ao solo, mas aos céus. Por quê? Simplesmente porque o calendário não foi projetado em função da agricultura, mas sim com propósitos religiosos. Não foi para beneficiar a humanidade, mas sim para ve­nerar os deuses. E os deuses, segundo as primeiras reli­giões, e as versões do povo que nos legou o calendário, vieram dos céus.
Devíamos ler e reler a Bíblia para perceber que a observação das maravilhas dos fenômenos celestes não estava relacionada com o cultivo da terra ou a criação de animais, mas com a ve­neração do “Senhor”. E não existe forma de entender melhor isso do que voltar à Suméria, pois foi lá, cerca de seis mil anos atrás, que a astronomia, o calendário e a religião, ligando o Céu e Terra, se iniciaram. Essa sabedoria foi dada a eles pelos Anunnakis (“Aqueles Que do Céu para a Terra Vieram”), o povo nefilim, que vieram à Terra de seu planeta, Nibiru. Nibiru, diziam eles, era o 12º. planeta do sistema solar, e por isso a abóbada celestial foi dividida em doze casas e o ano em doze meses. A Terra era o sétimo planeta (contando de fora para dentro); e como 12 era um número sagrado celestial, o número sagrado terrestre era o 7.
Os anunnaki, registraram os sumérios em várias tábuas de argila, tinham vindo à Terra antes do Dilúvio. Em O 12° Planeta, determinamos que esse fato aconteceu 432 000 anos antes do Dilúvio — um período equivalente a 120 órbitas (Shar) de Nibiru, órbitas essas que para os anunnaki representavam apenas um ano, o equivalente a 3.600 anos terrestres. Eles iam e vinham entre Nibiru e a Terra cada vez que seu planeta se aproximava do nosso Sol (e da Terra), enquanto passava entre Júpiter e Marte. Não há dúvida de que os sumérios começaram a observar o céu, não para saber a época da colheita, mas para ver e celebrar o retorno do “Senhor dos céus”.
Acreditamos ser esse o motivo do homem ter se tornado um astrônomo. À medida que o tempo passava e Nibiru não podia mais ser observado, o homem começou a procurar sinais e pro­fecias nos fenômenos que podiam ser vistos A astronomia teria gerado a astrologia. E se as orientações da astronomia, os ali­nhamentos e divisões celestiais que se iniciaram na Suméria pu­dessem também ser encontrados nos Andes, um elo irrefutável seria encontrado.
Em alguma época durante o quarto (n.t. em torno de 3.760 a.C, início do Calendário hebreu) milênio a.C., segundo alguns tex­tos sumérios, o líder de Nibiru, Anu, e sua esposa Antu visitaram a Terra. Uma nova área sagrada com uma torre-templo foi cons­truída em sua honra num local que mais tarde seria conhecido como Uruk (a Erech bíblica). Existe um texto, em tábuas de argila, que descreve a noite da recepção. Ela tivera início com um ban­quete, cujo primeiro rito fora a lavagem das mãos como um sinal celestial — o aparecimento de Júpiter, Vênus, Mercúrio, Saturno, Marte e da Lua. Então, a primeira parte da refeição fora servida, seguida de um intervalo.
Enquanto um grupo de sacer­dotes cantava o hino Kakkab Anu Etellu Shamame (“O Planeta de Anu se Eleva nos Céus”), um astrônomo-sacerdote, no ponto “mais elevado da torre do templo” aguardava o aparecimento do planeta de Anu, Nibiru. Quando o planeta foi avistado, todos os sacerdotes entoaram a canção “Para Aquele Que Brilha, o Pla­neta Celestial do Senhor Anu” e o salmo “A Imagem do Criador Surgiu”. Uma fogueira então foi acesa para marcar o momento e transmitir a boa nova às cidades vizinhas. Antes que a noite terminasse toda a terra estava iluminada por fogueiras. Pela ma­nhã foram recitadas as preces de agradecimento.
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Gudea
O cuidado e o grande conhecimento de astronomia, necessários à construção de templos na Suméria, ficam evidentes nas inscri­ções do rei sumério Gudea cerca de 2.200 a.C. Dizem elas que primeiro apareceu a ele “um homem que brilhava como o céu” e que estava de pé em frente a um “pássaro divino”; este ser “que pela coroa na cabeça, obviamente, tratava-se de um deus”, era o deus Ningirsu, acompanhado por uma deusa que “segurava com uma das mãos uma pontinha de sua estrela auspiciosa nos céus e com a outra um estilete sagrado” com o qual apontava para o rei “o planeta favorável”; um terceiro deus, de aparência humana, tinha nas mãos uma tábua de pedra preciosa, na qual a planta do templo estava desenhada. Uma das estátuas de Gudea o representa em posição sentada, com a tábua sobre os joelhos, onde o desenho trazido pelo deus Ningirsu pode ser visto com clareza: é a planta baixa do templo com uma escala para cons­truí-lo em sete estágios, cada um menor do que o outro, à medida que se eleva para os céus. O texto indicava que não era um templo solar, mas um templo estelar e planetário.
O sofisticado conhecimento de astronomia demonstrado pelos sumérios não estava limitado à construção de templos. Conforme abordamos em outros volumes, foi na Suméia que todos os con­ceitos e princípios da moderna esfera astronômica foram esbo­çados. A lista pode começar com a divisão de um círculo em 360 graus, o conceito de zênite, de horizonte, e de outras termi­nologias da astronomia, terminando com o agrupamento das es­trelas em Constelações, a idealização, terminologia e represen­tações pictóricas do Zodíaco, com suas doze casas, e o reconhe­cimento do fenômeno da Precessão dos equinócios — o retardamento, em cerca de um grau a cada 72 anos, do movimento da Terra ao redor do Sol.
Enquanto o Planeta dos Deuses, Nibiru, apareceu e desapa­receu no curso de seu ano (Shar) de 3.600 anos terrestres, a humanidade, na Terra, pôde contar a passagem do tempo apenas em termos da própria órbita ao redor do Sol. Depois do fenômeno do dia (atividade) e da noite (repouso), o mais fácil de reconhecer era o das estações. Como atestam os abundantes círculos de pedra, não era difícil estabe­lecer referências para marcar os quatro pontos da relação Sol/Ter­ra: o aparente levantar do Sol mais alto nos céus, depois demo­rando mais, quando o inverno dá lugar à primavera; um ponto em que o dia e a noite parecem iguais; depois, o distanciamento gradual do Sol, tornando os dias menores e causando a dimi­nuição da temperatura.
O Sol dá a impressão de desaparecer à medida que a escuridão e o frio aumentam. Depois pára, hesita, e dá a impressão de voltar. Então, todo o ciclo é repetido, dando lugar a um novo ano. Assim, eram estabelecidas as quatro ocor­rências do ciclo Terra/Sol: os solstícios de verão e de inverno (“paradas solares”), quando o Sol alcança sua posição máxima ao norte e ao sul, e os equinócios de primavera e outono (quando os dias e noites são iguais).
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O movimento de rotação inclinado do planeta provoca o fenômeno da precessão dos equinócios a cada 2.160 anos.
Para relacionar esse movimento aparente do Sol em relação à Terra, quando na verdade é a Terra que gira ao redor do Sol — um fato conhecido e representado pelos sumérios — era ne­cessário fornecer a um observador na Terra um ponto celestial de referência. Isto foi conseguido dividindo os céus, o grande círculo formado pela Terra ao redor do Sol, em doze partes — as doze casas do Zodíaco, cada uma com seu próprio grupo de estrelas visíveis (as Constelações) ao fundo. Um ponto foi escolhido — o equinócio da primavera — e a casa do Zodíaco onde o Sol es­tivesse no instante em que foi declarado o primeiro dia do pri­meiro mês do ano novo. Toda a pesquisa, desde os mais antigos registros até agora, estava na casa zodiacal, ou na Era astronômica de Touro.
Então chegou a Precessão dos equinócios para estragar o sistema. Em virtude da inclinação do eixo terrestre em relação a seu plano orbital ao redor do Sol (23,5° graus atualmente) e gira no topo, o eixo apon­tando para um ponto fixo formaria no céu um grande círculo imaginário que levaria 25 920 anos para se completar. Isso sig­nifica que o “ponto fixo”, mudando um grau a cada 72 anos, gira completamente de uma casa do zodíaco para outra a cada 2 160 anos. Cerca de dois milênios depois do início do calendário na Suméria, foi necessário promover uma reforma e selecionar como ponto fixo a casa de Aries. Nossos astrólogos ainda orien­tam seus horóscopos pelo ponto fixo na casa de Aries, embora saibam que estamos há quase dois mil anos na Era de Peixes (e a ponto de ingressar na Era de Aquário).
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O movimento de rotação inclinado da Terra provoca o fenômeno da precessão dos equinócios a cada 2.160 anos.
A divisão da abóbada celeste em doze partes, em honra aos doze membros do sistema solar e ao panteão de doze deuses olímpicos, também trouxe ao ano solar uma estreita correlação com a periodicidade da Lua. Porém, desde que o mês lunar não preenche exatamente doze vezes o ano solar, métodos complexos de intercalação foram inventados para adicionar dias, de vez em quando, para permitir o alinhamento com o ano solar.
Pela contagem babilônica, no segundo milénio a.C, os templos precisavam de um alinhamento triplo: com o novo Zodíaco (Aries), com os quatro pontos solares (na Babilónia, o mais importante era o equinócio de primavera), com o período lunar. O templo principal da Babilónia era devotado ao deus nacional Marduck. Suas ruínas foram encontradas em bom estado de conservação e ali se exem­plificam todos esses princípios de astronomia. Também foram en­contrados textos que descrevem a arquitetura em termos de doze portões e sete estágios, permitindo que os estudiosos os recons­truíssem, recriando sua utilidade como um sofisticado observatório solar, lunar, planetário e estelar.  
A astronomia combinada com a arqueologia pode ajudar a datar monumentos, explicar acontecimentos históricos e definir as origens celestiais das crenças religiosas. Tudo isso só foi re­conhecido recentemente. Levou quase um século para que essa compreensão chegasse ao nível de uma disciplina chamada arqueoastronomia. Foi em 1894 que Sir Norman Lockyer (The Dawn of Astronomy – “A Aurora da Astronomia”) demonstrou que em todas as épocas e em quase todos os lugares — desde os san­tuários mais antigos até as maiores catedrais — os templos têm sido orientados pela astronomia.
É bom observar que a ideia ocorreu a ele devido a “um acontecimento” fantástico: “na Babi­lónia, desde o começo das coisas, o sinal para Deus era uma estrela”; da mesma forma, no Egito, “nos textos hieroglíficos, três estrelas representavam os deuses plurais”. Ele também observou que no panteão hindu os deuses mais venerados nos templos eram Indra (“O Dia Trazido pelo Sol”) e Ushas (“Aurora”), deuses relacionados ao Sol.
Concentrando-se no Egito, onde os templos antigos ainda estão intactos, permitindo estudar com detalhes sua arquitetura e orientação, Lockyer reconheceu que os templos da Antiguidade eram orientados pelo Sol ou pelas estrelas (que também são sois, mais distantes). Os do primeiro grupo, eram templos (pelo eixo, ou funções do calendário) alinhados com os solstícios ou equinócios. Os do segundo grupo eram templos não ligados a nenhum dos quatro pontos solares, mas projetados para observar e venerar o surgimento de determinado astro, num dia determinado, num ponto fixo no horizonte.
Lockyer achou impressionante o fato de que quanto mais antigos, mais sofisti­cada se apresentava a astronomia. Sendo assim, no início da ci­vilização, os egípcios eram capazes de combinar um aspecto es­telar (a estrela mais brilhante da época, Sirius) com um evento solar (o solstício de verão) e com a enchente anual do Nilo. Loc­kyer calculou que a tripla coincidência ocorre a cada 1.460 anos, e que o Ponto Zero dos egípcios, quando surgiu o calendário, era por volta de 3200 a.C.
Porém, a principal contribuição de Lockyer e a que evoluiu (depois de quase um século!) para a ciência da arqueoastronomia foi a com­preensão de que a orientação dos templos antigos podia ser uma pista valiosa para determinar a época de sua construção. Seu maior exemplo era o complexo de templos em Tebas, no Alto Egito (Karnak). Lá, a orientação mais antiga e sofisticada das primeiras cidades sagradas (em relação aos equinócios) dera lu­gar à orientação para os solstícios.
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O Templo de Karnak tem este nome devido a uma aldeia vizinha chamada El-Karnak, mas no tempo dos grandes faraós Seth e Ramsés esta aldeia era conhecida como Ipet-sut (“o melhor de todos os lugares”). Designa o templo principal destinado ao Deus Amon-Rá, como também tudo o que permanece do enorme complexo de santuários e outros edifícios, resultado de mais de dois mil anos de construções e acréscimos. Sua construção foi iniciada por volta de 2200 a.C. e terminado por volta de 360 a.C.
Em Karnak, o Grande Templo de Amon-Ra consistia em duas estruturas retangulares, construídas uma de costas para a outra, num eixo leste-oeste, com uma inclinação para o sul. A orientação era feita com tamanha precisão que, no dia do solstício, um raio de sol atravessaria todo o comprimento do corredor (cerca de 150 metros), passando de uma parte do templo para a outra, entre dois obeliscos. Por alguns minutos, o raio de sol atingia o Santo dos Santos com um reflexo dourado no outro extremo do corredor, assinalando assim o momento em que começava o primeiro dia do primeiro mês, iniciando o Ano Novo (dia correspondente ao dia 26 de julho de nosso calendário atual).
Como esse momento preciso não era constante, foram construídos outros templos com orientações modificadas. Quando a orientação era baseada nos equinócios, o desvio correspondia à parte da abóbada celeste contra a qual o Sol era visto — o desvio das “eras” zodiacais devido à Precessão. Mas parecia existir outro desvio, ainda mais profundo, afetando os solstícios: o ângulo entre os extremos que o Sol atingia continuava diminuin­do! Com o passar do tempo, os movimentos do Sol pareciam sujeitos a outro fenômeno da relação Terra/Sol.
Foi a descoberta dos astrônomos sobre a obliqüidade da Terra, o giro do eixo contra o caminho orbital ao redor do Sol nem sempre foi o atual (um pouco menor que 23,5 graus). A oscilação da Terra muda seu eixo por volta de um grau a cada 7.000 anos aproximada­mente. Rolf Müller aplicou esse fato à arqueologia dos Andes, (Der Himmel über dem Menschen der Steinzeit, e outros estudos). Ele calculou que, se as ruínas arqueológicas foram orientadas para um desvio de 24 graus, significa que foram construídas pelo menos e no mínimo a 4.000 anos atrás.
A aplicação deste método de datação astronômica, independente e sofisti­cado, é tão importante quanto a datação por radiocarbono. Talvez ainda mais, porque os testes por radiocarbono só podem ser feitos em materiais orgânicos (tais como madeira ou carvão), en­contrados no interior ou próximos à construção, enquanto que a arqueoastronomia pode datar a construção no próprio edifício, descobrindo até mesmo a época em que as várias modificações foram feitas.
O professor Müller, cujo trabalho examinaremos mais detida­mente, concluiu que as cantarias perfeitas em Machu Pichu e Cuzco (distantes das estruturas megalíticas poligonais) possuem cerca de 4.000 anos de idade, confirmando portanto a cronologia de Montesinos. O uso da arqueoastronomia nas ruínas das civi­lizações andinas, como veremos, perturbou muitas noções eruditas sobre a idade das antigas civilizações nas Américas.
Os modernos astrônomos demoraram a chegar a Machu Pichu, mas um dia isso acabou acontecendo. Na década de 30, Rolf Müller, um professor de astronomia na Universidade de Potsdam, publicou seus primeiros estudos sobre aspectos ligados à astronomia das ruínas de Tiahuanaco, Cuzco e Machu Pichu. Suas conclusões, estabelecendo a grande antiguidade dessas ruí­nas, especialmente dos monumentos em Tiahuanaco, quase lhe arruinaram a carreira.
Em Machu Pichu, Müller focalizou sua atenção no Intihuatana, no alto da colina a noroeste da cidade e na estrutura sobre a rocha sagrada, pois em ambos os locais ele descobriu aspectos precisos, que lhe permitiram deduzir seus usos e propósitos (DieIntiwatana (Sonnenwarten) im Alten Peru, e outras obras).
Ele percebeu que o Intihuatana ficava no topo do ponto mais elevado da cidade. Dali se podia divisar o horizonte em todas as direções. Porém paredes de cantarias megalíticas conduziam a vista para determinadas direções, para aquelas que os construtores que­riam exaltar. O Intihuatana e sua base foram esculpidos de uma única rocha natural, elevando-se um pilar até a altura desejada. Tanto a base quanto o pilar foram esculpidos e orientados de uma forma precisa. Müller concluiu que as várias superfícies inclinadas e ângulos tinham sido projetados daquela forma para permitir a determinação do poente no solstício de verão, do nascer do sol no solstício de inverno, e dos equinócios da primavera e do outono.            
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Intihuatana fica no topo do ponto mais elevado da cidade de MACHU PICHU. Dali se podia divisar o horizonte em todas as direções.
Antes de suas investigações em Machu Pichu, Müller pesqui­sara extensivamente os aspectos ligados à astronomia de Tiahuanaco e de Cuzco. Uma antiga pirogravura espanhola sugeria a ele que o Grande Templo do Sol, em Cuzco, fora construído de forma a que os raios do sol atingissem diretamente o Santo dos Santos no momento da aurora do dia do solstício de inverno em torno da data de 21 de junho. Aplicando as teorias de Lockyer ao Coricancha, Mül­ler foi capaz de calcular e mostrar como as paredes pré-colombianas, mais o Santo dos Santos semicircular, serviam ao mesmo propósito que nos templos do Egito.
O primeiro aspecto que chama a atenção na estrutura cons­truída no topo da rocha sagrada, no alto de Machu Pichu, é sua forma semicircular, como o Santo dos Santos, em Cuzco (já ex­pressamos nossa opinião de que Machu Pichu precede Cuzco). Esse fato sugeriu a Müller uma função semelhante, a de deter­minar o solstício de inverno em junho. Depois de estabelecer que as paredes retas da estrutura tinham sido orientadas pelos arquitetos de acordo com a localização geográfica e altitude em relação ao nível do mar, ele descobriu que as duas janelas trapezoides na porção circular (fig. 84) permitiam a um observador assistir ao nascer do sol nos solstícios de verão e de inverno — isso tudo há cerca de 4.000 anos atrás!
Na década de 80, dois astrônomos do Observatório Steward, da Universidade do Arizona, D. S. Dearborn e R. E. White (Archaeoastronomy aí Machu Pichu –“Arqueoastronomia em Machu Pichu”), foram ao mesmo local com instrumentos mais precisos.
Confirmaram as orientações astronômicas do Intihuatana e das duas janelas no Torreón (onde a observação tinha lugar, alinhada com as protuberâncias da rocha sagrada Intihuatana). Eles não entraram na discussão de Müller sobre a idade da construção. Nem eles, nem Müller tentaram retornar às linhas de observação de milênios atrás da lendária estrutura megalítica, chamada de Três Janelas. Lá, acreditamos, os resultados seriam ainda mais surpreendentes.
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O Torreon circular em Machu Pichu
Müller estudou, entretanto, a orientação das paredes megalí­ticas em Cuzco. Suas conclusões, cujas implicações de longo al­cance têm sido ignoradas, foram precisas: “estão posicionadas para a era astronômica entre 4.000 a 2.000 a.C.” (Sonne, Mona una Sterne über dem Reich der Inka). Isto coloca a idade das estruturas megalíticas (em Cuzco, Sacsayhuaman, e Machu Pichu, pelo menos) no período de 2000 anos, precedendo o Torreón e Intihuatana, em Machu Pichu. Em outras palavras, Müller concluiu que as estruturas do período pré-incaico se estendem por duas eras do Zodíaco: os megalíticos, pertencendo à Era de Touro (início em 4.468 a.C), e os do tempo do Antigo Império e os hiatos em Tampu-Tocco, pertencendo à Era de Áries(início em 2.308 a.C.) .
No antigo Oriente Médio o desvio causado pela Precessão dos equinócios exigiu reformas periódicas no calendário original sumério. Uma grande mudança, acompanhada de levantes religiosos, teve lugar por volta de 2.000 a.C. com a transição do Zodíaco de Touro para a era de Aries. Para espanto dos estudiosos, tais mudanças também estão evidenciadas nos Andes.
Com base nos escritos de Montesinos e de outros cronistas sabemos que o antigo povo andino possuía um calendário, que sofreu repetidas reformas por vários monarcas. Numerosos es­tudos foram necessários, começando na década de 30, para con­firmar que esse povo não apenas conhecia um calendário, mas também o seguia (apesar de“supostamente” não usarem a escrita). Um pioneiro no campo, Fritz Buck(Inscripciones Calendarias dei Peru Preincaico – “Inscrições dos Calendários do Peru Pré-incaico” e outras obras) apresentou provas arqueológicas para apoiar tais conclusões, como um bastão que media o tempo e um vaso, encontrado nas ruínas do templo de Pachacamac, que marcava quatro períodos de doze com o auxílio de uma linha e marcas semelhantes à dos maias e olmecas.
Segundo o padre Molina, os incas “começavam a contar o ano na metade de maio”, alguns dias, mais ou menos, no primeiro dia lunar. “Iam para Coricancha de manhã, ao meio-dia e à noite, trazendo o carneiro que seria sacrificado no dia”. Durante os sacrifícios, os sacerdotes cantavam hinos como: “O Criador, O Sol, Ó Trovão, sejam para sempre jovens e não envelheçam; dei­xem todas as coisas em paz; deixem que o povo se multiplique e que sua comida e todas as coisas continuem abundantes”.
Em virtude do calendário gregoriano ter sido introduzido em Cuzco só depois da época de Molina, o dia do Ano Novo, men­cionado por ele, corresponderia aproximadamente a 25 de maio. Torres de observação, descritas por Garcilaso, foram descobertas em anos recentes pêlos astrônomos da Universidade do Texas e de Illinois. Eles concluíram que as linhas de observação eram apropriadas para o dia 25 de maio. Segundo os cronistas, os incas consideravam o início do ano no solstício de inverno (equi­valente ao solstício de verão no hemisfério norte). Porém esse evento não acontece em maio, mas em 21 de junho… uma diferença de trinta dias!
ca. 1938 --- Worshippers climb the steps of the Temple of Pachacamac --- Image by © National Geographic Society/Corbis
A única explicação plausível é que o calendário e o sistema de observação nos quais se baseava eram atribuídos aos incas de um período anterior: a diferença de um mês nos resultados do desvio da Precessão dura pelo menos 2.160 anos por casa zodiacal.
O Intihuatana em Machu Pichu, como mencionamos, serve para determinar não só os solstícios, mas também os equinócios (os dias e as noites são iguais em duração quando o Sol está sobre o Equador, em Março e Setembro). Tanto os cronistas do passado quanto os modernos pesquisadores (tais como L. E. Valcarel, The AndennCalendar – “O Calendário Andino”) relatam que os incas faziam um enorme esforço para determinar os dias exatos dos equinócios e venerá-los. Esse costume deve derivar de tempos remotos, pois vimos em registros anteriores que os reis do Antigo Império estavam preocupados com a necessidade de determinar os equi­nócios.
Montesinos nos informa que o 40º. monarca do Antigo Império fundou uma escola para o estudo da astronomia e da astrologia para a determinação dos equinócios. O fato de ter recebido o título Pachacutec indica que o calendário estava naqueles dias tão fora de sincronismo com os fenômenos celestiais, que sua reforma tornou-se imperativa. Essa é uma informação interes­sante, que foi negligenciada. Segundo Montesinos, foi no quinto ano de reinado desse monarca que se completaram 2.500 anos do Ponto Zero — e 2.000 anos desde o início do Antigo Império,
O que estava acontecendo por volta de 400 a.C. que exigisse uma reforma do calendário? O período de 2.000 anos se iguala aos períodos dos desvios zodiacais causados pela Precessão. No antigo Oriente Médio, quando o calendário se iniciou, em Nippur, ao redor de 4000 a.C., o equinócio da primavera ocorria na casa de Aquário (em fevereiro), ou Era de Touro. Em seguida, entrou a Era de Áries por volta de 2000 a.C., e a Era de Peixes (iniciada em 148 a.C), por volta do nascimento de Cristo.
A reforma do calendário andino ao redor de 400 a.C. confirma que o Antigo Império e seu calendário devem ter começado por volta de 2500 a.C. Também sugere que tais monarcas estavam familiarizados com o Zodíaco; mas o Zodíaco era uma divisão puramente arbitrária e artificial da abóbada celeste ao redor do Sol em doze partes; uma invenção suméria adotada no Velho Mundo por todos os povos que os sucederam (até hoje). Seria possível? A resposta é: sim.
Um dos pioneiros no campo, S. Hagar, numa conferência di­rigida ao 14º. Congresso de Americanistas em 1904, “The Peruvian Asterisms and their Relation to the Ritual” (“As Constelações Pe­ruanas e sua Relação com o Ritual”) demonstrou que os incas não apenas estavam familiarizados com as casas do Zodíaco (e os meses derivados delas), mas também possuíam nomes dis­tintos para elas. Tais nomes, para a surpresa dos estudiosos, mas não nossa, apresentam uma insólita semelhança aos que se ori­ginaram na Suméria.
Dessa forma, janeiro, o mês de Aquário, era dedicado a Mama Cocha e Capac Cocha,a Mãe Água e Senhor da Água; março, o mês de Aries, quando a primeira lua significava na Antiguidade a véspera de Ano Novo, era chamado Katu Quilla, Lua do Mercado; abril, Touro, era dedicado a Tupa Taruca, “touro que pasta” (não havia touros na América do Sul); Virgem era Sara Mama (Mãe Milho) e seu símbolo era o órgão sexual feminino e assim por diante.
Na verdade, a própria Cuzco era uma testemunha em pedra tanto da familiaridade com as doze casas do Zodíaco, quanto da antiguidade desse fato. Já mencionamos a divisão de Cuzco em doze terraços. É significativo o fato de que o primeiro terraço, na encosta do Sacsayhuaman, estivesse associado a Aries. Para que Aries fosse associada ao equinócio da primavera, como demonstramos, seria necessário recuar no tempo mais de 4.000 anos (até 2.308 a.C. o início da Era de Áries). E preciso perguntar se o conhecimento de astronomia para as reformas do calendário poderia ter sido guardado e transmitido por muitos milênios sem algum tipo de escrita. Os códices maias continham, como vimos, dados astronômicos copiados e obtidos de fontes mais antigas.
Arqueólogos determinaram que as barras oblongas que acompanham os soberanos (conforme as representações dos monólitos) eram, na verdade, “barras celestes” que apresentavam os glifos de certas constelações do Zodíaco (como na série de glifos ao redor da imagem de Pacal na tampa de seu sarcófago, em Palenque). Seriam essas representações clássicas copiadas de referências anteriores, talvez menos artísticas? Isso é sugerido por uma pedra esférica encontrada em Tikal (Figura 85 a) na qual a imagem do Deus Sol (com barba e língua para fora) está cercada por glifos celestes.
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Tikal
Tais pedras circulares “primitivas” com o calendário/zodíaco devem ter precedido as “pedras de calendário” astecas, várias das quais foram encontradas, e uma delas, de ouro, foi presen­teada a Cortez por Montezuma quando acreditava estar devol­vendo ao Deus da Serpente Emplumada o que era dele.
Existiriam tais registros em ouro no Peru antigo? A despeito do tratamento dado pêlos espanhóis a todos os objetos de ido­latria — a fundição — especialmente se fossem feito de ouro (que mandavam fundir assim que o encontravam, como acon­teceu com a imagem do Sol, em Coricancha), pelo menos uma dessas relíquias escapou.
Trata-se de um disco de ouro, com cerca de 12 centímetros de diâmetro (fig. 85b). Descoberto em Cuzco, e agora guardado no Museu do índio Americano em Nova York, foi descrito cerca de um século atrás por Sir Clemens Markham (Cuzco and Lima; The incas of Peru – “Cuzco e Lima; Os incas do Peru”). Ele concluiu que o disco representava o Sol ao centro e possuía vinte símbolos distintos ao seu redor, considerando-os como representação dos meses, em número de vinte, como no calendário maia.
W. Bollaert, numa conferência perante a Sociedade Real de Antiquários, em 1860, e em estudos subsequentes, considerou o disco como “um calendário lunar, ou Zodíaco”. M. H. Saville (A Golden Breastplate from Cuzco – “Um Medalhão de Ouro de Cuzco” – nas pu­blicações do Museu, de 1921), observou que seis dos símbolos representados são repetidos duas vezes, e dois são repetidos qua­tro vezes (ele os marcou de A a H); portanto, duvidava da teoria de Markham sobre os vinte meses.
O simples fato que seis vezes dois é doze nos leva a discordar de Bollaert e a sugerir que esse seja um calendário zodiacal ao invés de lunar. Todos os estudiosos concordam com sua origem pré-incaica. Nenhum deles, entretanto, mostrou como se asse­melha ao calendário de pedra encontrado em Tikal — talvez porque iria alimentar a polemica sobre se houve ou não contato entre os povos centro-americanos e sul-americanos.
Um pequeno bando de soldados da força de Pizarro, no co­meço de 1533, entrou na capital inca, Cuzco. O corpo principal do exército de Pizarro ainda estava em Cajamarca, onde eles mantinham Atahualpa prisioneiro. A missão do grupo enviado a Cuzco era apanhar a contribuição em ouro da capital para o pagamento do resgate exigido pelos espanhóis, em troca da liberdade do rei.
Em Cuzco, o general Quizquiz de Atahualpa permitiu que eles entrassem e examinassem vários edifícios importantes, in­cluindo o Templo do Sol. Os incas, como já mencionamos, o chamavam de Coricancha, o Recinto de Ouro, pois as paredes eram cobertas com maravilhosas placas de ouro, prata e pedras preciosas. Os poucos espanhóis que entraram em Cuzco remo­veram setecentas placas de ouro, serviram-se de outros tesouros e retornaram a Cajamarca.
tikal-zodíaco
O grosso do exército espanhol entrou em Cuzco ao final do ano e já descrevemos o que aconteceu na cidade com os edifícios e santuários, incluindo os atos de vandalismo no Santo dos San­tos. O emblema de ouro sobre o Grande Altar foi fundido.
A destruição física não conseguiu, porém, erradicar o que os incas levavam na memória. O Coricancha foi construído pelo primeiro monarca, como recordam os incas; ele iniciou como um casebre com teto de palha. Monarcas posteriores o alargaram e melhoraram, até que assumisse as dimensões e a forma final encontrada pelos espanhóis. No Santo dos Santos, relatam eles, as paredes eram cobertas do chão até o teto por placas de ouro. Garcilaso escreveu: “sobre o que eles chamavam de Grande Altar estava a imagem do Sol num disco de ouro de duas vezes a espessura do resto da parede; a imagem o representava como um rosto redondo com raios e labaredas de fogo, tudo numa só peça”.
Esse, de fato, foi um objeto de ouro que os espanhóis viram e apanharam. Porém, não se tratava da imagem original, que ficara sobre a parede, em frente aos raios de sol no dia designado.
A descrição mais detalhada dessa peça central e as imagens que a acompanhavam foi realizada por Don Juan de Santa Cruz Fachacuti-Yumqui Salcamayhua, o filho de uma princesa da casa real inca com um nobre espanhol (por isso referem-se a ele como Santa Cruz, ou como Salcamayhua). O relato foi incluído em sua Relación (traduzido para o inglês por sir Clemens Markham), na qual ele glorifica a dinastia real inca aos olhos dos espanhóis. Ele afirmou que foi o primeiro rei da dinastia que “ordenou aos ourives que fizessem um disco achatado de ouro para representar a existência de um criador do céu e da terra”. Salcamayhua ilus­trou seu texto com um desenho: tratava-se da forma rara e inu­sitada de uma oval.
A primeira imagem era representada por um disco plano quan­do um determinado monarca proclamou que o Sol era o deus supremo. O formato foi alterado para oval por um inca posterior, “um grande inimigo dos ídolos”; ele ordenou a seu povo que não prestasse as honras ao Sol e à Lua; ao invés disso, o fariam ao corpo celeste representado pela forma oval; foi ele o “respon­sável pela adição de imagens ao redor do disco”. Referindo-se à forma oval como “O Criador”, Salcamayhua tornou claro que não representava o Sol, pois as imagens do Sol e da Lua flan­queavam a oval. Para ilustrar o que queria dizer, Salcamayhua desenhou uma grande oval flanqueada por dois círculos menores.
A parte central permaneceu da mesma forma, com a oval como imagem superior, até a época do inca Huascar, um dos dois meio-irmãos envolvidos na luta pelo trono quando os espanhóis chegaram. Ele removeu a imagem oval e a trocou por “um disco redondo, com os raios do Sol”. “Huascar inca colocou a imagem do Sol onde estivera o Criador”. Portanto, a crença religiosa vol­tou-se outra vez para um panteão onde o Sol, e não Viracocha, era supremo. Para reforçar a ideia de que ele era o sucessor correto, Huascar adicionou ao seu nome o epíteto Inti (Sol), significando que era ele, e não seu irmão Atahualpa, o verdadeiro descendente dos Filhos do Sol originais.
Explicando que a parede com cumeeira ostentando a oval como imagem principal representava “o que os pagãos acreditam” em relação aos céus e à terra, Salcamayhua desenhou um esboço grande mostrando como era a parede antes de Huascar trocar a oval pela imagem do Sol. O esboço foi preservado porque Fran­cisco de Ávila, que interrogara Salcamayhua e outros sobre o significado da descrição, manteve o desenho entre seus papéis.
Ele também rabiscou anotações ao redor do esboço, usando ter­mos quechuas e aimaras fornecidos pelos nativos, além do pró­prio castelhano. Quando essas anotações são removidas (fig. 86), é possível ver o que estava representado sobre o altar (o objeto quadriculado em baixo): símbolos terrestres (pessoas, um animal, um rio, montanhas, um lago, etc.) na parte inferior; e imagens celestiais (Sol, Lua, estrelas, a oval enigmática, etc.) na parte su­perior.
Os estudiosos concordam e discordam a respeito da interpre­tação dos símbolos individuais, mas não sobre o significado geral da parede sagrada. Markham viu na parte superior “uma carta estelar, que é uma verdadeira chave para a cosmogonia simbólica e para a astronomia no Peru antigo”, e estava convencido de que a ponta triangular era um hieróglifo para “céu”. S. K. Lothrop (Inça Treasure – “Tesouro inca”) afirma que as imagens sobre o grande altar “formam uma história cosmogônica sobre a criação dos céus e da terra, do Sol e da Lua, do primeiro homem e da primeira mulher”. Todos concordam com Salcamayhua, que in­dica a representação “do que os pagãos acreditavam” — a soma total das crenças e lendas religiosas; a saga do Céu e da Terra, e a união entre eles.
figura86
A montagem celeste de imagens representa claramente o Sol e a Lua flanqueando o disco ovalado e grupos de corpos celestes acima e abaixo da oval. Fica claro que os símbolos representam o Sol e a Lua pelas faces convencionais desenhadas, mais as anotações em língua nativa, Inti (Sol), e Quilla (Lua).
Partindo do princípio de que o Sol estava assim representado, o que significava a imagem da oval ao centro? As histórias descrevem como esse símbolo se alternava com o Sol na adoração e veneração na época dos incas. Sua identidade é claramente explicada por uma anotação: “‘Illa Ticci Uuimcocha, Pachac Aca-chï”, quiere áecir imagcn dei Hacedor dei eido y de Ia tierra.” Ou seja, significa a imagem do Criador do Céu e da Terra.)
Mas por quê Viracocha era representado por uma oval?
Um dos principais pesquisadores sobre o assunto, R. Lehmann-Nitsche (Coricancha: El Templo del Sol en el Cuzco y Ias Imagenes de su Altar Mayor – “Coricancha: O Templo do Sol em Cuzco e as Imagens de seu Altar Principal”) desenvolveu a tese de que a forma oval representa o “Ovo Cósmico”, uma ideia teogônica que encontra eco nas lendas gregas, na religião hindu, “até mesmo no Géneses”. E “a mais antiga teogonia cujos detalhes não foram compreendidos por autores brancos”.
Foi representada nos san­tuários da divindade indo-européia Mithra, como um ovo cir­cundado pelas constelações do Zodíaco. “Talvez um dia os es­tudantes da cultura hindu reconheçam as semelhanças nos de­talhes e no culto à Viracocha, com Brahma com os sete olhos, o israelita Yaweh (Enlil) [...] na Antiguidade clássica, assim como com o culto esotérico, onde haviam imagens sagradas do Ovo Místico.
Por que não deveria acontecer o mesmo no grande santuário de Cuzco?
Lehmann-Nitsche imaginou o Ovo Cósmico como a única ex­plicação para o símbolo incomum da forma oval, pois além da semelhança com o formato de um ovo, a forma elíptica (que é difícil de desenhar com precisão) não é encontrada naturalmente na superfície da Terra. No entanto, tanto ele como outros pes­quisadores pareceram ignorar o fato de que a forma elíptica está superposta (embaixo) a um símbolo estelar. Se,como já vimos, a forma elíptica, ou oval, se aplica a mais de um corpo celeste (além dos cinco acima e dos quatro abaixo), nos lembra um tipo de oval que existe sim na natureza, não na Terra, mas nos céus: é a curva natural de um planeta ao redor do seu sol. Trata-se, como sugerimos, do traçado da órbita de um planeta em nosso Sistema Solar (NIBIRU).
O que a parede sagrada representa, podemos concluir, não eram constelações, distantes e misteriosas, mas nosso próprio Sistema Solar, com o Sol, a Lua, e dez planetas, perfazendo um total de doze. Vimos que os planetas do sistema solar se dividem em dois grupos. Para nossa visão, esses são os cinco planetas exteriores: Plutão, Netuno, Urano, Saturno e Júpiter (contando de fora para dentro). O grupo mais próximo representa os quatro planetas interiores: Marte, Terra, Vénus, Mercúrio. Os dois gru­pos são divididos pela vasta órbita elíptica do décimo-segundo membro do Sistema Solar. Para os incas, representava Viracocha.
Devemos ficar surpresos ao perceber que essa era exatamente a visão suméria de nosso Sistema Solar?
Como as representaçães vêm do céu para a Terra, um céu estrelado aparece à direita da parede e nas nuvens do lado es­querdo. Os estudiosos concordam com a anotação original, “ve­rão” (céu brilhante e estrelado) e “nuvens de inverno”. Ao con­siderar o papel desempenhado pelas estações no ato criativo, a representação inca mais uma vez segue o padrão do Oriente Médio. O desvio do eixo da Terra (causando as estações) foi atribuído, na Suméria, a Nibiru, e na Babilônia, a Marduk. O conceito ampliou-se quando o salmo bíblico fala sobre o Senhor: “Vós fizestes o verão e o inverno”.
Abaixo do “verão” aparece um símbolo estelar e um feroz ara­mai é representado abaixo de “inverno”. Há unanimidade em torno do fato de que tais imagens representam as constelações, associadas (no hemisfério sul) com essas estações, uma para o inverno, representando Leo, o Leão. Isso é impressionante por mais de um motivo. Em primeiro lugar, porque não existem leões na América do Sul. Em segundo, porque quando o calendário começou, na Suméria, em torno de 4000 a.C., o solstício de verão ocorria quando o Sol era visto na constelação zodíaca de Leão (UR.GULA em sumério). Mas no hemisfério sul, nessa época do ano, teria sido inverno. Portanto, a representação dos incas não apenas to­mou emprestada a ideia das doze constelações do Zodíaco, como também a ordem delas na Mesopotâmia!
Agora chegamos aos símbolos que — como no Enuma Elish e no Livro do Gênese — transferem as histórias da criação dos céus para a Terra: o primeiro homem e a primeira mulher, o Éden, um grande rio, uma serpente, montanhas e um lago sa­grado. Um “panorama do mundo” inca, nas palavras de Lehmann-Nitsche. Seria mais apropriado dizer a Bíblia Pictórica dos Andes.
A analogia é atual, não apenas figurativa. Os elementos nessa parte da composição pictórica poderiam servir para ilustrar as histórias bíblico-mesopotâmicas de Adão e Eva no Jardim do Éden, completados com a serpente (na parede da direita) e a Árvore da Vida (na parede da esquerda). O termo sumério E.DIN (de onde deriva a palavra Éden) era o vale do grande rio Eufrates, emanando das altas montanhas ao norte. Esta geografia está cla­ramente representada na parede da direita, onde um globo re­presentando a Terra ostenta a anotação “Pacha Mama” — Mãe Terra. Mesmo o Arco-Iris, apresentado nas histórias do Oriente Médio, sobre o Dilúvio, está ali representado.
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O E.Din e os quatro rios do Paraíso
(Enquanto todos aceitamos que o globo ou círculo onde está escrito “Pacha Mama” representa a Terra, ninguém parou para imaginar como os incas sabiam que a Terra era redonda. Os sumérios, entretanto, estavam conscientes desse fato, e represen­tavam a Terra e todos os planetas corretamente).
O grupo de sete pontos abaixo do símbolo da Terra tem causado inúmeros problemas aos estudiosos. Aderindo ao conceito errôneo de que os antigos visualizavam as Plêiades, enume­rando sete estrelas, alguns sugeriram que o símbolo represen­tasse essa região da constelação de Touro. Porém, se isso for verdade, o símbolo pertenceria à outra porção do painel, não à parte de baixo. Lehmann-Nitsche e outros interpretaram o símbolo como “os sete olhos do deus supremo”. Mas já de­monstramos que os sete pontos, o número 7, era a designação da própria Terra na enumeração que os sumários faziam dos planetas. O símbolo “sete” está exatamente onde deveria, como símbolo do planeta Terra.
A última imagem na parede sagrada é aquela do lago ligado por um canal a um corpo menor de água. A anotação diz: “Mama Cocha”, Mãe Água. Todos concordamos que isso representa o lago sagrado andino, o Titicaca. Representando-o, os incas leva­ram a história da Criação dos Céus para a Terra e do Jardim do Éden para os Andes.
Lehmann-Nitsche resumiu o significado e a mensagem da re­presentação na parede sobre o Grande Altar, dizendo: “leva o homem do chão para as estrelas”. É duplamente impressionante o fato que conduz os incas para o outro lado da Terra.

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