Livro Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, de Graham Phillips, Editora Madras – Capítulo IX – A Caverna Esquecida:
A localização e a topografia de Jebel Madhbah (Petra) certamente pareciam se
encaixar com a Montanha de Deus da Bíblia. Além do mais, havia fenômenos naturais
raros no local que podiam muito bem explicar os eventos milagrosos que cercavam a “aparição de Deus” na montanha sagrada.
No entanto, se Jebel Madhbah era, realmente, o Monte Sinai descrito no Velho Testamento, então, os lugares sagrados que Moisés associou a Deus já estavam sendo usados pelos edomeus…
“E a arca da sua aliança foi vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos e grande saraiva”. Livro do Apocalipse 11:19
Livro Os Cavaleiros Templários e a Arca da Aliança, de Graham Phillips, Editora Madras – Capítulo IX – A Caverna Esquecida
Capítulo 9. A Caverna Esquecida
… Isso me deixava com duas questões importantes. A Bíblia parecia retratar os edomeus como um povo hostil que praticava uma idolatria pagã. Como os israelitas conseguiram ganhar acesso a Jebel Madhbah e, ainda mais importante, por que eles queriam isso? Por que acreditariam que um espaço religioso dos edomeus era um lugar onde seu próprio Deus habitava? Para solucionar esse dilema, precisava, antes de mais nada, examinar a série de eventos que levou os israelitas até a Montanha de Deus.
De acordo com o livro dos Números, quando os israelitas chegaram em Cades, no lugar que parece ter sido a entrada do Siq na extremidade sudoeste do Vale de Edom, Moisés criou a fonte milagrosa em Horebe, a Montanha de Deus. Ele,
então, enviou uma mensagem para o rei dos edomeus pedindo permissão para entrar em suas terras. Entretanto, o rei recusou seu pedido: “Assim recusou (o rei de) Edom deixar passar a Israel (os israelitas) pelo seu termo: por isso Israel se desviou dele” (Nm 20:21). Deste versículo, parece que os dois povos não estabeleceram nenhum acordo e os israelitas tiveram que voltar. De meu próprio passeio até Jebel Madhbah, sabia que o único caminho para subir na montanha era por dentro de Wadi Musa.
Os israelitas precisariam ter encontrado uma rota alternativa para entrar no vale — o que parece ser, exatamente, o que eles fizeram. No versículo seguinte, os israelitas se dirigem para um lugar diferente: “E os filhos de Israel, toda a congregação, viajaram de Cades e chegaram ao monte Hor” (Nm 20:22). Mais adiante em Números, em um resumo do mesmo episódio, lemos que o Monte Hor estava localizado em uma outra parte das fronteiras de Edom: “E partiram de Cades, e acamparam-se no monte Hor, no fim da terra de Edom” (Nm 33:37). Embora o Antigo Testamento não diga especificamente onde era o Monte Hor, ele parece estar localizado na outra extremidade do Vale de Edom. Também de acordo com os Números, logo após os israelitas chegarem ao Monte Hor, o irmão de Moisés, Aarão, morreu na montanha e dizem que foi enterrado ali (Nm 20:25-29).
O historiador judeu Josephus, não tinha dúvidas de que a montanha na qual o profeta Aarão morreu era uma montanha que proporcionava uma vista panorâmica do lugar que, em seu tempo, era a cidade de Petra: E quando ele chegou em um lugar que os árabes estimam como sua metrópole, que era antes chamada de Acre, mas hoje tem o nome de Petra, neste lugar, que era rodeado de montanhas altas, Aarão subiu em uma delas ficando à visão de todo o exército, Moisés tendo lhe avisado de sua morte… e morreu enquanto a multidão olhava para ele. (Antiguidades 1981).
Os beduínos do sul da Jordânia há muito tempo consideram essa montanha como Jebel Haroun — a Montanha de Aarão — que fica na extremidade noroeste de Wadi Musa. Assim como Ain Musa, a Fonte de Moisés no pé de Jebel Madhbah, os árabes locais marcam o referido local da tumba de Aarão com um santuário. Logo abaixo do cume, sobre um penhasco abrupto, está erguida uma pequena mesquita camuflada sobre uma caverna onde dizem que Aarão foi enterrado. E uma construção simples com uma cúpula e uma inscrição em arábico em cima da porta, que diz que o templo foi erguido pelo Sultão do Egito há quase oitocentos anos. Mapa 7: O vale de Edom Se Jebel Haroun era o Monte Hor, parece então, que os israelitas, após não terem conseguido acesso para o Vale de Edom pelo sul, viajaram ao redor da montanha até a outra extremidade do vale e atravessaram as montanhas ao noroeste.
Embora o Antigo Testamento não nos ofereça detalhes dos eventos, parece que os israelitas, de alguma forma, conseguiram derrotar os edomeus — talvez por meio de um ataque surpresa — e ocuparam o Vale de Edom. Em Números, Deus promete que os israelitas irão superar os edomeus: “E Edom será uma possessão, e Seir, seus inimigos, também será uma possessão; pois Israel fará proezas” (Nm 24:18). Se o Monte Seir era o nome dado pelos edomeus ao Monte Sinai, como parece ter sido, podemos deduzir que os israelitas não tiveram dificuldades para dominar o monte santo junto com tudo o mais que pertencia ao reino.
O Êxodo também relata como os israelitas superaram os edomeus e ocuparam suas terras: Então os príncipes de Edom se pasmaram… Espanto e pavor caiu sobre eles… até que o teu povo (os israelitas) houvesse passado (por Edom)… Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó Senhor, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mão estabeleceram. (Ex 15:13-17)
Na verdade, essa passagem não apenas confirma que acreditavam que os israelitas tinham conquistado o Vale de Edom; ela também nos dá o motivo da invasão — para que pudessem ocupar uma montanha que é, sem dúvida, a Montanha de Deus. Uma montanha que Deus criou para ele próprio habitar! Que outro lugar seria esse, se não o Monte Sinai? Curiosamente, a passagem chega inclusive a mencionar “o santuário” na montanha. Santuário, é a palavra especificamente usada no Antigo Testamento para dois outros lugares: o sacrário interno do tabernáculo e o Sagrado dos Sagrados no Templo de Jerusalém — ambos os santuários nos quais acreditavam que Deus habitava. Se Jebel Madhbah era o Monte Sinai, então, esse Santuário deve certamente ter sido o santuário dos edomeus no pico da montanha.
Tudo indicava, então, que os israelitas tiveram que conquistar Edom para que pudessem adquirir a Montanha de Deus. Eles, obviamente, não estavam em uma posição segura o suficiente para permanecer no controle da região por muito tempo, porque logo partiram do vale e continuaram sua viagem pelo Deserto de Sinai. No entanto, ainda restava um mistério. Por que, Moisés, ou os antigos israelitas, teriam considerado um lugar religioso dos edomeus como o lar de seu próprio Deus? A resposta parecia ser pelo fato de que as duas religiões compartilhavam de uma origem comum. Na verdade, eles podem, inclusive, ter venerado o mesmo Deus. Como sabemos, testes de DNA recentes de restos esqueléticos antigos mostraram que os edomeus e os israelitas estavam intimamente relacionados.
Até mesmo o Antigo Testamento admite que os dois povos eram descendentes de ancestrais comuns. Embora a Bíblia mostre os edomeus como adoradores pagãos, evidências históricas desafiam com seriedade essas alegações. Pouco se sabe a respeito dos detalhes da religião dos edomeus, porque nenhum registro desse povo existe, mas sim antigos relatos dos gregos que mencionam os edomeus no período em que seu vale estava sendo incorporado pelos nabateus no século IV a.C. A partir desses documentos, ficamos sabendo que os edomeus tinham apenas um deus, que eles chamavam de Dhu-esh-Shera — que quer dizer “Senhor do (Monte) Seir”. Esse título mostra que, como os israelitas, os edomeus eram monoteístas e que ainda veneravam o mesmo deus como faziam há muitos séculos.
Além disso, o uso de um título para sua divindade, ao invés de um nome, torna-os ainda mais íntimos dos israelitas. Na realidade, muitos dos costumes dos edomeus foram especialmente compartilhados (adotados pelos) com os judeus contemporâneos. Eram proibidos de consumir sangue (o que significa que as carcaças dos animais tinham de ser preparadas por meio dos rituais de retirada de sangue); não tinham permissão para possuir escravos; e não podiam trabalhar por um dia inteiro durante a semana.
Dentre todas as outras culturas do Oriente Médio da época, somente os judeus preparavam comidas kosher (seguindo os preceitos religiosos judaicos), abominavam a escravidão e cumpriam os costumes do Sabá. A partir de uma perspectiva histórica, a religião dos edomeus era muito mais semelhante à religião dos israelitas do que os autores do Antigo Testamento admitem. Também não há evidências arqueológicas que comprovem que os edomeus eram idólatras, como a Bíblia afirma. Muitas terras dos edomeus foram escavadas ao longo dos anos, mas nenhuma estátua ou esfinge de um deus jamais foi encontrada.
A descrição do Antigo Testamento de os edomeus como um povo ateu, estava obviamente errada e é provável que tenha se originado da animosidade entre os edomeus e os judeus na época em que o Antigo Testamento foi escrito, principalmente pelo fato de os edomeus terem se recusado a ajudar os judeus quando os babilônios invadiram seu espaço no século VI. A inimizade resultante pode ser vista com clareza nas diversas denúncias contra os edomeus nos livros do Antigo Testamento a respeito do período babilônico e podem ter prejudicado a imagem dos edomeus nos tempos mais antigos. Ficava claro, portanto, que não havia razão alguma para que os antigos israelitas não considerassem um lugar dominado pelos edomeus como um espaço sagrado de seu próprio Deus. De todas as formas e para todos os fins, a religião dos edomeus e dos israelitas era a mesma.
Eu estava agora ainda mais convencido de que Jebel Madhbah era a Montanha de Deus. Se estivesse certo, a Arca da Aliança poderia ter sido escondida ali, em algum lugar dentro de uma caverna secreta. O único problema era: onde? A montanha media mais de trezentos quilômetros quadrados em sua base e tinha mais de novecentos metros de altura. Para darmos uma volta completa ao redor de sua base era preciso uma viagem de quase vinte e quatro quilômetros. Seria necessária uma equipe gigantesca de arqueólogos, geólogos e alpinistas experientes trabalhando por meses para vasculharmos toda a montanha. Mesmo que tivesse todos os recursos para organizar uma expedição dessas proporções, as chances de encontrarmos algo pareciam, no mínimo, remotas, porque o relato dos Macabeus havia dito que Jeremias selara a entrada da caverna.
Se a caverna tinha conseguido permanecer intocada, podemos imaginar que uma rocha ou outras pedras bloqueavam sua entrada. Durante minha jornada pelo Siq e pelo Siq Externo, a apenas alguns quilômetros ao redor da base da montanha, eu vira dezenas de pilhas de rochas apoiadas contra a lateral dos penhascos, sendo que cada uma delas poderia estar escondendo entradas de cavernas. Para remover os entulhos de apenas uma dessas barragens seria preciso horas de trabalho, mesmo com o uso de pesadas engrenagens de elevação, visto que a maioria das montanhas estaria totalmente inacessível a esses equipamentos. Na verdade, quanto mais pensava no assunto, via as chances se reduzindo a nada. Os nabateus passaram anos esculpindo e trabalhando nos penhascos de Jebel Madhbah, entrando em lugares bastante profundos das rochas para construir suas tumbas.
Se a Arca da Aliança estivesse escondida em uma caverna em Jebel Madhbah, esses antigos construtores de tumbas podem muito bem tê-la encontrado há muito tempo. No entanto, enquanto contemplava as probabilidades de os tesouros do Templo já terem sido encontrados foi que eu, de repente, me lembrei do que Abdul havia me dito sobre o Cofre. Eu não havia dado muita importância naquele momento, mas Abdul me dissera que os Cruzados haviam encontrado um tesouro em uma caverna nos arredores do monumento. Obviamente, entre o tesouro havia artefatos de ouro. Não pensei, por um só instante, que esses artefatos pudessem incluir a Arca mas, sem nada mais que me fizesse dar continuidade, decidi fazer mais perguntas a ele sobre isso.
Infelizmente, Abdul sabia muito pouco além do que já havia me dito, mas ele me apresentou um historiador australiano que estava hospedado em um dos hotéis locais. Jonathan Warren —conhecido por Jack— estava trabalhando em uma tese de doutorado acerca da história de Petra e sabia tudo a respeito da descoberta dos Cruzados. Quando me encontrei com ele em seu hotel, vi que poderia ter algumas respostas. Ele me contou que não existia nenhum registro contemporâneo da suposta descoberta dos Cruzados, mas a mais antiga referência histórica do fato era datada do início de 1800.
Aparentemente, a história havia sido contada para o explorador suíço Johannes Burckhardt, que foi o primeiro ocidental a visitar as ruínas da cidade de Petra depois que os Cruzados abandonaram seus fortes, em 1189. A cidade de Petra havia decaído sob o Império Romano, e quando os árabes da região foram convertidos ao Islã no século VII, todo o vale fora abandonado.
Os Cruzados (soldados católicos da Europa) ocuparam o vale por algum tempo e construíram uma série de fortes, mas desde então, a antiga cidade foi esquecida pelos europeus até que foi redescoberta por Burckhardt, totalmente por acidente, em 1812. O desígnio original de Burckhardt era o de descobrir a fonte do Rio Nilo, algo que ainda não havia sido feito por nenhum ocidental. Na realidade, nenhum europeu havia sequer tentado realizar uma expedição daquelas, pelo fato de existir grande animosidade entre os muçulmanos e os cristãos desde a época das Cruzadas, nas guerras medievais travadas entre os europeus católicos e os árabes muçulmanos pelo controle do Oriente Médio. Um europeu viajando pelo norte da África no início do século XIX era considerado um ato suicida. Para se preparar para sua expedição sem acompanhantes, portanto, Burckhardt passou três anos aprendendo a falar o idioma arábico e estudando o Islã a fim de conseguir se passar por um comerciante muçulmano.
Com o término de seus estudos, e passando a usar um nome árabe, ele pegou um barco até a Turquia, onde começou sua árdua jornada ao sul pela costa do Mar Mediterrâneo, mantendo um diário secreto durante a viagem. Em 1812, Burckhardt estava viajando pelo Deserto de Negev com uma caravana que ia para o Cairo, quando começou a ouvir histórias a respeito das ruínas de uma magnífica cidade escondida cm algum lugar nas Montanhas de Shara. Sua curiosidade foi despertada e ele conseguiu uma desculpa para fazer um desvio em sua viagem, e em agosto daquele ano, tornou-se o primeiro ocidental, por mais de meio milênio, a entrar no Vale de Edom e ver as ruínas de Petra. Acompanhado por um guia beduíno, Burckhardt cavalgou pelo Siq e entrou no Wadi Musa, onde se deparou com o extraordinário monumento do Cofre.
Em seu diário, escreveu que seu guia lhe contou a respeito da lenda do tesouro supostamente encontrado pelos Cruzados europeus pouco antes de serem forçados pelos árabes a deixar a região. Ele não afirmou especificamente onde o tesouro havia sido encontrado, mas disse o que, supostamente, fora descoberto. “Se me lembro bem, os tesouros incluíam jóias e um baú de ouro”, Jack me disse após ter terminado seu relato da jornada de Burckhardt. Meus ouvidos logo se voltaram para menção do baú de ouro. A Arca da Aliança poderia ser descrita como um baú de ouro. Jack pôde notar que eu parecia mais que interessado no artefato. “Eu não levaria essa história tão a sério”, ele disse. “Ela foi provavelmente inventada pelos Cruzados. O nome completo do monumento arábico é Khaznat al-Faroum, que quer dizer ‘o Cofre do Faraó’. Um mito dos beduínos diz que o faraó do Êxodo perseguiu os israelitas ali na época em que Moisés criou a fonte Ain Musa, por alguma razão trouxe seu tesouro consigo, e por alguma outra razão, igualmente desconhecida, deixou-o ali naquele monumento.
Uma outra lenda diz que os israelitas emboscaram o faraó no Siq e roubaram seu tesouro; eles o esconderam aqui.” Jack disse que sua opinião era que a história do tesouro do faraó foi inventada pelos Cruzados e não pelos muçulmanos locais. “Os Cruzados estavam obcecados para encontrar as relíquias bíblicas”, ele disse. Na realidade, Jack duvidava que houvesse alguma verdade na história dos Cruzados de terem encontrado o tesouro. “Eles possivelmente roubaram algumas jóias e outras bugigangas de ouro durante suas investidas e inventaram a história de que as descobriram no Wadi Musa — em um lugar que era associado a Moisés e ao Antigo Testamento. Supostas relíquias bíblicas eram capazes de fazê-los ganhar uma boa fortuna quando voltassem para casa.”
Pelo que eu podia perceber, Jack não fazia a menor idéia de que Jebel Musa podia ter sido a Montanha de Deus; ele considerava a história da fonte Ain Musa como apenas um dos muitos contos milagrosos que relacionam Moisés a lugares por todo o Deserto de Sinai. Pelo que eu sabia, porém, a história era mais convincente. Há muito tempo aprendi a contemplar a importância de mitos e lendas associadas aos locais antigos e estava preparado para descobrir o centro da verdade na história do tesouro do faraó. De acordo com a Bíblia, o ouro usado para construir a Arca e os outros recipientes sagrados que Moisés instruíra os israelitas a fazer havia sido “empreitado” dos egípcios antes de deixarem o Egito. Fizeram, pois, os filhos de Israel conforme a palavra de Moisés; e pediram aos egípcios jóias de prata, e jóias de ouro, e roupas. E o Senhor deu ao povo graça aos olhos dos egípcios, e estes lhe davam o que pediam. E despojaram aos egípcios. (Ex 12:35-36)
Muito tempo antes, porém, o faraó decidiu ir atrás deles: Sendo, pois, anunciado ao rei do Egito que o povo fugia: e mudou-se o coração do Faraó e dos seus servos contra o povo, e disseram, Por que fizemos isso, havendo deixado ir a Israel, para que não nos sirva? E aprontou o seu carro, e tomou consigo o seu povo. (Ex 14:5-6) Será que a lenda do tesouro do faraó surgira por causa de alguma confusão a respeito de uma história que se referia aos recipientes do Templo que haviam sido construídos originalmente séculos antes do ouro do faraó?
O próprio Cofre certamente não foi construído pelo faraó egípcio, pelos israelitas, ou por quem quer fosse, antes do século XIV a.C. Não era preciso uma escavação arqueológica para mostrar que o monumento datava de tempos muito mais adiantes. Sua arquitetura fora obviamente influenciada pelos gregos e romanos que não existiram até muito tempo depois de mil anos após o Êxodo parecer ter ocorrido.
Contudo, era possível que o Cofre tivesse sido construído no local de uma estrutura ainda mais antiga. Talvez os edomeus tivessem construído um santuário na lateral do penhasco, do outro lado do Siq quando ergueram o Terraço dos Obeliscos e o santuário no pico de Jebel Madhbah. Eles certamente devem ter considerado o estranho efeito acústico do vento no desfiladeiro como sendo uma manifestação sagrada. Se isso de fato aconteceu, o lugar onde o barulho era criado — ou seja, a área ao redor do que hoje é conhecido como o Cofre — teria sido considerada santa.
O livro dos Números do Antigo Testamento se refere ao que parece ter sido o Siq como Cades, que em hebraico quer dizer um “lugar sagrado”. E quando Moisés chegou pela primeira vez na Montanha de Deus, durante o episódio do arbusto em chamas, ficou sabendo que o lugar já era santo. Moisés ouve uma voz que lhe diz: “Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa” (Ex 3:5).
Assim como os edomeus criaram os impressionantes santuários religiosos nas rochas brutas do cume de Jebel Madhbah, parecia bastante razoável que também tivessem criado um templo de pedras onde o Cofre hoje existe. Contudo, mesmo que houvesse um antigo santuário dos edomeus na extremidade do Siq, os antigos israelitas provavelmente não conseguiram manter suas relíquias sagradas naquele lugar por muito tempo. De acordo com a Bíblia, os recipientes acompanharam os israelitas durante suas viagens no Deserto de Sinai. Jeremias, porém, pode muito bem ter considerado aquele lugar como sendo um esconderijo ideal se desejasse esconder algumas dessas relíquias sagradas em Jebel Madhbah para salvá-las dos babilônios. Será que existia qualquer prova de uma antiga estrutura no lugar?
Jack se ofereceu para me acompanhar até o Cofre e me dizer o que os arqueólogos haviam descoberto a respeito do monumento. Abdul havia me dito que acreditava-se que o Cofre era uma tumba, mas Jack duvidava que o lugar fora, algum dia, usado como um túmulo. Não fora encontrado ali nenhuma inscrição dos nabateus, dos gregos ou dos romanos, comuns nas diversas outras tumbas no Wadi Musa. Tampouco havia evidências no local de sarcófagos ou de nichos próprios para o enterro de cadáveres.
“Uma coisa é certa”, ele me disse, enquanto olhávamos em direção à fachada decorativa da estrutura que é tão grande quanto a do Taj Mahal. “O Cofre foi construído para impressionar. Esse é o primeiro monumento que os visitantes vêem quando entram no vale.” Do lado de dentro, porém, o Cofre era um tanto desapontador. Embora haja um enorme corredor de entrada que deve ter levado anos para ser aberto nas rochas sólidas, o lugar era um cúbico vazio, frio e simples, sem nenhum tipo de ornamento.
Três câmaras menores surgiam do lado de dentro, mas eram, também, igualmente simples. “Parecem ter sido construídas para fins religiosos e não práticos”, disse Jack quando parou e pegou um punhado de pedras do chão em frente à entrada. “Esses são restos de uma inundação. Toneladas desses materiais foram jogadas desfiladeiro abaixo durante tempestades torrenciais com o passar dos séculos.” Jack explicou que uma escavação organizada pelo Ministério de Antiguidades da Jordânia na década de 1980 mostrou que o chão do vale, na época em que o Cofre foi construído, há cerca de dois mil anos, era muito mais baixo do que hoje.
A entrada do monumento ficava três metros acima da lateral do penhasco, mas não havia evidências de nenhum degrau usado para subir. O lugar não poderia ter sido criado para ser usado com finalidades práticas porque a entrada exigiria uma escada. Um prédio usado para cobrança de impostos ou outro fim administrativo, como algumas pessoas sugerem, parece estar fora de cogitação. Como também não parece ter sido usado como uma tumba, algum outro propósito religioso para o Cofre parece ser a opção mais plausível.”
Jack continuou me explicando como os escavadores conseguiram penetrar nos restos deixados pelas inundações em frente ao Cofre, até que conseguiram chegar ao nível onde o chão do vale ficava no tempo em que os mais antigos edomeus ocuparam a região, que eles determinaram por meio de testes de radiocarbono que dataram ossos de animais encontrados no meio das pedras. Nessa camada, os arqueólogos acharam provas de uma camada na rocha a uma profundidade ainda maior de cerca de seis metros, diretamente abaixo da entrada do Cofre. Era uma passagem, com aproximadamente um metro e vinte de largura e um metro e meio de altura, que levava a uma câmara plana que media quase três metros quadrados com dois metros de altura.
“Essa pode ter sido uma tumba dos edomeus, porque a entrada estava parcialmente fechada com rochas colocadas de forma proposital”, disse Jack. “No entanto, parecia que o lugar fora roubado há muitos séculos, porque não havia nada em seu interior.” “Você acha que poderia ser a caverna do tesouro encontrada pelos Cruzados?” eu perguntei. “Eles poderiam ter escavado o local por algum motivo, mas, como disse, acredito que tenham inventado toda essa história.”
Eu tinha de descobrir mais sobre os Cruzados que haviam ocupado a área, antes de chegar a qualquer conclusão a respeito daquela história. Mesmo que os Cruzadores tivessem encontrado tesouros ali, seriam eles os vasos do Templo escondidos por Jeremias? Será que essa era a caverna mencionada no livro de Macabeus? Não fiquei surpreso ao saber que havia uma construção dos edomeus do lado oposto do Siq: ela se encaixava em minha teoria com relação às associações sagradas do lugar. Jack disse que achavam se tratar de uma tumba, mas poderia muito bem ter sido um santuário.
Se isso fosse verdade, Jeremias então pode ter considerado aquele um lugar adequado para esconder os tesouros do Templo de Jerusalém. Havia uma série de possibilidades. Como sua religião parecia ter sido muito semelhante ao Judaísmo, podem ter existido edomeus simpatizantes com o empenho dos judeus que tomaram posse da Arca e a guardaram nessa caverna.
Uma outra alternativa, a caverna podia ter sido há muito tempo coberta por entulhos no início do século VI, e sua existência poderia ter sido esquecida por todos, menos por Jeremias e alguns poucos sacerdotes importantes. Sendo assim, Jeremias pode ter voltado ao local e escondido os tesouros, de forma secreta, conforme afirma o livro de Macabeus. Entretanto, tudo isso não passava de especulações. Precisava voltar a Jerusalém e consultar o banco de dados da Biblioteca Nacional de Israel para ver se conseguiria descobrir mais coisas a respeito do suposto tesouro dos Cruzados.
Quando voltei à biblioteca, descobri que o próprio Johannes Burckhardt descreveu a descoberta dos Cruzados como incluindo “tesouros de ouro puro, pedras preciosas e um baú dourado”. O baú poderia ser a Arca da Aliança, e as pedras preciosas poderiam ser as Pedras de Fogo que diziam sempre ser mantidas dentro dela. Da mesma forma, poderiam ser nada mais que qualquer baú e quaisquer outras jóias roubadas.
Infelizmente, Jack estava certo a respeito de não haver antigas referências acerca da lenda, e portanto, não havia como saber o que os Cruzados de fato encontraram, se é que haviam encontrado alguma coisa. No entanto, consegui descobrir quem eram os tais Cruzados que tinham estado no Vale de Edom durante o período em questão. No fim do primeiro milênio d.C, todo o Oriente Médio vivia sob a influência dos muçulmanos. Como essa região incluía as terras da Bíblia, ou a Terra Santa, como os cristãos a chamavam, os europeus sentiam que era sua obrigação conquistar a área e trazê-la para o domínio católico de Roma.
As guerras que se seguiram foram conhecidas como as Cruzadas e os guerreiros que lutaram a favor dos caristãos eram os Cruzadores. No século XII, os Cruzadores de países europeus como a França, Alemanha e Inglaterra, conquistaram Jerusalém e estabeleceram um reino cristão no lugar hoje chamado de Israel. Com o intuito de proteger os interesses dos cristãos na região, várias milícias religiosas foram formadas, e uma delas, os Cavaleiros Templários — ou apenas, Templários — ocuparam por algum tempo as ruínas da cidade de Petra por volta de 1180 para proteger as importantes rotas de comércio que passavam pelas Montanhas de Shara.
Como esses Templários tinham sido os únicos Cruzadores a ocupar o Vale de Edom, deve ter sido esse grupo o responsável pela descoberta. Naquela época, seu comandante era um cavaleiro inglês chamado Ralph de Sudeley, e por isso, provavelmente, os registros históricos a respeito de sua vida pudessem revelar outros dados com relação ao suposto tesouro. Não havia mais nada a respeito dele no banco de dados da Biblioteca Nacional, por isso, tudo parecia indicar que esses registros só poderiam ser encontrados na Inglaterra.
Como esse era o lugar onde, por acaso, eu morava, e precisava retornar para resolver outros negócios, decidi que continuaria pesquisando com base na pista de Sudeley assim que voltasse para casa. Eu, sinceramente, não esperava chegar em lugar algum. Entretanto, estava prestes a viver uma grande surpresa.
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