Serie De Ficção Cientifica Brasileira: A nossa vida é repleta de magia quando entendemos, e unimos a nossa sincronicidade com o todo. “A Harpa Sagrada” inicia-se numa serie de revelações onde o homem tem sua essência cravada no sagrado, e o olhar no cosmos aspirando sua perfeição.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A mais nova série de ficção científica e fantasia brasileira.

                                 INTRODUÇÃO
A narrativa a seguir mistura elementos de história, mitologia, 
conceitos transcendentais e científicos, que muitos julgarão 
ser pura imaginação. Para os céticos que afirmam existir 
um abismo incomensurável entre sonho e realidade, fica 
a seguinte pergunta: Que dimensão possui tal abismo, se hoje
vivemos em meio a tantos avanços tecnológicos que facilitam
nossas vidas – nascidos justamente a partir de todos esses sonhos?




                                                          Capítulo I

    Meu nome é Paulo de Tarso. Sou jornalista, tenho vinte e seis anos, sou moreno, alto, olhos verdes, cabelos castanhos à altura dos ombros. Em meados de 2010, vivi os piores momentos de minha vida. Estava, internado na Instituição Psiquiátrica Dr. Newton Monteiro, a sete quilômetros da próspera cidade de Amarell.
    Naquele cair da noite, estendido na cama, lia as manchetes principais de vários jornais: “Protestos violentos explodem em todo o mundo”; “Governantes Mundiais se reúne, estão preocupados com o destino da humanidade”; “O Mundo parece enlouquecido”; “Pessoas estão matando por prazer: seria à volta à barbárie?” “Geleiras estão derretendo rápido demais.”; “O planeta está insuflando, e a Terra está rachando?”;...
    Irritado, juntei os periódicos atirando-os no chão. Nunca as tragédias estavam tão em evidência no mundo. Até a natureza parecia enlouquecida. O clima variava entre temperaturas muito altas, ou muito baixas – tudo no mesmo dia, comprometendo a saúde de todos.
    Agitado demais, comecei a andar de um lado a outro dentro do quarto. Teriam aquelas noticias mexido tanto assim comigo? Não. Algo diferente pairava no ar. Meu faro jornalístico dizia que algo extraordinário estava para ocorrer por perto.
    Em cima de uma cadeira, observava por entre as grades da pequena janela do banheiro para além dos muros da instituição.
    “Sinto que estou certo em minha intuição”, disse para mim mesmo.
      As árvores permaneciam totalmente imóveis, e não se ouvia sequer os ruídos habituais do cair da noite, como o cricrilar dos grilos. Afinal, os animais são sempre os primeiros a dar sinais quando algo sobrenatural ou calamitoso está para acontecer, não é verdade?
    Para o meu assombro, os presságios se confirmaram. Ao longe percebi uma brisa vindo da direção de algumas colossais árvores centenárias ao norte, que foi ganhando força, até se tornar um vento vigoroso.
    Aquele vendaval parecia ser o condutor de algo grandioso, além de qualquer compreensão. Agora, as árvores se curvavam formando uma trilha. A natureza estava, de fato, enlouquecida! Como era possível tal força natural definir um caminho, cujo traçado, nitidamente, direcionava até a Instituição Psiquiátrica, onde me encontrava?
    O pesado ar forçava a grossa chapa de metal do portão principal, vergando-o ao mesmo tempo. Ele não resistiria por muito tempo à tamanha intensidade. Que força enigmática seria aquela? Meus olhos quase saltavam, de tanta expectativa. Porém, nessa hora, bateram na porta.
     Num pulo, saltei da cadeira e retornei ao quarto, no exato momento em que entrava a comitiva, para mais uma consulta de avaliação. Eu havia sido condenado, e estava passando por uma avaliação psiquiátrica, antes de ir para a prisão.
     Eles me cumprimentaram, indiferentes aos acontecimentos do lado de fora, como se o som da corrente batendo com força no grande portão de metal atraísse somente a minha atenção. Impaciente, fiquei aguardando o desenrolar dos procedimentos, interrompidos no dia anterior.
     No centro do quarto, sentado em uma cadeira, estava o Dr. Henrique Nathan, psiquiatra novato na instituição, homem claro, não beirando seus quarenta anos, estatura mediana, cabelos curtos e pretos. Ele segurava uma prancheta de anotações, batendo levemente a caneta sobre a mesma, enquanto me observava, pensativo.
     Em pé, do seu lado esquerdo, estava Dra. Fernanda Alvarez, uma bonita mulher de seus quarenta e poucos anos, que tinha os cabelos loiros presos, como de hábito. Experiente, mostrava-se compenetrada enquanto acompanhava o trabalho do Dr. Nathan. Ao lado dos dois, permaneciam de pé dois enfermeiros, altos e morenos, que mais pareciam guarda-costas para garantir a segurança dos médicos.
Havia ainda um policial troncudo, designado pela justiça para me vigiar. Todos os três, de braços cruzados, me observavam atentamente.
    O médico perguntou:
    − Então, senhor Paulo de Tarso, disposto para nossa conversa de hoje?
    − Conversa?! Sei aonde quer chegar, e repito: não sou louco e nem culpado por aquelas mortes. Acaso um louco se formaria em jornalismo obtendo as melhores notas? – retruquei em tom agressivo.
    Aquele colóquio de sempre me aborrecia profundamente, em especial naquela noite, pois havia um mistério a desvendar. Como um vendaval tão violento poderia seguir por uma estreita trilha? Qual seria seu impacto sobre aquela instituição? Fechando as mãos, esmurrei a parede duas vezes. Meu gesto, acompanhado pelo policial e pelos dois enfermeiros, fez com que descruzassem os braços, permanecendo alertas.
    − Jornalistas não tiram seus diplomas para escrever matérias sensacionalistas, induzindo pessoas ao suicídio – comentou, de forma calma, Dr. Nathan.
    − Já disse ao Juiz e repito pela última vez – respondi de forma agressiva, ao me sentir confrontado. − Tudo começou na noite de minha formatura, ao receber a notícia sobre a trágica morte de minha mãe. Enquanto aguardava a liberação do corpo, escrevi algumas páginas de revolta contra a vida. Lá encontrei Otávio Pimentel, um amigo que não via desde a infância. Ignorava que fizesse parte da seita “Inferno na Terra”, que induz até a sacrifícios humanos. Ele roubou meus escritos, sem que eu percebesse, publicando-os.
    − Você confessa, então, ser autor de tais escritos?
    − O que é isso, Dr. Nathan? Um novo julgamento? Não suporto hipocrisia! Ao menos, fui autêntico naquele momento de minha vida, ao expressar o que estava sentindo, embora sem intenção de divulgar tais declarações. E você, como médico, será que não esconde nada? Nunca apertou as mãos dos seus colegas de trabalho, dos seus pacientes, de maneira fraterna e com sorriso nos lábios, quando na verdade gostaria de agredi-los?
     Comecei a dar voltas dentro do quarto. O som da corrente batendo no portão aumentou. Algo extraordinário acontecia lá fora, e eu ali repetia as mesmas coisas de sempre.
    Recompondo-me, pedi licença e entrei no banheiro. Fechei a porta, subi novamente na cadeira, e observei o exato momento em que a força do vento arrebentou a corrente, escancarando o portão com fúria descontrolada.
    Fechei os olhos por uns instantes, esfregando-os com as mãos. Não bastasse um vento tão forte seguir por uma trilha estreita, e, agora, fugindo a toda lógica, eu percebia algo inusitado. Ele havia parado. Uma árvore de porte médio ao lado se movimentava num vaivém... Como se o vento estivesse respirando ao seu lado?
     Sabia sobre tufões, furacões, mas nada sobre ventos que respiravam, parados. Aqueles acontecimentos aguçavam minha imaginação. Seria possível...?
     Doutor Nathan me chamou. Sem responder, pulei da cadeira e, num instante, estava no quarto. Todos acompanhavam, apreensivos, a minha visível ansiedade, ao segurar com força nas pequenas barras de ferro existentes na abertura de uns cinquenta centímetros da porta do meu quarto. A ansiedade era tamanha, que provocava, pela primeira vez, visões furtivas diante de meus olhos.
     “Como isso pode estar acontecendo comigo? Estarei por acaso enlouquecendo, como as pessoas citadas nos jornais?”.
      Viajando na velocidade de um raio, meus pensamentos descartaram a possibilidade de insanidade, e, principalmente, de paranormalidade, que sempre abjurei. Estava ficando catatônico, como alguns doentes que observara naqueles poucos dias ali. Ofegante, virei-me, perdendo o controle sobre meus olhos, que captavam imagens além do alcance normal.
    Conseguia ver tudo do lado de fora do recinto. Eu era aquele vento, parado, respirando. Segundos depois, retomei meu percurso, vindo em direção à instituição.
    Como vento, me sentia libertino, violento e misterioso. Passei pelo belo jardim à frente da instituição psiquiátrica, com pequenas árvores de um metro e meio de altura, floridas e podadas com formas arredondadas. Penetrei entre suas folhas com uma força descomunal, vasculhando seus recantos ocultos, e senti um imenso prazer ao curvá-las, seguindo em direção à grande porta principal.
     Mais violento, invadi o ambiente. A grande porta de duas bandas se abriu inesperadamente, causando um estrondo ao bater com força contra as paredes, assustando a todos no local. Espalhei os documentos empilhados sobre o balcão, fazendo voar uma chuva de papel. Dois atendentes correram e, depois de algum esforço, conseguiram fechar a porta. As luzes começaram a piscar, deixando iminente a possibilidade de ficarem às escuras.
     Como vendaval violento, eu continuava avançando pelas alas do prédio, arrancando os papéis dos quadros de aviso, e assustando os pacientes em seus quartos. Deixei uma trilha de medo e destruição por onde passava.
     Agora, como vento misterioso, intuía, estava à procura de algo... Ou alguém?
    Cheguei ao segundo andar. Os poucos quartos desse setor eram isolados por uma porta com grossas barras de ferro, seguida de outra, de ferro maciço. Eram reservados somente a presos, que deveriam passar por avaliações psiquiátricas. E só havia um paciente.
    − Paulo de Tarso, Paulo de Tarso!
     A Dra. Fernanda me chamava pelo nome, enquanto batia em meu rosto. Eu havia me ausentado por alguns instantes. Voltei a mim, procurando entender aqueles momentos. Enquanto vento, havia esquecido tudo: quem eu era, e onde estava. Respiração ofegante fiquei calado, voltando a segurar nas barras de ferro da porta, olhando fixamente para fora.
     Subitamente, a anteporta se abriu. Assustei-me, mas era outro enfermeiro.
    − Tudo bem por aqui? – ele perguntou.
    − Sim. Que barulho foi aquele? – perguntou a Dra. Fernanda.
     − Uma rajada forte de vento abriu a porta principal e espalhou pilhas de documentos. Deu um susto em todos nós.
    Respirei aliviado, enquanto pensava: “Aconteceu mesmo! Por instantes, interagi com o fenômeno da natureza, sendo o vento. Mas como isso foi possível acontecer?” – Seguiu-se outro pensamento assustador: “Por estar numa instituição psiquiátrica, seria a loucura algo contagioso?”
     Não, eu precisava ser lógico como sempre. A ausência de bom-senso é que deveria estar levando as criaturas do mundo a loucuras temporárias. Com certeza, era o que estava acontecendo com as pessoas ali internadas, que, sem poder explicar o que lhes ocorria, se desequilibravam, enquanto outras se calavam. Eu também deveria me calar.
    O enfermeiro se retirou, e ao cruzar a anteporta, recebeu uma rajada do vento frio e misterioso, que entrava naquele setor. Eu percebi pelo movimento em seus cabelos, suas roupas, e pelo gesto involuntário de encolher e esfregar os braços.
    Minhas mãos continuavam segurando com força nas pequenas grades de ferro, de dentro do meu quarto, que era o de número dezesseis. Finalmente o vento pareceu encontrar o seu destino, pois entrou pela abertura, agora como uma leve aragem fria. Meu corpo se arrepiou e me retraí, temendo aquele estranho contato, esfregando as mãos uma na outra.
     − Estão sentindo? De onde estará vindo este vento frio? – perguntei, surpreso, mas não houve resposta por parte de ninguém.
     Sem que eu, ou qualquer um ali percebesse, o vento foi subindo e se umidificando numa parte do teto, até se tornar uma leve neblina.
     Dr. Nathan parecia não se lembrar das minhas palavras agressivas de antes e continuou falando de forma tranquila, como nas sessões anteriores.
    − Paulo de Tarso, você tem consciência dos suicídios provocados após a leitura de seus artigos?
    − Se isso aconteceu, não foi minha culpa; foi mero acaso! – exclamei, sorrindo de maneira sarcástica, provocando o médico. Minha vontade era que todos saíssem dali, para ficar sozinho e pensar no ocorrido. E, dessa vez, consegui. Descontrolado, o Dr. Nathan se levantou da cadeira e, agressivo, respondeu aos gritos:
    − Mero acaso? Simplesmente acaso? Hoje em dia, vivemos momentos preocupantes. A sociedade, de maneira geral, está perdendo o controle sobre si; as mentes das pessoas parecem enfraquecidas pelas pressões sociais, desempregos − onde a violência desenfreada, os assaltos, assassinatos, estupros acontecem a todo instante. Ninguém precisava de fanáticos homicidas como você, entrando sorrateiramente em suas vidas, em suas casas, através do rádio, televisão e computadores, levando seus discursos pessimistas, incitando-os ao suicídio. Por que não acabou com a sua vida, antes de escrever aquelas matérias? Assim, não teria causado mal a tantas pessoas inocentes!
     Todos dentro do quarto se entreolharam, surpresos diante da atitude inesperada e das palavras ásperas proferidas por Dr. Nathan. Estaria ele perdendo também sua sanidade?
    Naquela época, eu estava revoltado e, especialmente naquele momento, desejava a todo custo ficar sozinho. Ao perceber o descontrole visível do médico, soltei uma gargalhada.
     Indignado com meu cinismo, Dr. Nathan deixou seu fichário cair no chão, partindo em minha direção. Segurou-me pela gola da camisa, tentando me enforcar. Os enfermeiros e o policial, sempre atentos, correram em nossa direção e, numa cena surreal, dominaram o médico, ao invés do paciente.
    − Natália, minha pobre filha! – balbuciou o Dr. Nathan em tom baixo, com a voz entrecortada pela dor. − Ela só tem quinze anos e está em coma há meses, após brigar com o namorado, e ler uma de suas reportagens num desses jornais sensacionalistas.
     Após esse desabafo, acalmou-se. Livre, pegou as anotações caídas no chão e tirou a foto da filha do bolso do jaleco.
    − Ela é uma menina linda, tinha um grande futuro à frente... Assassino! – disse, antes de sair do quarto, e ainda me empurrar. Caí sentado.
     Dra. Fernanda e os enfermeiros ficaram surpresos. Ela se desculpou, afirmando desconhecer − da mesma forma que os responsáveis daquela instituição − que a tentativa de suicídio da filha do Dr. Henrique Nathan fosse por aquele motivo.
    Um dos enfermeiros estendeu-me a mão, mas me recusei a levantar. Todos saíram do quarto.
     Fechei os olhos, esfregando as mãos seguidamente no rosto, tentando colocar as ideias em ordem. Quantas ocorrências em tão pouco tempo! A luz do quarto apagou-se, permanecendo acesas apenas as do corredor do lado de fora, e a do banheiro, onde a porta entreaberta fornecia uma claridade bruxuleante ao local.
     A neblina misteriosa do teto se espalhou sutilmente pelo quarto, o que me fez encolher por causa do frio inesperado.
Eu precisava organizar meus pensamentos sobre a estranha ventania vindo de longe numa trilha. A sensação de ter sido o vento por uns instantes, esquecendo-me momentaneamente de quem era e onde me encontrava não fazia sentido, por mais que buscasse respostas com base em tudo que já havia lido.
     Será que alguma nova doença estava enlouquecendo as pessoas no mundo? De tudo, apenas duas respostas eu sabia. Uma era em relação à minha carreira, e também ao descontrole do Dr. Nathan. Num momento extremo de minha vida, escrevera algumas páginas, jogando fora minha carreira de jornalista. O médico, igualmente, com suas atitudes, teria colocado fim à sua carreira psiquiátrica.
Estremeci ao compreender que homem algum no mundo possuía mais controle sobre sua vida, quando colocado diante de certas tensões. A animalidade, era a nossa maior defesa.
    Avistei e peguei a foto da filha do Dr. Nathan caída no chão. Levantando a mão, busquei um pouco mais de iluminação. Observei uma jovem loira, de rosto bonito e sorriso alegre. Enxuguei umas poucas lágrimas que rolaram dos meus olhos; em seguida, rasguei a foto ao meio com raiva, atirando-a para longe. O frio aumentava dentro do quarto. Levantei, tateando as paredes, até chegar à cama. Peguei o cobertor, enrolando-me no mesmo, e comecei a andar de um lado para o outro, tentando a qualquer custo entender os últimos acontecimentos.
    A escuridão no ambiente ficou mais densa ainda. Assustado, abria e fechava os olhos. O que poderia estar acontecendo? Comecei a ouvir o som forte de outra respiração dentro do quarto, que fez meu corpo se arrepiar. Estava aterrorizado diante do desconhecido.
     A respiração continuava próxima, até sussurrar meu nome:
    − Paulo... Paulo!
     Eu olhava para um lado e para outro em pânico. Não havia ninguém ali dentro. Estaria sendo vítima de uma vingança?
    − Não adianta! Vocês não me assustam. Não vão me enlouquecer! – gritei.
     Quanto mais eu falava, mais ficava apavorado, e mais assustadora se tornava a atmosfera. Um espectro começou a se formar à minha frente.
Diante daquela visão, perturbei-me totalmente, gritei mais alto, enquanto socava a porta de maneira descontrolada.
    − Socorro! Socorro!
    Um dos enfermeiros, que estivera minutos antes no quarto, chegou
acompanhado pelo policial encarregado de minha segurança. Acendeu a luz do lado de fora, iluminando o recinto e perguntou:
    − O que está acontecendo com você?
    Tentei controlar minha respiração, ofegante, enquanto observava que ao meu redor estava tudo normal. Como era possível? Perturbado pela situação estranha vivenciada, retomei minha arrogância e, apesar da voz trêmula, respondi:
     − Não vão conseguir me enlouquecer, sou mais esperto que vocês.
     O enfermeiro, o policial, assim como tantas outras pessoas, tinha restrições a meu respeito. Afinal, fora indelicado durante todo o processo de meu julgamento. Minha justificativa pessoal: eu era inocente.
     − Do que está falando? – perguntou bruscamente o enfermeiro.
     − Não se façam de desentendidos. Sei que querem me assustar com vozes e vultos aqui dentro do quarto − respondi, cheio de ódio. − Seus farsantes... Ainda desmascaro vocês! − Sob tensão, não conseguia falar de forma amigável.
    Irritado, o policial cortou meu raciocínio, avançando sobre as grades, irado.
    − Se não ficar quieto, olha o que te espera! – retrucou, dentes cerrados em desprezo, enquanto levantava a mão com os punhos fechados.
    Eles apagaram a luz do quarto, que tinha o interruptor do lado de fora. Antes de fechar a anteporta, o policial me disse:
    − Talvez esteja vendo os fantasmas daqueles que se suicidaram por sua causa. Enfrente-os: eles pertencem a você.
    Tudo voltou a ficar diferente dentro do quarto. A escuridão, o vento frio, a outra respiração e os sussurros recomeçaram, acompanhados por pequenos estampidos, que vinham de diferentes locais.
    − Paulo, te aquieta... – era a voz, que falava ora de maneira normal, ora sussurrada. − Eu preciso de ti...
    Estaria vivendo, de fato, algo sobrenatural? Não, minha concepção de vida não aceitava tal fato. Minha razão cobrava incredulidade para o que via: mas, se não era algo sobrenatural, então, estaria enlouquecendo como tantas pessoas no mundo?
    Meus sentidos estavam mais aguçados do que nunca. Meus gritos saíram roucos, sufocados pelo medo. Joguei-me no chão, arrastando-me por uns instantes. Depois, encostado à parede, levantei-me. Descontrolado, me descabelava, enquanto meus olhos, moviam-se rápido e de maneira desordenada. Sobressaltado, comecei a respirar com dificuldade: estava sufocando. Aceitar aquele fato era algo aterrorizante.
    Estava prestes a sofrer um ataque de nervos, e perder de fato a sanidade; minhas forças pareciam se esvair. Precisava manter a lucidez, mas não lembrava meu próprio nome. Escorreguei devagar as costas pela parede, sentando-me no chão. Minha cabeça tombou para o lado direito, enquanto fazia força para que os olhos permanecessem abertos. No meio do quarto algo parecia estar surgindo, em meio a fagulhas brilhantes.
...


Participe da comunidade: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=24634071   e concorra a um a um livro grátis. Participação Nacional & Internacional  



Proibida a reprodução, total ou parcial do texto, sem previa autorização dos autores.
Informações: harpasagrada@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário